No Bairro da Polana-Caniço em Maputo
“É hoje que vais saber que realmente sou Matsanga. Podes ir informar a sua Frelimo que se encontrou com um deles e que te queria matar”, ex-delegado, durante a discussão
No Bairro da Polana-Caniço “B”, Distrito Municipal de Maxaquene (antigo Distrito Municipal 3), na cidade de Maputo, dois destacados membros da Frelimo e Renamo entraram em pancadaria na semana passada, logo após a proclamação e validação dos resultados das eleições de 28 de Outubro de 2009, pelo Conselho Constitucional (CC). Agentes da PRM afectos ao Posto Policial do Bairro foram solicitados para acudir o caso.
Os factos
Segundo apurou a nossa reportagem, tudo começou quando no dia seguinte ao da validação, pelo Conselho Constitucional, dos resultados das eleições que deram vitória ao partido Frelimo e seu candidato Armando Guebuza, um membro do partido no poder de nome Sitoi, teria apelidado a um outro cidadão , membro da Renamo de nome Cumbane, ex-delegado político do Distrito Municipal 3, de ser “matsanga que anda a matar pessoas”. O termo é considerado no Sul do País como sendo pejorativo.
O ex-delegado da Renamo nesse dia dirigia-se na companhia de sua esposa a um culto. Diz que teria sido chamado pelo membro da Frelimo, que lhe dirigiu, entretanto, injúrias nos seguintes modos: “vejam aquele homem bem trajado de casado e gravata, não é nada. Pois é um desses matsangas que anda a matar pessoas enquanto vivem aqui no bairro”.
No segundo dia, também na companhia da sua mulher, dirigia-se a um casamento, e o mesmo frelimista terá proferido iguais palavras injuriosas contra o membro da Renamo. O mesmo aconteceu pela terceira vez, isto num outro dia. Os factos aconteciam na residência de Sitoi, membro da Frelimo.
Segundo apurámos, tais provocações terão sido proferidas em três ocasiões, em dias diferentes, até que um dia o membro da Renamo decidiu responder.
Vai dizer aos teus patrões que te encontraste com um Matsanga
Contaram-nos que certo dia, quando se dirigia ao serviço, o ex-delegado político da Renamo no Distrito Municipal de Maxaquene encontrou-se com Sitoi, este parado na entrada da sua casa.
De acordo com as mesmas informações, o membro da Renamo pergunta ao da Frelimo o que ele andou a dizer nos dias anteriores, em ocasiões em que ele estava na companhia da esposa e amigos.
O próprio Cumbane diz que pegou Sitoi pela cabeça, e o avisou: “quero te mostrar para dizeres aos teus patrões que te encontraste com Matsanga que anda a matar pessoas e queria te matar”. De seguida, deu-lhe uma cabeçada e pegando-lhe ainda pelo pescoço bateu-lhe a cabeça contra uma parede e o homem caiu perdendo os sentidos, com um grave ferimento na cabeça.
Após ter sido socorrido e com os sentidos recuperados, o membro da Renamo recomendou ao seu adversário para ir à Polícia local, “para informar que te encontraste com um dos Matsanga que queria te matar”.
Do Posto Policial do Matchiki-Tchiki, na Polana-Caniço “B”, o membro da Frelimo foi imediatamente encaminhado ao hospital, onde viria a receber alguns pontos na cabeça, na sequência dos ferimentos que contraíra como resultado da cabeçada.
De regresso do hospital, a Polícia passou-lhe uma notificação para o membro da Renamo no dia seguinte para fazer depoimento acerca da agressão.
Polícia ignora o queixoso
Na Polícia ambos foram convidados a prestarem as suas declarações. A começar pelo queixoso, que confirmou ter proferido palavras injuriosas contra o seu adversário.
Após o seu depoimento, a Polícia achou que a atitude do membro da Frelimo contra o da Renamo tinha sido provocadora.
No entender da Polícia, a lei moçambicana permite as pessoas filiarem-se em qualquer partido político, incluindo a Renamo que é uma formação legalmente constituída e reconhecida no país.
Dando desfecho ao caso após pedidos de desculpas do membro da Frelimo ao da Renamo, a Polícia mandou de volta os dois adversários políticos para as suas casas, justificando não haver razão para deter qualquer um deles.
Ficou o exemplo de quais podem ser as consequências de provocações e injúrias. Um deles acabou ficando com a lição de quanto vale ser arrogante. (Eliseu Carlos)
CANALMOZ – 06.01.2010