Disparidade de salários – uns ganham mais do que outros
· Mais de 50 agentes vigiam diariamente a casa do presidente da Renamo
· Começam a surgir rumores que indicam que Dhlakama já não está na residência
Os agentes da FIR (Força de Intervenção Rápida) recebem pelo menos seis mil meticais/mês – valor acima dos seus ordenados regulares – como prenda de permanecerem horas a fio a guarnecer o presidente da Renamo. Os agentes da Polícia de Trânsito(PT), que coordenam a circulação de viaturas na rua onde está fixada a residência do presidente da Renamo são os segundos melhor pagos como bónus concedido pelo Governo. Os chamados “cinzentinhos” da Polícia de Protecção (PP) são os mais prejudicados. O ambiente, por isso, está a tornar-se complicado entre forças que fazem trabalho igual.
A missão está cada vez mais espinhosa para os agentes da PRM destacados pelo Governo Central para vigiarem – noite e dia – a residência do presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, na Cidade de Nampula. O Governo não garante as mesmas regalias a todos os agentes afectos ao sistema de “prisão domiciliária” de Dhlakama e, como consequência, está a surgir divisionismo entre os membros da corporação.
Informações avançadas à Reportagem do Canalmoz – diário digital e Canal de Moçambique – Semanário, na cidade de Nampula, dão conta da existência de um clima de tensão e repúdio entre “câmaras de armas” de diferentes ramos que vigiam a casa de Dhlakama.
A tensão e descontentamento, como nos explicaram, deriva do facto, precisamente, das regalias salariais serem diferentes para pessoas que prestam o mesmo tipo de serviço.
Depois de termos passado por crispações com os agentes, numa noite da semana finda, quando saíamos da residência de Dhlakama, depois de uma entrevista, agora alguns desses mesmos agentes estão a vir contar-nos coisas que eles dizem que já não podem calar. Dizem-se estarem a ser vítimas de descriminação.
“Nós da Polícia de Protecção é que devíamos ganhar mais porque estamos a vigiar esta casa há já bastante tempo. Aliás, estamos a seguir os movimentos do líder desde que ele vive aqui em Nampula”, disse-nos um dos agentes que quebrou o silêncio e procurou a nossa reportagem. Outros contaram-nos o mesmo.
Várias fontes da PRM avançaram-nos que neste momento “o tratamento VIP está reservado aos agentes da FIR e da Casa Militar da Presidência da República, vindos da cidade de Maputo para reforçarem as unidades de operação locais”.
“Nós ganhamos mesmo muito mal”
“Em segundo plano surgem os nossos colegas da Polícia de Trânsito e nós, que ganhamos mesmo muito mal”.
Desabafando, um dos agente da PRM, que nos contactaram, disse: “estes miúdos que foram forçosamente tirados da formação no Maputo para virem dar reforço cá, chegam a ganhar seis mil meticais, enquanto nós que estamos há anos na corporação, nunca ganhamos tanto”.
Mais de 50 agentes vigiam diariamente a casa de Dhlakama
Por dia, cinquenta agentes da corporação vigiam a casa do líder da Renamo em turnos de vinte e cinco pessoas distribuídas em três postos diferentes e, com regalias diferentes.
Num outro desenvolvimento, as nossas fontes acreditam que “estes que estão a ganhar bem, estão em missão por confiança do partido Frelimo, porque alguns deles são instrutores seniores e têm a patente para a protecção de altas individualidades o que os impele a não terem mãos a medir para fazerem tudo o que tiverem de fazer, contra nós, que fomos mal treinados”.
Ameaça de revolta
Como reivindicação de melhores condições de trabalho, alguns agentes da PRM afectos na missão de garantir a prisão domiciliária do presidente da Renamo, dizem que poderá haver rebelião caso as autoridades competentes não revejam a situação, “porque nós estamos a passar mal e os que ganham bem entram nos seus postos depois de dezassete horas, e nós estamos cá vinte e quatro horas por dia”.
Entretanto – dizem as nossas fontes – “no Comando os agentes já começam a inventar desculpas”. “Por exemplo, dizem que estão doentes, quando são destacados para a missão de vigiar a casa do líder da Renamo”. “Sabemos que vimos para passar mal, pois nem água nos dão, o que não acontece com os colegas da FIR e PT”.
Comando Provincial sem coordenadas de Dhlakama?
Entretanto, informações vindas de dentro da instituição dão conta que o Comando Provincial da PRM em Nampula está a perder as coordenadas da localização exacta do líder da Renamo. A teoria de que ele ainda esteja a viver na sua nova moradia na Rua das Flores, já não tem créditos na corporação, e Arsénia Massingue, comandante provincial, já não sabe o que dizer aos seus superiores hierárquicos, nomeadamente ao Comandante Geral da PRM, e outras altas hierarquias da Polícia.
Uma fonte da PRM que falou em anonimato à nossa reportagem disse que no seio da corporação, “ninguém tem certeza onde está exactamente a viver o presidente da Renamo e o que ele estará a preparar neste momento, para retaliar contra os resultados das eleições de 28 de Outubro” do ano findo.
A mesma fonte afiançou que “as informações que nos chegam das brigadas afectas às unidades que vigiam a casa dele são falsas e que o comando sabe disso, porque não é possível que Dhlakama esteja naquela casa”. “Se ele vem para ali, é só para nos distrair e organizar a sua manifestação” – disse.
O incidente com o nosso repórter visava obter informações à força
A fonte que temos vindo a citar disse-nos a certa altura que “aquele dia que te pegaram e te colocaram de refém era somente para tirar alguma informação de ti sobre a localização exacta de Dhlakama – porque, aqui no Comando sabe-se que se existe alguém que nos pode dar informação exacta, esse alguém é o jornalista do Canal de Moçambique, porque sempre entrevista em primeira mão Dhlakama. Por isso devemos interpelá-lo e dar-lhe um susto no dia em que precisarmos de obter informação”. (Aunício da Silva)
CANALMOZ – 11.01.2010