O que me trouxe de volta à memória esta asserção de Chomsky, contida nesse seu livro que numa tradução livre seria “Hegemonia ou Sobrevivência”, é a ameaça de alguns membros do G19, divulgada por um semanário da praça, de que poderá cortar, a partir do próximo ano, a ajuda financeira a Moçambique, a menos que o actual (?) executivo, ou que o Presidente reeleito, Armando Guebuza, irá formar no próximo ano, não venha a aceitar as exigências que estes parceiros (?) interpuseram agora, para que sejam postas em prática por esse seu futuro executivo. Quer dizer, é um TPC antecipado, para um Governo desconhecido e cujas intenções e agenda se desconhecem também.
Tudo indica que terá sido esta reiterada opção democrática da maioria dos moçambicanos de terem apostado de novo e fortemente na mesma Frelimo e no mesmo Guebuza nas últimas eleições gerais realizadas a 28 de Outubro passado que agora se levanta barreiras. Agora está mais do que claro que esta sua opção não agradou somente a alguns sectores internos, mas também a externos que, diga-se em abono da verdade, tem como agravante o facto de estarem a viver e conviver connosco aqui no Pais, daí que tudo têm feito para influenciar as suas capitais para nos colocarem na lista negra quando, até pelo menos Setembro último, vínhamos recebendo a sua ajuda normalmente, para já no meio de renovados elogios e promessas de se aumentar cada vez mais pelos anos que viriam com os tempos.
No rol de questões que alguns membros do G19, aliás, que os seus embaixadores aqui advogam como sendo o pomo de discórdia que os coloca em colisão com o actual executivo moçambicano e, por inerência incrível, com o que o irá suceder a ele no trono já em 2010, destaca o que considera ser erros de governação, combate simbólico e não sério à corrupção, males estes que, segundo eles, vieram ter como catalisador máximo, aquilo que consideram como tendo sido uma maneira menos correcta na organização e realização das últimas eleições gerais que tiveram lugar no país a 28 de Outubro.
Este posicionamento está a suscitar todo o tipo de comentários e conclusões, sendo nota dominante que o que na verdade está por detrás desta mão dura dos chamados parceiros de Moçambique, a hipótese de que o partido da sua eleição nestas eleições não ter sido preferido pela maioria dos eleitores moçambicanos. Quase todos os analistas convergem nesta conclusão e acham que é sobretudo por causa disso que agora o G19 agita as tais barreiras de que fala Chomsky, e que poderão agora envenenar o donativo que os moçambicanos têm estado a receber. Como sempre em política, estes embaixadores do G19 farão tudo para não dizer o que de facto lhes vai na alma, que seria reconhecer que o pecado mortal dos moçambicanos foi terem voltado a votar na Frelimo e em Armando Guebuza. Todo aquele que se deu tempo e atenção mínima para acompanhar a parte embrionária desta grande “mhaka” que divide o executivo moçambicano e parte do G19 – facilmente chegará à mesma conclusão de que foi no momento pré-eleições que tudo começou e que tudo o que se possa dizer agora como causa, são apenas novas vestes e cores para um mesmo e único problema : o famoso factor inclusivo que passa por cima da Lei, e que é por isso que os moçambicanos poderão ser alvos de sanções económicas, para que sintam a dor das carências, e por essa via, passem a ser “mais democratas” e encarem a Frelimo e os seus dirigentes não como os “bons da fita”, mas sim, algo ruim. Assim esperam os mentores desta estratégia de pôr freio à assistência do G19, porque entendem que as suas doações contribuem para a boa imagem da Frelimo, dado que é com parte do dinheiro que doam que faz com que os governos da Frelimo construam escolas, pontes, estradas, hospitais e outras infra-estruturas que permitem que esta Frelimo cumpra sempre o que promete. Foi na fase prê-eleitotral que este Grupo começou a exibir os seus músculos e deixou muito claro que para ele as eleições que iriam ter lugar a 28 de Outubro passado agora, nunca seriam do seu pleno reconhecimento, e muito menos aplaudiriam o seu resultado, se o MDM não concorresse em todo o país, independentemente das regras da Lei eleitoral.
