A EXPLOSÃO demográfica da população animal no Parque Nacional da Gorongosa (PNG), em Sofala, está a ser manchada pela caça furtiva praticada em grande escala pela comunidade que vive dentro e fora desta reserva do Estado, com recurso a laços, armas de fogo de fabrico caseiro e armadilhas à venda nos estabelecimentos comerciais. Consequentemente, já se registam algumas detenções de infractores, numa altura em que a situação alcançou níveis descritos, pelas autoridades administrativas desta estância, como sendo bastante alarmantes.
Ocupando uma área de aproximadamente 3770 quilómetros quadrados, com um universo de cinco mil pessoas vivendo no interior do parque e outras 120 mil na zona-tampão, exactamente nos distritos de Cheringoma, Muanza, Nhamatanda e Gorongosa, cuja principal fonte de rendimento está directamente ligada à prática desta actividade clandestina.
O facto, segundo Mateus Muthemba, Director de Relações Comunitárias daquela área de conservação, chega mesmo a contribuir negativamente para o desenvolvimento da fauna, com o registo de leões amputados. Trata-se de um problema apontado como complexo e antigo, que se relaciona com factores sócio-culturais e históricos de difícil solução considerando que o mesmo remonta dos primórdios da criação do parque, na década de 60.
Por este motivo, reduzem-se várias espécies de pequeno e médio porte, sendo que as estatísticas actualizadas apontam para o registo de mortes anuais de pelo menos 3 500 animais como porcos selvagens, vulgo fucoceros, changos e pivas, cuja carne é transportada a cabeça e em bicicletas para consumo e venda.
A caça furtiva pratica-se em grande dimensão entre Setembro e Dezembro nas regiões de Gorongosa, Pedreira e Massapassua, no distrito de Muanza, Dingue-Dingue, em Nhamatanda.
A fiscalização do parque desenvolve esforços com vista à redução da situação com base na apreensão das armadilhas que também acabam ferindo o próprio Homem. Para o chefe deste sector, Adolfo Ruço, este ano foram recolhidos 164 cabos de aço, sete armadilhas e duas armas de fogo de fabrico caseiro, localmente conhecidas por “canhangulos”. Mensalmente é detida uma média de oito furtivos.
As actividades realizadas na mesma componente no ano passado por 120 fiscais existentes e distribuídos pelos 21 postos de vigilância do parque resultaram na recolha de 475 laços, 20 “canhangulos” e capturados 152 prevaricadores.
Entre Janeiro e Agosto passados, 64 indiciados foram responsabilizados pelo Tribunal Distrital de Gorongosa a pagarem multas e a cumprirem penas de prisão que variam de 30 a seis meses de encarceramento, entretanto convertidos em trabalho a favor do parque.
A carne confiscada na posse de alguns transgressores, por ser naturalmente perecível, é posteriormente doada as unidades sanitárias e outras instituições sociais circunvizinhas.
- Horácio João