NO MEIO DE FORTES INTRIGAS TRIBAIS NO SEIO DA ZANU-PF
XAVIER DE FIGUEIREDO *
A mensagem final do actual Presidente do Zimbabué e líder da ZANU-PF, Robert Mugabe, ao congresso do seu partido realizado semana passada foi esclarecedora no que concerne ao futuro das negociações relacionadas com a aplicação das questões em disputa sobre o governo inclusivo, agora intermediadas por Jacob Zuma, PR da África do Sul.
Para além de ter declarado que Zuma deveria ter “muita paciência”, o ainda PR do Zimbabué vaticinou que as negociações não conhecerão progressos enquanto:
- Não houver levantamento das sanções contra o seu partido.
- Não cessarem as emissões que considera serem de “rádios-pirata” hostis, baseadas no Botsuana e na África do Sul.
- Continuar a haver financiamento ocidental a “estruturas paralelas” do Governo
inclusivo (subentendidamente, o MDC-T).
Na mesma linha com que tentou, assim, serenar um congresso marcado por acesas disputas e acusações entre facções, Mugabe reafirmou uma pretensa identificação entre as forças de defesa e segurança do país e a ZANU-PF, a cuja subordinação continuarão submetidas, conforme enfatizou.
2. No que diz respeito ao congresso, per si, pouco se discutiu e decidiu, depois de a liderança do partido ter constatado existir um clima agitado à volta das eleições internas que decorreram nas províncias, as quais foram marcadas pela imposição de candidatos integrantes do futuro Comité Central e pretendentes ao seu Presidium.
Logo no início do congresso o líder de Manicaland, Basil Nyabadza, demitiu-se por considerar que os manykas tinham sido excluídos do Presidium para melhor ganhar os ndebeles por acréscimo da imposta escolha de John Nkomo, agora vice-Presidente.
Antes, já haviam ocorrido manifestações semelhantes por parte dos líderes de Harare, Masvingo Midlands e Mashonaland Ocidental.
O congresso reavivou a antiga ferida tribal entre karangas e manykas, com a gravidade de os opor a zezuros e ndebeles, que agora ocupam todos os lugares do Presidium.
Com efeito, Robert Mugabe e Joyce Mujuru são zezurus, enquanto John Nkomo
(2º vice-Presidente) e Khaya Moyo (novo Presidente da Mesa) são ndebeles.
O demitido Basil Nyabadza chegou mesmo a emitir um comunicado no qual abertamente agita esta questão, indicando que a sua tribo, juntamente com os karangas, tinham tido papel preponderante na luta pela independência e, como tal, sentiam-se excluídos do poder no partido, governo, exército, força aérea e funcionalismo público.
De modo a evitar que o debate interno no congresso expusesse a grave crise por
que passa a ZANU-PF, o Presidium decidiu adiar as previstas reformas da sua constituição, que incluem a alteração da metodologia eleitoral, para futuras reuniões do seu Comité Central.
O regresso de Jonhatam Moyo
Emmerson Mnangagwa, o actual ministro da Defesa, que entrou no congresso como perdedor na sua disputa com Joyce Mujuru, remeteu-se a um papel de quase observador.
Sabe-se, porém, que juntamente com o recém “recuperado” Jonhatam Moyo, antigo ministro da Informação e líder da rebelião Tsholotso, está a animar um movimento dissidente caso a questão da substituição de Mugabe continue adiada.
O principal argumento que usam é o de que o acordo com as duas formações do MDC prevê que em caso de morte ou invalidez do actual PR a sua substituição tem de recair em alguém indicado pela ZANU-PF. Outra contestação que alimentam relaciona-se com um alegado plano da ZANU-PF de arrecadar um milhão de dólares norte-americanos com a venda de cartões do partido a USD 1 cada um e o seu departamento de finanças só ter apresentado a diminuta quantia de USD 675 ao congresso.
* in Africa Monitor
CORREIO DA MANHÃ – 17.12.2009