O escritor tanzaniano, Godfrey Mwakikagile, autor da biografia do primeiro presidente da Tanzânia, intitulada, «Nyerere and Africa: end of an era», plagiou extensos trechos do livro, «Mozambique – The Tortuous Road to Democracy», de autoria de João Cabrita. O capítulo da obra de Godfrey Mwakikagile que trata da fundação da Frelimo, está repleto de trechos extraídos do livro de Cabrita sem que, no entanto, o autor moçambicano tivesse sido citado uma única vez sequer, nem tão pouco o seu estudo mencionado.
Godfrey Mwakikagile começou por ser jornalista do diário tanzaniano, Daily News, onde teve como editor Benjamim Mkapa que mais tarde ascendeu ao cargo de presidente da República da Tanzânia. Posteriormente, Mwakikagile trabalhou para o Ministério de Informação do governo de Julius Nyerere.
De acordo com a Wikipedia (www.wikipedia.org), como jornalista Godfrey Mwakikagile visitou as áreas sob controlo da Frelimo e manteve fortes laços de amizade com Joaquim Chissano durante a luta pela independência de Moçambique. A Wikipedia refere que o autor tanzaniano é frequentemente solicitado para entrevistas pela BBC e Voz da América, e que a sua obra biográfica de Julius Nyerere foi citada num discurso proferido pela antiga vice-presidente sul-africana, Phumzile Mlambo-Ngcuka, na Universidade do Cabo Ocidental em Setembro de 2006, por ocasião de uma Aula Comemorativa do papel de Julius Nyerere.
Fundação da Udenamo e Manu
Godfrey Mwakikagile começou por plagiar o livro de João Cabrita ao referir-se à formação das várias componentes da Frelimo – Udenamo, MANU e Unami. O decalque que Mwakikagile fez do livro de Cabrita é extraordinariamente óbvio quando afirma na página 211 que “é interessante que embora a FRELIMO tivesse sido formada em Dar es Salam, a sua constituição foi anunciada pela primeira vez em Acra, Gana, a 29 de Maio de 1962, pelos líderes da Udenamo e da MANU”.
Na página 5 do livro de João Cabrita, lê-se que “A formação da Frelimo foi anunciada pela primeira vez em Acra a 29 de Maio de 1962 pela União Democrática Nacional de Moçambique (Udenamo) e pela Mozambique African National Union (MANU).”
Cabrita defende que a fusão das três organizações nacionalistas moçambicanas (Udenamo, MANU e Unami) “foi mais um casamento de conveniência imposto ao moçambicanos, do que uma frente genuína unida contra o colonialismo português, o que acabaria por contribuir para as divisões no seio do movimento para a independência da colónia”.
Godfrey Mwakikagile refere-se a este facto, usando os mesmos termos e raciocínio:
“Embora as três organizações estivessem unidas numa vontade comum de acabar com administração colonial, o compromisso que alcançaram para criar a FRELIMO foi mais um casamento de conveniência, claramente demonstrado pelas contínuas diferenças ideológicas no seio do movimento nacionalista...”
Mondlane
Apoiando-se em entrevistas feitas a Fanuel Mahluza em Nairobi em 1982 e 1988, Cabrita afirma em «Mozambique – The Tortuous Road to Democracy» que aquele nacionalista moçambicano havia contactado Eduardo Mondlane logo que a Udenamo se estabelecera em Dar es Salam. De acordo com o livro de João Cabrita, “Em Abril de 1961, o vice-presidente da Udenamo, Fanuel Mahluza, escreveu a Eduardo Mondlane, um antropólogo moçambicano educado nos Estados Unidos e que trabalhava para o Conselho de Fideicomissos das Nações Unidas em Nova Iorque, convidando-o a juntar-se à organização”.
Em mais um flagrante plágio da obra do autor moçambicano, Godfrey Mwakikagile
repete textualmente o que vem no livro de Cabrita:
“Em Abril de 1961, o vice-presidente da Udenamo, Fanuel Mahluza, escreveu a Eduardo Mondlane em Nova Iorque, onde trabalhava para o Conselho de Fideicomissos das Nações Unidas em Nova Iorque, convidando-o a juntar-se à organização”.
Marcelino dos Santos
No seu livro, Cabrita afirma que “a decisão de Gwambe em nomear Marcelino dos Santos como vice-secretário geral da Udenamo, indubitavelmente dotou a organização do seu intelectual e organizador mais capaz.”
Voltando a plagiar o livro de Cabrita, o autor de «Nyerere and Africa: end of an era» diz: “Gwambe tomou uma importante decisão e nomeou Marcelino dos Santos como secretário-geral quando Dos Santos o convidara para participar na conferência de Casablanca, dotando a organização do seu intelectual e organizador mais capaz.”
Ainda sobre Marcelino dos Santos, Cabrita escreve que “foi Marcelino dos Santos quem redigiu a Constituição da Udenamo, estruturando-a nos termos
dos princípios do centralismo democrático”.
Godfrey Mwakikagile diz precisamente o mesmo: “Foi Marcelino dos Santos quem redigiu a Constituição da Udenamo, com base no centralismo democrático”.
Estes são alguns dos trechos que ilustram a forma como Godfrey Mwakikagile plagiou o livro do autor moçambicano. Mais de uma dezena das 15 páginas
do capítulo do livro de Mwakikagile tratando sobre a fundação da Frelimo foram copiadas do livro de João Cabrita, não constando na obra do escritor tanzanianoqualquer referência ao nome do autor de «Mozambique – The Tortuous Road to Democracy».
O livro de Godfrey Mwakikagile sobre a biografia de Julius Nyerere já vai na 4ª edição, tendo sido publicado por diversas editoras, incluindo a New Africa Press (Dar es Salam e Pretória) e a Black Academic Press (Estados Unidos). A primeira edição foi lançada em 2003. O livro de João Cabrita foi publicado em 2000 pela Palgrave (Londres) e St. Martin’s Press (Nova Iorque). (Fernando Veloso)
CANALMOZ – 17.02.2010