Canal de Opinião
por Eliseu Carlos
“Todas as palavras da língua, todas as sílabas, nos parecem precisas porque as consideramos como outros tantos instrumentos que devem servir para glorificar o nosso augusto protector” – Jean Racine
“O que me agrada sobremaneira é viver quatro horas inteiras na companhia do Rei” – Madame de Sévigne.
“Ele (o Rei) é Deus, é preciso esperar a sua vontade com submissão e tudo. Esperar a sua justiça e da sua bondade sem impaciência a fim de se ter mais mérito” – La Grande Mademoiselle.
“Sire, longe de vós, não só se está infeliz mas é se também ridículo” – Marquês de Vardes.
É assim que respondiam os cortesãos ao “bel-prazer” do seu rei no período da Idade Média.
E foi o que a maioria dos moçambicanos viu a partir da Praça da Independência durante a investidura, nesta quinta-feira, do presidente da República de Moçambique.
Armando Guebuza foi investido nesta para mais um mandato de cinco anos como presidente da República. Bonita foi a cerimónia. Mas o triste foi ver o quão grande é e crescente o número de cortesãos que se dedicam ao culto de personalidade.
Já tinha iniciado a cerimónia e era o tempo das orações das diferentes confissões religiosas que para lá foram convidadas.
O digno vencedor do sheik
Quando na verdade alguns de nós nos havíamos esquecido que o Sheik Cassimo David já foi deputado municipal aqui em Maputo pela lista da Frelimo, eis que ele próprio em suposta oração se saiu a dizer: “Abençoai o presidente Armando Guebuza, digno vencedor das eleições de 28 de Outubro de
Não se entendendo se de um processo eleitoral tão polémico como foi este último pode sair um “digno vencedor”, o nosso sheik deixou a oportunidade de pedir ao Allah para que abençoe igualmente os excluídos do pleito para que nas próximas ocasiões tenham igual oportunidade. Não pediu para que o País tenha no futuro uma Comissão Nacional de Eleições que não crie suspeita nem vergonha ao País.
Do catolicismo ao hinduísmo
Dos representantes destas duas congregações, ouvimos orações que verdadeiramente tocaram corações. Para tal não foi preciso recitar mil vezes o nome do “Rei”, tal como também vinha fazendo desde o dia de investidura dos deputados até ao Presidente da República, um nosso colega com ares de grande jornalista “engraxador” de uma das televisões privadas que pretende fama na praça.
Por favor, igrejas, congregações religiosas e órgãos de comunicação social vejam bem e estudem as pessoas que vos devem representar em actos solenes. Ensinem que uma oração não é culto de personalidade, leitura de biografia, mas sim um diálogo com Deus a quem entregamos os nossos processos. (Eliseu Carlos)
CANALMOZ – 15.01.2010