Os bombeiros apontam que a situação não se verifica apenas na cidade de Maputo mas em todo o País – facto que traz transtornos graves em casos de incêndios, refere Valdemiro Rafael, porta-voz dos bombeiros.
“ Os Sistemas de incêndio não deviam só existir nos edifícios mais altos mas em qualquer um e importa referir que o seu funcionamento pressupõe a existência de depósitos com água – o que facilita a debelação do fogo tanto pela corporação como pelos afectados”, afirmam os bombeiros sem, contudo, referirem que o problema de água é grave não só em Maputo como em muitas outras urbes do País.
Enfrentar incêndios em Maputo não está fácil.
Para a realização deste trabalho a nossa reportagem centrou-se mais em inquerir o funcionamento dos Sistemas de Incêndios nos edifícios mais altos da cidade de Maputo, entre os oito e os dezassete andares, onde – julgamos - os bombeiros do Serviço Nacional de Salvação Pública poderão ter maiores dificuldades em extinguir incêndios devido aos exíguos meios que possuem. Na nossa ronda por esses colossais condomínios de betão e ferro abordámos os residentes sobre a existência e funcionamento destes meios de grande utilidade e encontrámos situações em que alguns desconheciam a sua utilidade; outros, não lhes davam importância porque no prédio onde residem há vários anos nunca tiveram um incêndio que tenha precisado da utilização dos sistemas; noutros ainda, prevalecia o problema da falta de entendimento entre os próprios residentes para se organizarem e promoveram a reabilitação desses mesmos sistemas.
Por exemplo, num prédio de oito pisos, localizado na Avenida Eduardo Mondlane, falámos com Moisés Cufa, o guarda local. Quando o abordámos estava a ligar a bomba de água para abastecer o edifício. Perguntámos-lhe se o edifício tinha aquele sistema de prevenção contra incêndio ao que ele respondeu espantado: “ Não sei o que é isso!”
A nossa reportagem teve que pedir ao guarda para escalar o prédio a fim de verificar a existência do sistema. Este existe, mas em avançado estado de degradação e em alguns casos sem as referidas bocas de extinção por terem sido arrancadas. Já no prédio do nr. 2887, de quinze andares, também localizado na Avenida Eduardo Mondlane, falámos com um guarda que preferiu manter o anonimato. Disse-nos que trabalha ali há mais de onze anos e pelo que sabe, o sistema nunca funcionou. “Já tivemos aqui um problema num apartamento do nono andar e tivemos que ajudar o seu proprietário a extinguir o fogo com água. Só depois disso é que apareceram os bombeiros com extintores”. Entretanto, no prédio a seguir, o
Falta de seguro contra incêndio
Miguel Fidelis, o administrador de um prédio de dezasseis andares na Avenida Eduardo Mondlane disse à nossa reportagem estar preocupado com o não funcionamento do Sistema de Incêndio pois no local já houve vários incidentes em andares superiores. “Chamámos os bombeiros que, em alguns casos, chegaram depois de extinguirmos os incêndios. É preocupante, pois se o sistema funcionasse teria sido fácil a debelação do fogo de grande envergadura que chegou a consumir bens no quinto andar”, disse, acrescentando que “em caso de incêndio a única coisa que se pode fazer é recorrer aos vizinhos”.
A nossa fonte acrescentou ainda que o sistema de água do prédio não funciona a 100%. “O sistema original que se baseava no tanque cisterna foi totalmente alterado e a este estava adstrito o Sistema de Incêndios. Actualmente, o tanque cisterna foi isolado porque permitia muita infiltração. A situação é dramática e a solução era segurar o prédio à EMOSE para em caso de incêndios as pessoas serem indemnizadas. Mas os moradores não têm dinheiro” (para o seguro), disse o nosso entrevistado. E mesmo assim persiste a dúvida se alguma seguradora aceitará segurar o edifício sem que as condições elementares estejam previamente funcionais
No prédio 2723, um residente anónimo disse que o sistema está instalado de dois em dois andares mas não funciona. “Era preciso reabilitá-lo porque está obsoleto”, disse. Também afirmou que o prédio não tem seguro.
A obsolescência dos Sistemas de Incêndio foi observada pela nossa reportagem ainda em muitos outros prédios da capital.
Falta de água como principal factor
“Os bombeiros estão preocupados com a situação”, foi assim que o porta-voz do Serviço Nacional de Salvação Pública começou a abordar a situação do não funcionamento dos Sistemas de Incêndio nos prédios mais altos da capital do país. Entretanto, acrescentou que este tipo de sistema não só deveria ser instalado nos edifícios mais altos, mas em todo o tipo de edifícios, quer seja residência, mercado ou supermercado, isto é, em qualquer local onde exista material que em caso de incêndio possa propagar rapidamente o fogo.
“A não operacionalidade destes sistemas deve-se à fraca rede de distribuição de água não só na cidade de Maputo, mas também em quase todo o país. Veja só que actualmente existem edifícios novos com os sistemas de incêndio em bom estado que não estão a ser utilizados devido à fraca capacidade da rede de distribuição de água. A água é fundamental para o trabalho que estamos a realizar”, disse o porta-voz dos bombeiros, acrescentando que todos os edifícios deviam ter sempre água nos seus depósitos e os sistemas a funcionarem para uma melhor agilização do trabalho da corporação, pois vezes sem conta quando os bombeiros vão debelar o fogo, esta acaba e eles têm que voltar à base para a ir buscar. (Alexandre Luís)
CANALMOZ – 26.01.2010