Surpreendeu-
Contrariamente ao que nos habituou, Guebuza usou o seu discurso para sarar as feridas abertas durante os cinco anos de governação, bem como as criadas nas recentes eleições. Ao não optar pelo 'se não estas connosco, estas contra nos' ou ao não chamar a seus críticos de 'apóstolos da desgraça' Guebuza trouxe neste seu discurso uma nova lufada de ar fresco e de esperança a milhares de moçambicanos que viam nos dois terços, um mandato para o reforço da arrogância, da ditadura e do desprezo pelo pensar diferente! Ao ser verdade o que se aventa sobre quem será Primeiro Ministro, esta lufada de ar fresco poderá transformar-
Sob comando do Venerando Presidente do Tribunal Constitucional, Luís Mondlane, Guebuza jurou, citando o artigo 150. No. 2 da nossa Constituição, '... respeitar e fazer respeitar a Constituição'
Apesar de não ter fugido aos seus temas de eleição na governação anterior, nomeadamente o combate a pobreza, ao espírito do deixa andar e ao burocratismo, Guebuza deixou de fora a arrogância que o caracterizava e falou para os moçambicanos. Para alem disso, Guebuza inovou, ao reconhecer alguns fracassos na 'sua guerra contra a pobreza', quando elegeu o combate a pobreza urbana como um dos seus novos standardes. Ou seja, implicitamente, Guebuza reconheceu que a pobreza urbana aumentou, concordando com vários estudos e autores, dai a necessidade da eleição do tema para o presente mandato. E quando um líder sabe reconhecer seus erros, e sinal de grandeza!
No seu discurso Guebuza repetiu pedagogicamente a lógica do seu pensamento ao afirmar que 'identificado o problema (pobreza) e suas causas, tínhamos duas opções: resignar ou armarmo-nos da nossa auto-estima, orgulho pela nossa historia e cultura, auto-confiança, auto-superação' para combater-mos o mal.
Mencionou ainda, como não deixaria de ser, as maiores realizações, a construção de escolas hospitais, extensão de electricidade, estradas, postos de trabalho, os sete milhões, para concluir a dado passo que a pobreza recuou, tendo se esquecido que o ditado popular que diz, 'recuar não é fugir, pode ser o tomar de novas posições'! Teria somando pontos se Guebuza, neste paragrafo reconhecesse que apesar de termos aumentado o numero de escolas, de hospitais, de rodovias, a qualidade do ensino, dos serviços de saúde e das rodovias esta aquém das nossas aspirações!
Para não deixar a sua veia poética em mãos alheias, Guebuza poetizou tendo como substrato a unidade nacional ao afirmar que '... A unidade nacional e o sangue que corre nas artérias da nossa sociedade...
Ao referir-se não raras vezes a necessidade de reforçar 'o sentido de cidadania, pertença e inclusão' bem como a necessidade de 'promover a diversificação de oportunidades'
O discurso de tomada de posse, diga-se de passagem seguiu a risca o estatuído na Constituição da Republica. Um discurso que cobriu Moçambique de lés a lés, do Rovuma a Ponta do Ouro e do Zumbo ao Chinde!
Diga-se em abono da verdade que se um extra-terrestre estivesse a chegar naquele instante a Moçambique, e escutasse na integra o discurso de Guebuza, se comoveria, juraria e acreditaria que estava perante um líder que ama o seu povo, que ama a democracia, a liberdade, os direitos fundamentais ou seja que estava senão perante um santo, pelo menos estaria próximo de um homem de bem! Mas estando em Moçambique, tendo nascido e vivido neste pais, algumas reticencias se levantam! E que o povo diz que 'quando a esmola e grande, o pobre desconfia'!
Conseguira Guebuza cumprir a risca o que solenemente prometeu perante milhares de moçambicanos e dignidades estrangeiras, ou estamos perante um líder maquiavélico que pisca a esquerda e em seguida vira a esquerda?
Terá sido o discurso da tomada de posse, uma inspiração divina, ou tratar-se-á de mais um discurso camaleonesco, com o intuíto de embalar bois, e só para 'inglês ver' e conseguir a aprovação do Orçamento Geral de Estado, tal como aconteceu com a CNE, que depois de receber os desembolsos perdeu a sensibilidade auditiva?
Conseguira Guebuza demover a maquina partidária que montou e continua a montar do Rovuma a Ponta do Ouro e do Zumbo ao Indico a pautar-se pelo respeito a constituição e ao estado de direito? De que Constituição e de que Estado de Direito esta Guebuza falando?
Como conciliar este discurso de paz e reconciliação nacional com a entrada por exemplo na cidade de Quelimane de um blindado militar em plena quadra festiva? Como conciliar este discurso de paz e reconciliação nacional com a entrada em cena de agentes da PIR em vários distritos do vale do Zambeze, com a crescente nomeação de administradores militares ao longo do Vale do Zambeze, com o crescente clima de insegurança em vários distritos do Vale do Zambeze, onde cidadãos pacatos já não passam noites nas suas residências? Como conciliar as ameaças nas pescas a que cidadãos estão sendo alvo em vários cantos deste indico pais?
Estas são as pequenas reflexões que me invadiram depois de acompanhar a investidura do Presidente da Republica!
Tenho que confessar que se foi fingimento, que todo aquele palavreado visava ludibriar os menos atentos então deveríamos transferir Hollywood para Maputo e deveríamos instaurar um Premio Nobel especial para AEG e seus assessores! Mas se este discurso foi sincero, e tem suas raízes no coração do cidadão Armando Emílio Guebuza, então, hoje 14.01.10, inauguramos uma nova era, a 'Era da pax Guebuziana!
Que Deus me oiça, pois o seguro morreu de velho!
Manuel de Araújo
In www.manueldearaujo.blogspot.com