Canal de Opinião: por Hilário Chacate
Brasil, um País da América Latina, foi colonizado por Portugal. Índia, um País asiático, foi colonizado pela Grã-Bretanha e Portugal. Austrália, localizado no continente oceânico, foi colónia britânica. E Moçambique é um País africano que foi colonizado por Portugal. Estes países exemplificam de uma forma expressiva que nenhum continente no mundo escapou da colonização europeia, baseada nos pressupostos maquiavélicos, hobbsianos e darwinianos.
Muitas das ex-colónias europeias, após terem alcançado as suas independências conseguiram traçar objectivos que lhes permitiram chegar a um desenvolvimento significativo. Contudo, África continua a ser o continente mais pobre do mundo. Perante esta constatação, que é do conhecimento de quase todos nós, urge reflectir sobre as razões do fraco desenvolvimento do continente africano.
Inúmeras são as respostas que podem explicar a pobreza da África, mas nesta reflexão trago uma abordagem diferente no que concerne as causas deste fenómeno.
Além das inúmeras respostas que já foram dadas por vários pensadores sobre o assunto em discussão, a ausência da “liberdade de pensar” em África é a razão principal do lento, ou talvez ausente desenvolvimento do nosso continente.
Na antiguidade clássica, os gregos já se afiguravam como grandes pensadores em áreas diversas, com destaque para o conhecimento filosófico. Os avanços científicos foram se assinalando duma forma significativa até a idade média. Com a centralização do poder nos líderes católicos, onde todo o pensamento era condicionado pelos preceitos do Vaticano, o desenvolvimento científico, em particular, e o desenvolvimento em várias áreas do saber ficou estagnado.
Quando alguns espíritos invulgares (renascentistas) se aperceberam da perigosidade de ausência de liberdade de pensar, criaram uma ruptura entre o sobrenatural e o natural, colocando em causa o Sistema Vaticano. É neste contexto que surge o antropocentrismo. Estimula-se o pensar sem limites, as descobertas científicas, o gosto pelas artes e muitas outras maneiras de pensar se destacaram neste período.
O pensamento humano cresceu significativamente, tendo atingido o seu auge no século XVIII com a contribuição dos iluministas às revoluções agrícola e industrial.
Em África as ideias dos pensadores são condicionadas pelos vários sistemas, sobretudo, os políticos, todo o pensamento tem que ser dentro dos parâmetros sistémicos pré-estabelecidos. Quem pensa diferente é visto como agitador, inimigo do bem-estar do povo. Não se pode extravasar para além do que se pensou, não se pode questionar o que os mais velhos definiram como certo ou errado, o que os políticos fazem ou deixam de fazer.
Caro leitor! Quantas vezes teve opinião, questões, mas preferiu se conter por receio de represálias ou de ser conotado como inimigo do sistema? É muito comum ouvir na nossa realidade, jovens assim como adultos dizendo, estou com muitas ideias, porém não posso proferi-las, ainda sou muito novo, ainda quero garantir o meu futuro, o meu pão, ou por receio disto e aquilo.
A caminhar desta maneira, distanciamo-nos dos pressupostos do desenvolvimento e nos aproximamos da estagnação. É pouco provável que a sabedoria prevaleça se não formos capazes de ir além dos quadros sistémicos criados, e mentais concebidos. É de lamentar que hoje em dia, em África, só a utopia é que é razoável.
Depois deste debate, pode-se chegar a várias conclusões, mas quero destacar que nenhuma sociedade na história da humanidade se desenvolveu sem antes potenciar a razão, o pensamento, o debate ou ciência. Por isso, África, enquanto não der liberdade de pensar aos seus concidadãos, não terá possibilidade de se desenvolver. Tenhamos em mente, e lembremo-nos sempre da afirmação de Carl Sagan, ao dizer: “É preciso dar a palavra aos cientistas, porque a ciência tem respostas, desde que os políticos queiram ouvi-las”.
(Hilário Chacate) - CANALMOZ - 31.12.2009