Dos mais lucrativos do mundo
- anota relatório do FMI
“A lucratividade dos bancos está entre as mais altas no mundo”, assim se refere o último relatório do FMI(Fundo Monetário Internacional) à banca moçambicana que caracteriza como muito concentrada, com margens de juros muito altas o que sugere, na opinião da missão do Fundo, “falta de competitividade” no sector.
As margens de juro em Moçambique são mais altas que em toda a África Sub-Sahariana, na Tanzania, África do Sul, Botswana, Quénia, Angola, Zâmbia e o Malawi. Em termos de lucros, o estudo do FMI apresenta um conjunto de sete países, onde Moçambique só é suplantado pelo Malawi. Um estudo divulgado a semana passada pela KPMG diz que em 2008, os bancos moçambicanos totalizaram lucros de 113,3 milhões de dólares americanos, um aumento de 17,2% em relação ao anos anterior.
Sobre a concentração bancária, o relatório nota que os três maiores bancos (BIM, BCI e Standard) detêm 85% dos activos do sector enquanto nas micro-finanças, quatro instituições controlam 60% da carteira de empréstimos. Em relação à “bancarização” da população, é estimado que menos de 6% da população adulta tem crédito numa instituição financeira e pouco mais de 10% tem uma conta bancária.
O relatório faz notar que o país registou progressos assinaláveis no sector financeiro desde 2003, mas refere que o aprofundamento do sistema não avança por factores estruturais da economia e na intermediação financeira que limitam o acesso ao crédito, aumentam os custos e riscos na oferta de serviços.
Aponta também falta de competitividade o que prejudica a mobilização de poupanças e contribui para os altos custos do dinheiro emprestado pela banca.
O FMI considera que a melhoria no processo da recuperação de dívidas, melhor informação sobre a concessão de crédito, mais transparência na aplicação de taxas de serviços ajudará no ultrapassar dos estrangulamentos do sector.
Pouca competição
Sobre os custos de serviços o estudo apresenta uma tabela comparativa para emissão de cheques, devolução de cheques sem cobertura, levantamentos em ATM, comissões de transferências interbancárias e a taxa anual do cartão de crédito. Moçambique tem os serviços mais caros quando comparados com a África do Sul, o Botswana, as Maurícias e a Tanzania. Só nos levantamentos em ATM a África do Sul e a Tanzania têm taxas ligeiramente mais altas. Para combater esta “praga” dos bancos moçambicanos, o banco central emitiu o ano passado um aviso regulador afastando muitas das taxas de serviços impostas unilateralmente pela banca.
Entre os impedimentos à intermediação financeira, o estudo aponta custos administrativos muito elevados, nomeadamente em pessoal e uma lei do trabalho muito restritiva o que conduz à falta de pressão competitiva. O estudo advoga mesmo a possibilidade de se poderem contratar no exterior contabilistas e controladores financeiros para aumentar a qualidade e a competitividade nas instituições bancárias.
Entre os obstáculos estruturais, o estudo aponta a dificuldade das instituições bancárias se expandirem para fora das grandes cidades. Só 51 distritos são cobertos por bancos. Também as limitações do sistema judiciário são obstáculos, nomeadamente na execução de contratos e sentenças, capacidade de mediação e ausência de uma lei sobre falências. Há dificuldades na obtenção de informações de crédito e contabilidade das pequenas e médias empresas candidatas à obtenção de empréstimos, as contas não são auditadas externamente e há dificuldade no cruzamento de dados sobre as declarações de impostos. O registo de propriedade também é limitado e calcula-se que menos de 30% de bens estão devidamente registados.
O FMI faz notar contudo que o sector funciona hoje com muito maior credibilidade e que o Banco de Moçambique exerce com grande prudência as suas actividades de supervisão.
SAVANA – 26.02.2010