Muito grato JJ Laboret pelo seu comentário. Poucos podem contar acontcimentos durante os quais passaram mal com um espirito de lealdade. Machel, Chissano, Manave, Sergio Vieira e outros bandoleiros como eles limitam-se em dizer que os estudantes no instituto eram agentes da PIDE, agentes do colonialismo, imperialismo e muita outra bomba da merda. Não eramos nós quem estavam ligados a CIA, mas sim Eduardo Mondlane, e era ele que recebia fundos da CIA (ledes Professor Ungar no seu livro "Africa", Standford University Press, 1982). Era esta uma das acusações que corria por toda a parte na Tanzania (ledes tambem a autobiografia de Yoweri Museveni, "Sowing the Mustard Seeds: The Struggle for Freedom and Democracy in Uganda",Oxford: Macmillan, 1997). Yoweri Museveni é o ditador actual de Uganda e muito amigo da Frelimo e de Guebuza quem lhe ensinou (a Museveni) a ganhar eleiçoes.
Houve sim uma revolta contra a liderança da Frelimo, no fim da qual nos os oponentes perdemos visto que o governo de Tanzania, principalmente o president Julius Nyerere queria reter Mondlane como presidente da Frelimo, custasse que custasse, embora o seu vice-president Rashid Kawawa, um makonde da Tanzania, estava muito critico contra Mondlane.
Como a história que contei foi um acontecimento histórico, deixei em suspenso a história do Manave e como toda a história terminou. Manave dormiu numa sala de prisao policial aquela noite até o dia 4 de Março 1968 quando a tia Janet Rae Mondlane, apareceu por ai para negociar a sua libertaçao. Falou-se dela ter vertido uns 11.000 (onze mil) shillings tanzanianos, segundo o Padre Mateus Pinho Gwenjere. Embora nao possa confirmar o suborno e a importancia do suborno, confirmo que eu pessoalmente vi Janet Mondlane ali na esquadra da policia, onde eu tinha ido em companhia dum grande numero de estudantes para prestarmos declarações sobre o ataque dos bandoleiros (termo que os Portugueses usavam para Frelimo em alternancia com a palavra terroristas nos anos 1960 -- Jornal beirense "O Diario de Moçambique" que depois passou a chamar-se "Noticias da Beira"). Foi através da intervenção da tia Janet Mondlane (uma piada, a Janet nunca foi minha tia! e provavelmente nunca o será).
Como acontecia com todos os casos de malfeisão na Frelimo, os Tanzanianos nunca publicaram o resultado da sua investigação sobre o ataque terrorista contra os estudantes por Machel, Chissano, Manave, Arrancatudo e outros como nunca também publicaram os resultados da investigação sobre a morte de Mondlane, limitando-se a Frelimo a acusar a Pide...
E assim terminou o caso sem julgamento dos assaltantes que teria sido um caso para os tribunais num pais democrático, o que a Tanzania do Julius Nyerere não era. Era um estado ditador, policial com as suas "nyumba kumi kumi"--um termo swahili que é dificil de traduzir em Português, mas que em inglês é rendido como "ten-house security cell." Por toda a parte na Tanzania, nas cidades, nas aldeias e nas matas, cada dez casas constituiam uma célula de segurança, o que fazia viajar na Tanzania muito dificil, visto que cada cidadão era agente informador. Bastavam ver um estrangeiro na sua vizinhança, alguém corria informar as forças de segurança
A fuga do autor do campo de refugiados de Rutamba para Dar Es Salaam, antes de seguir para o Kenya, foi um acontecimento épico no qual eu e os meus dois colegas, um dos quais, Costa Magiga, que veio a vender o Padre Mateus Gwenjere à Frelimo mais tarde, foi uma epopeia. Marchas forçadas, dormir nas matas, retirada duma aldeia onde tinhamos parado para comprar comida a corrermos doidamente com membros do Jeshi ya Mugambo (milicianos tanzanianos) atrás de nós num camião a dar tiros (uma curva e a noite escura permitiu que entrassemos no mato e os milicianos perdessem o seu faro de nós), encontros nas noites com almas doutro mundo (fantasmas, piphokos!), nas noites confrontações com leões que amedrontamos com os nossos gritos e fogo (tinhamos nas nossas mãos fosforos e jornais), choques com elefantes e escape por um triz.
Como preto ordinário que sou tenho que admitir que somente a intervençao dos espiritos dos nossos antepassados estiveram presentes e afastaram todos os males e os perigos que nos enfrentaram.
Embora muitos amigos me acusaram de ser um branco com a cor preta na minha maneira de pensar, digo e afirmo aqui que sou indigena em alma e espirito e retenho muitas das crenças do meu povo moçambicano em geral e sena em particular. Como diz o ditado swahili: "asiyo na mila ni mtumwa (que nao tem tradições é um escravo) e eu recuso de ser escravo de ideologias totalitarias da Frelimo. Falo tambem o swahili como muito orgulho e domino esta lingua da Africa oriental, tendo vivido dois anos na Tanzania e 17 em Nairobi, no Quénia.
Francisco Nota Moises