As mãos jovens dela: carpiram, semearam, colheram mandioca, feijão, milho e tomate cerejas. Tiraram leite de vaca no sertão, cuidaram das sobrinhas, cozinharam em fogão a lenha, limparam o chão batido da casa paterna.
Migraram as suas mãos do Nordeste para o Centro-Sul para limparem mais casas, lavarem uniformes de peões, cozinharem para muitos deles e de quando em vez acarinharem a barriga que inchava.
Daí as mãos dela encontraram outro par de mãos que construíam estradas e dirigiam caminhões gigantes. E essas quatro mãos resolveram encarar desafios de manter o abraço ao invés de se estapearem: ergueram família.
Por vezes, a mão pesada do pai caía sobre o bumbum levado do filho, mas afora alguns excessos tudo era visto como justiça paterna. As mãos de leveza da mãe nessas horas afagavam e blasfemavam contra a violência se fosse desmedida.
Essas mãos maternas sempre estiveram presentes em nossas vidas. Mãos calejadas, quase analfabetas, mas que conhecem a linguagem do amor, não aquele piegas, mas aquele que acolhe, integra, corrige, afaga, faziam fantasias para a festa da escola e reciclavam roupas para os filhos antes mesmo da moda da costumização.
E quando as mãos larápias da do meio fizeram um rombo nas contas das mãos maternas calejadas, perdendo completamente o senso, o juízo, a noção, as mãos dos irmãos mais velhos de dedos em riste condenaram o ato, romperam o abraço e excluíram.
As mãos maternas enxugaram lágrimas de tanto sofrimento: são mãos calejadas de empurrar cadeira de roda do quarto filho que agora se migrou para o seu próprio mundo e por não compreender a compulsão das mãos da do meio que consomem sem responsabilidades e se enredam em vergonha de não honrarem o nome da dona das mãos e arrastarem o das mãos maternas calejadas.
E foram as mãos fraternais do caçula, que agora embalam o mais novo rebento da família, que pediram solidariedade, afeto, compreensão. As mãos operárias dele se uniram as mãos calejadas da mãe e lembraram que Natal sem perdão é só um monte de comida na mesa e nenhuma oração.
Brasil, Conceição Oliveira