Para este Grupo, ou para os mais poderosos ou influentes deste Grupo, o MDM tinha que concorrer em todo o país, independentemente de ter ou não se organizado para isso, daí que os seus embaixadores tenham tentado, à última da hora, forçar o adiamento destas eleições e levar o governo a reconvocá-las para uma data a-posterior.
Estas eleições só não foram adiadas porque o governo de Guebuza fincou firmemente o pé, valendo-se, para tal, não da força, mas pelas evidências a todas as luzes irrefutáveis, de que a exclusão parcial decretada pela CNE contra o MDM e certos outros partidos não tinha outros culpados que não o próprio MDM e outros que haviam sido excluídos também. Havia provas de que a CNE agiu apenas e, inevitavelmente, como aquele professor que dá nota negativa a um aluno, em função das más respostas que ele fez, e não por falta de vontade de o deixar passar.

INCONGRUÊNCIAS DOS EMBAIXADORES
Uma análise fria e profunda deste problema leva-nos a concluir que o pomo da discórdia não se funda no que se diz no documento que os representantes do G19 em Maputo interpuseram em nome dos seus países, mas sim no facto de que há, entre esses representantes do G19 aqui em Maputo, aqueles que nutrem uma repulsa pela Frelimo e seus dirigentes, e que, por isso, bem gostariam que os moçambicanos tivessem optado por uma outra formação política.
Este é o problema de facto, e não vale a pena alegar que estão a ser pressionados pelas suas capitais. Se o estão sendo, o problema continua sendo dos seus representantes, porque certamente não terão reportado a desmedida ambição e grande desorganização dos partidos excluídos. Se o tivessem feito de forma completa, verdadeira e isenta, e se tivessem dito que já se começou a sério o combate à corrupção, e que até há entre os cerca de 60 detidos alguns ministros e Presidentes de Conselhos de Administração PCA’s já em julgamento, nunca podiam estar sob pressão alguma.
Portanto, tudo o que dizem é apenas para não dizer que não gostam da Frelimo, daí que optem por recorrer a alegações infundadas.
Não faz sentido nenhum que membros do G19 ou, já agora, que aqueles que no seu seio se valem do nome deste Grupo para tentar realizar os seus tristes intentos, estejam a colocar condições prévias para um governo ainda não composto.
Não pode ser sensato e muito menos aceitável que se ameace um governo que ainda não existe. Será que o G19 colocaria mesmo, o mesmo ultimato, caso o vencedor destas eleições tivesse sido outro partido? Os membros do G19 que assim agem não buscam harmonia neste país e correm o risco de ser vistos pelos moçambicanos como os obstrutores da cooperação, uma espécie dum colonialismo que só usava a linguagem da ameaça e a própria força no seu relacionamento com os moçambicanos.
Numa parceria genuína, que se insere, portanto, na cooperação entendida como sendo um processo de ajuda mútua ou de dar algo para receber algo em troca, não se pode nunca recorrer a uma linguagem ameaçadora e muito menos chantagista.
A cooperação deve ser de facto um acto de dar a alguém o que se tem para se receber deste o que ele também tem em abundância, como bem o definiu o lendário antigo presidente egípcio, Abdel Gamal Nasser.
Ora, se de facto os membros do G19 entendem que é isto o que está a acontecer no seu relacionamento com os moçambicanos, então não podem ameaçar aquele de quem tem recebido algo em troca do que lhe tem dado. Na verdade, não há nenhum país neste mundo, por mais poderoso e rico que seja, que se limita a dar aos outros sem que tenha algo a receber daqueles a quem dá. Tanto é que, estudos de todos os tempos feitos por especialistas em economia mundial e trocas comerciais entre países mostram que as doações que as nações ocidentais têm enviado aos do Terceiro Mundo, como Moçambique, não são mais do que uma devolução mínima das imensuráveis riquezas que essas nações ocidentais exploram a preços de banana nessas terceiro-mundistas.
Só para se ter uma ideia. As fábricas ocidentais que têm produzido automóveis luxuosos que depois nos têm vendido a preços de ouro, 75 porcento da matéria-prima com que os produzem extraem ou importam dos países africanos a preços de banana. Assim dito, não faz sentido que nos tratem como vassalos e muito menos como pessoas que não sabem o que querem. O G19 está sendo levado a tentar fazer o mesmo por alguns dos seus membros mais radicais e que são contra as opções democráticas dos moçambicanos.
- Gustavo Mavie, da AIM