Défice no conhecimento da História de Moçambique
– insta Presidente da República, Armando Guebuza
Comemorou-se ontem o dia 3 de Fevereiro, uma data que exalta sem distinção todos os Heróis Moçambicanos, sobretudo aqueles que combateram pela libertação da pátria. Em Maputo as cerimónias centrais decorreram na Praça dos Heróis, onde o estadista moçambicano, Armando Guebuza, depositou uma coroa de flores. Várias figuras, entre elas, ministros do executivo moçambicano, representantes do Movimento Democrático de Moçambique, (MDM) e o corpo diplomático acreditado em Moçambique estiveram no local. A Renamo manteve a sua tradição de não participar ao lado da Frelimo em cerimónias deste tipo por, como tem alegado, os seus heróis não estarem considerados.
A data foi comemorada com euforia pelas autoridades, alegadamente porque coincidiu com a passagem do 41º ano após a morte daquele que é considerado oficialmente como o fundador e primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Dr. Eduardo Chivambo Mondlane.
De referir que Eduardo Mondlane foi assassinado a 3 de Fevereiro de 1969, e segundo a história escrita e difundida pela própria Frelimo, no seu escritório em Dar-es-Salaam, capital da Tanzania. Mas outros testemunhos, incluindo o do Boletim da Frelimo da época, editado pelo jornalista Ian Christie, indicam que o verdadeiro local da morte de Eduardo Mondlane foi em casa de uma americana, Betty King, que exercia funções de secretária de Janete Mondlane. O ex-estadista moçambicano, Joaquim Alberto Chissano e o antigo ministro dos Assuntos dos Antigos Combatentes (agora Ministério dos Combatentes e com outra direcção), Feliciano Gundana, Óscar Monteiro, ex-membro do Bureau Político do Comité Central da Frelimo e muitos outros são apenas alguns exemplos de figuras que já confirmaram publicamente esta última versão e assim comprovaram a mentira que oficialmente se tem estado a propalar da história do assassinato de Eduardo Mondlane.
“Datas festivas não devem ser objectos de acções pontuais”
Por seu turno, o ex-presidente do Conselho Constitucional, Rui Baltazar, disse ao Canalmoz que o 3 de Fevereiro simboliza o heroísmo moçambicano. “Tem um significado especial para os moçambicanos porque está ligado à morte do fundador e primeiro presidente da Frelimo, o Dr. Eduardo Chivambo Mondlane. É uma data com alto significado para os moçambicanos e sempre que ela chega devemos prestar homenagem a todos aqueles que se emprenharam na luta pela libertação e soberania do País”.
Confrontado com o défice existente no conhecimento da História de Moçambique e do significado das datas importantes a fonte sublinhou que só um trabalho verdadeiramente aturado pode reverter o cenário.
Questionado sobre que avaliação faz sobre a divulgação das datas históricas e festivas e da exaltação dos que deram vidas pela pátria, Rui Baltazar respondeu que algo está sendo feito, mas que não é suficiente.
“Deve-se fazer mais envolvendo massivamente as novas gerações. Isso vai permitir que elas assumam valores patrióticos e aprendam a homenagear e venerar os heróis nacionais”.
O interlocutor disse igualmente que se não houver esforços a medir na divulgação dos ideais, sobretudo dos feitos dos que pereceram libertando o País, o povo moçambicano conhecerá perfeitamente a sua história.
“Existem trabalhos nesse sentido mas certamente que se pode fazer mais”.
Rui Baltazar disse ainda que todo o processo de divulgação da história moçambicana e exaltação das respectivas figuras não é instantâneo.
“É um processo que com o tempo ir-se-á aprofundando e á medida que as instituições se consolidam, talvez, mais fácil será tornar as datas históricas mais significativas e assumidas por todos os moçambicanos”.
A terminar, referiu que a promoção das datas festivas moçambicanas não devem ser objecto de acções pontuais. “Devem seguir um programa permanente, explícito e capaz de permitir que todos os sectores da sociedade valorizem essas datas”.
“Que seja uma actividade normal assumida por todos e que não seja por programas especiais e pontuais. É preciso que essas actividades comecem nas escolas e tenham continuidade a todos os níveis do sistema de educação”. (Emildo Sambo)
Segundo Roberto Chitsondzo
Celebração de datas históricas está reduzida à Frelimo
O conceituado músico e deputado moçambicano, Roberto Chitsondzo, considera que as celebrações das datas históricas moçambicanas estão reduzidas à imagem da Frelimo, daí a sua pouca divulgação.
Falando ao Canalmoz, à margem das cerimónias de deposição de uma coroa de flores na Praça dos Heróis por ocasião da celebração do dia 3 de Fevereiro, Roberto Chitsondzo afirmou que “infelizmente a tarefa de celebração das datas históricas no País é, por um lado, reduzida ao partido Frelimo. Por outro, aos seus camaradas que combateram e viveram com esses heróis”.
Ademais, a fonte acrescentou que essas datas, em particular no que se refere à figura de Eduardo Mondlane, “ultrapassa todas as barreiras do nosso partido. Deveriamos ser todos nós moçambicanos a divulgarmos os feitos de Eduardo Mondlane e nos interessarmos por aquilo que ele fez”.
Acrescentou que a sua vontade é ver cada moçambicano a conhecer o significado de cada data histórica e em particular “que conheça o seu herói”. Para Roberto Chitsondzo “cada um deve assumir o papel de professor para reverter o cenário”.
“Cada cidadão anónimo deve ter a tarefa de dizer quem foi Eduardo Mondlane e tantos outros que lutaram pela pátria”.
Por seu turno, o presidente da Associação dos Importadores e Vendedores do Sector Informal de Moçambique, Sudecar Novela, o 3 de Fevereiro é um dia em que se exalta o orgulho e o heroísmo dos moçambicanos”. “Somos chamados a recordar aqueles que deram suas vidas para que o País fosse independente e soberano”.
Quanto à divulgação das datas históricas em Moçambique e da própria história do País em geral, Sudecar Novela considera que é um processo que não pode ser encarado repentinamente. “Deve obedecer a etapas. Por exemplo, na etapa logo a seguir à independência, a divulgação era mais forte do que o dia de hoje. E isso depende também do líder que estiver na condução dos destinos do País para que se possa fortificar a história de um povo e permitir que as gerações vindouras possam conhecer os feitos e os ideais dos que deram vida pela Nação”.
Questionado sobre o défice existente no conhecimento da História de Moçambique e do significado das datas importantes que conduziram à independência, Novela respondeu: “Hoje em dia é decepcionante quando se chega a uma escola e questionar-se os alunos, por exemplo, sobre os dias 3 de Fevereiro e 25 de Junho, sobre Samora Machel e Eduardo Mondlane não conseguirem dizer algo. Isso demonstra realmente que é preciso que se faça muito mais para que as pessoas conheçam quem são os heróis deste País e datas histórias que descrevem a realidade dos moçambicanos”. (Emildo Sambo)
CANALMOZ – 04.02.2010