Na última fase, que se prolongou por 13 anos, estiveram no Tarrafal 238 combatentes da luta pela independência das colónias portuguesas.
O governo de Cabo Verde está a preparar a apresentação à Unesco da candidatura do ex-Campo de Concentração do Tarrafal, no norte da ilha de Santiago, a Património Mundial da Humanidade.
De acordo com declarações do presidente do Instituto de Investigação e Património Cultural (IIPC), a documentação do sítio histórico, já Património Nacional de Cabo Verde, será entregue à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), para apreciação em 2011 ou 2012.
As autoridades cabo-verdianas pretendem instalar no antigo campo de concentração do regime fascista e colinialista português um "Museu da Resistência". A candidatura a patrimônio mundial foi lançada em Abril do ano passado pelo primeiro-ministro cabo-verdiano José Maria Neves.
Também conhecido por "campo da morte lenta", passaram pelo Tarrafal centenas de opositores do regime fascista de Salazar e de integrantes dos movimentos de libertação das antigas colónias portuguesas em África.
Até ao seu encerramento definitivo, no dia 01 de Maio de 1974, uma semana após a Revolução dos Cravos - 25 de Abril de 1974, que derrubou o regime fascista em Portugal e abriu as portas à descolonização, o Campo do Tarrafal recebeu centenas de presos políticos.
Criado a 23 de Abril de 1936, sob a designação de Colónia Penal de Cabo Verde, o Campo de Concentração do Tarrafal recebeu, numa primeira fase, até 1954, arbitrariamente e sem qualquer direito de defesa, 340 presos políticos portugueses.
Em Junho de 1961, com a luta das forças nacionalistas desencadeadas pelas colónias portuguesas em África, o campo de concentração foi reaberto pelo regime colonial com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom e, desta feita, para encarcerar resistentes à guerra colonial em Angola, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Lá estiveram encarcerados, entre outros, vários integrantes do Movimento Popular de Libertação de Angola, como o compositor "Liceu" Vieira Dias (Carlos Aniceto Vieira Dias), já falecido, ou o escritor Luandino Vieira.
Nessa última fase, que se prolongou por 13 anos, estiveram no Tarrafal 238 combatentes da luta pela independência das colónias portuguesas.
"Temos de continuar a trabalhar para que este que foi um dos mais sinistros campos de concentração do salazarismo e que, hoje, é Património Nacional de Cabo Verde, seja também reconhecido como Património Mundial da Humanidade", afirmou José Maria Neves na abertura do Simpósio sobre o Tarrafal, em Abril de 2009.
AFRICA21 - 07.01.2010