Confirmo em grande parte a história de Álvaro Teixeira. Não conhecia, porém, a história do furriel Pedro Câmara. Mas Boaventura Pomba das Dividas e o seu companheiro Daniel, cujo nome completo não vou dar aqui por este ainda parecer estar vivo ou estar a viver algures em Moçambique. Eles desertaram do exército português, não se renderam. Recebi Boaventura e Daniel na minha casa em Nairobi. Ajudei lhes com comida e outras despesas e ajudei-lhes financeiramente para irem a Etiópia. Boaventura e Daniel, que não tinham respeito pela maneira de combater dos guerrilheiros da Frelimo, disseram me que tinham desertado do exército português. Em Nachingwea, Samora Machel acusou-os de terem sido enviados pelos portugueses para matá-lo. Daniel e a sua radio-transmissora do Exercito Português apareceram num jornal tanzaniano, acusados que querer matar Machel. Mas como verdadeiros militares, conseguiram sair da Tanz ânia e chegaram em Nairobi. Quanto ao malogrado Inácio Chondzi, ele viveu comigo na mesma casa em Nairobi antes de ir a Etiópia e depois para Portugal, onde talvez tornou-se num agente da Frelimo talvez por razoes financeiras. Antes daquilo, ele era um pleno revoltado contra a liderança da Frelimo. Ele combateu em Tete e estava destacado para proteger o Segundo Congresso da Frelimo em 1968. Foi ele que em Nairobi me deu detalhes sobre a dispersão do congresso e os intensos ataques aéreos portugueses contra o local, embora já tivesse ouvido em Tanzânia muita e toda a coisa sobre a derrocada do congresso em virtude da intervenção aérea portuguesa na mesma semana que o acontecimento tomou lugar.
UmBhalane tem razão de dizer que há diferença entre a palavra rendição e deserção. Rendição é quando alguém está derrotado e levanta os braços ou vai ao seu inimigo com a bandeira branca e diz: sim estou derrotado e rendo-me. Deserção é quando alguém deixa o exercito por razoes de dissatisfação ou vai algures ou mesmo ao seu inimigo, como foi o caso do Arrancatudo, comandante destemido da Frelimo que depois de desavenças com os seus colegas foi ao lado dos portugueses a quem deu segredos sobre as bases da Frelimo no Niassa, o que permitiu a Forca aérea portuguesa levar acabo ataques devastadores contra as bases da Frelimo, de acordo com Chico Almeida, comandante da Frelimo falando ao autor no campo de refugiados de Rutamba no sul da Tanzânia. De acordo com Almeida, Arrancatudo viria a morrer numa emboscada da Frelimo quando estava numa coluna militar portuguesa que regressava dum ataque a uma base da Frelimo no Niassa. Almeida disse-me que Arrancatudo, natural da Zambézia, recebeu um tiro de bazooka no peito e foi o fim dele. Um pouco sobre o Arrancatudo -- na noite do dia 3 de Março de 1968, Arrancatudo veio nos atacar no Instituto moçambicano em Dar Es Salaam. Enquadrado numa unidade de bandidos que incluíam Samora Machel, Joaquim Chissano, Aurelio Manave e outros. Os terroristas forçaram nos dos dormitórios a pontapés, porradas, socos e gritos impiedosos. Em menos duma meia hora, nós os estudantes passamos mal, humilhados e forçados a alinhar no pátio do instituto. Nesta meia hora, o mundo tinha parado para nós e eu não sabia se muitos de nos havíamos de viver ou sobreviver visto que os terroristas estavam armados aos dentes com pistolas que levavam até 12 balas cada. A razão do assalto: a revolta dos estudantes contra a liderança do Mondlane e a razão imediata foi visto que Daniel Chatama tinha batido a bem bater Xadreque, um agente da Frelimo no seio dos estudantes. Marcela, um agente dos lideres que veio a ser a esposa do Chissano, telefonou ao seu amante quando Chatama disciplinava Xadreque contra o seu Pide-ismo. Xadreque, Chissano e Chatama tinham sido treinados juntamente pela KGB na União soviética. Quando o grupo dos terroristas se aproximava, um Pedro Kufa (nome da familia não verdadeiro visto que este homem vive na África) gritou em Sena para alertar o Chatama que era o objectivo numero 1 dos terroristas, dizendo: Chissano alikudza, Chissano alikudza (lá vem o Chisssano, lá vem o Chissano).... Como possuído por espíritos, Chatama removeu a janela do seu quarto e saltou pela traz e meteu-se a correr a esquadra da policia onde alertou a policia que o instituto estava sendo invadido por líderes da Frelimo. Num abrir e fechar de olhos, a policia tanzaniana esteve no lugar. Um oficial da policia prendeu o terrorista Chissano que disse em ingles: "I am a Frelimo leader." O official larga-o e agarra-se no terrorista Machel pela barba. Machel, que não sabia inglês, mas podia entende-lo tendo vivido como mineiro na África do Sul onde fora tsotsi (bandido) disse a Chissano: "diga-lhe também que sou dirigente da Frelimo." "He is a Frelimo leader too," disse o bandido Chissano. Então o oficial da policia largou-o também. Mal largados, os dois terroristas desapareceram da cena com gazelas escapadas dum assalto de leões. Arrancatudo e os verdadeiros militares tinham desaparecido quando viram a policia a vir. Nos dias que seguiram, os terroristas Chissano e Machel tiveram que ir comparecer na policia para explicarem o acontecimento. Samora levou um homem de nome Issa que ao interpretar de Samora Machel à policia, dizia o contrário em Swahili do que Machel dizia em pretoguês. Depois daquilo, Issa cavalgou de Dar Es Salaam, sabendo que Machel havia de matá-lo por tê-lo mal interpretado e incriminado na policia. O bandido e terrorista Aurélio Manave, comprido e maciço, que soava massivamente a toda a hora, não teve a mesma agilidade como os outros. Ao aparecimento da policia, ele foi se esconder na palha por debaixo dum coqueiro, mas nós o desenterramos daí e a policia deu aos estudantes plena liberdade de agir contra eles. Assim porradas, pontapés, cuspes choveram contra o terrorista que a policia algemou. E alguém mesmo mijou no Manave. Foi assim marchado enquanto os estudantes o batiam até a esquadra da policia, onde foi devestido, deixado só de cuecas e chamboqueado até que grunhiu com ranho a lhe sair copiosamente das narinas. Um policia mostrou ao grupo dos estudantes, que gritavam que a justiça fosse feita ao malfeitor, uma pistola que tinha retirado do Manave. Desarmada a pistola, a policia removeu 9 balas, faltavam 3 balas, o que quer dizer que o terrorista tinha disparado três balas que não atingiram a ninguém. Março de 1968 foi o apogeu da revolta contra a liderança de Mondlane, Chissano, Machel e os demais dirigentes. Dentro em dias lerão aqui os leitores sobre o assalto ao escritório da Frelimo por um grupo de homens e mulheres macondes, armados de catanas, varas, cornos, no dia 11 de Março de 1968. Uma das mulheres levava o seu bebé atrás da sua coluna.
Francisco Nota Moisés
Veja http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/01/frelimo---mais-revela%C3%A7%C3%B5es-do-inferno-4.html