“Se os autores do genocídio estiverem cá, vamos procurá-los”
- ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique em exclusivo ao Canalmoz
Governo ruandês mandou retirar das mãos de Guebuza a carta credencial do seu representante diplomático
O ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique disse ao Canalmoz que não há nenhuma crise, considerando “normal” o cancelamento da creditação do diplomata ruandês. Oldemiro Baloi disse ainda nessalinha que “se os autores do genocídio estiverem cá, vamos procurá-los.”
Está aberta uma crise diplomática entre os governos de Moçambique e do Ruanda. As relações político-diplomáticas entre os dois países africanos estão num momento cinzento, devido à alegada existência, em Moçambique, de supostos autores do genocídio ruandês de 1994, em que parte deles ter-se-ia refugiado no nosso País, encontrando-se neste momento a residir no Campo de Refugiados de Maratane, arredores da cidade de Nampula.
A situação levou a que o Governo de Kigali ordenasse a retirada de carta credencial do seu agente diplomático, Ignatius Kamali, que era enviado a Moçambique. De acordo com agências internacionais de notícias, quando o executivo de Kigali ordenou o cancelamento da acreditação do seu agente diplomático em Moçambique, o mesmo já se encontrava no País, prestes a entregar a sua carta credencial ao estadista moçambicano, Armando Emílio Guebuza.
Oldemiro Baloi confirma incidente mas nega crise diplomática
O Canalmoz ouviu o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Baloi, que confirmou o incidente diplomático, tendo recusado, no entanto, que se trate de uma crise diplomática entre os dois países da África Subsahariana.
“(O Governo da Ruanda) mandou retirar a carta credencial, mas não se trata de nenhuma crise, é normal nas relações diplomáticas os países cancelarem a creditação dos seus agentes”, disse o ministro.
Entretanto, Oldemiro Baloi confirmou ainda que o executivo de Ruanda mandou cancelar a acreditação do seu representante em Moçambique “devido à alegada existência de supostos autores do genocídio” em campos de refugiados em Moçambique.
Quanto ao que Moçambique irá fazer para restabelecer um relacionamento diplomático afável com aquele País da região dos Grandes Lagos, Baloi disse que “se estiverem cá (os autores do genocídio) vamos procurá-los”.
Benvinda Levy mandatada para Ruanda
Entretanto, a edição online da VOA, estação radiofónica norte-americana escreveu, na última quarta-feira que o chefe do Estado moçambicano, Armando Guebuza, mandatou a ministra da Justiça, Benvinda Levy, a Kigali, para se encontrar com o presidente ruandês, Paul Kagame, para lhe entregar uma carta.
“Armando Guebuza mandou a Ruanda a sua Ministra da Justiça, Benvinda Levy, que apresentou em mão ao chefe de Estado ruandês uma carta do presidente moçambicano com o objectivo de tentar esclarecer a situação de alegados criminosos ruandeses em Moçambique, uma posição que tem vindo a ser sustentada pelo governo de Kigali”, lê-se no site da estação radiofónica americana, que refere que a ministra moçambicana da Justiça esteve em Kigali na derradeira segunda-feira.
“Durante o encontro, a governante moçambicana entregou uma mensagem do estadista moçambicano e repetiu a vontade expressa pelo Executivo do seu país em colaborar com os ruandeses, deixando claro que tal colaboração terá de ser feita sempre dentro da lei, do espírito das regras e procedimentos internacionais”, lê-se no site da VOR (“Voice of America”).
O genocídio de Ruanda
Em Abril de
Em Ruanda existe dois grupos étnicos, a maioria hutu e o grupo minoritário de tutsis. Desde a independência do país da Bélgica, os seus líderes sempre foram tutsis, num contexto de rivalidade étnica agravada com o tempo devido à escassez de terras e à fraca economia nacional.
O Governo de Ruanda procura supostos autores desse genocídio em Moçambique, entretanto, sabe-se que entre Moçambique e Ruanda não existe acordo de extradição, daí que seria difícil, legalmente, o repatriamento dos supostos criminosos ruandeses, por mais que se encontrem escondidos em Moçambique, de facto. (Borges Nhamirre)
CANALMOZ – 18.12.2009