SR. DIRECTOR!
Mesmo dentro da humildade de conhecimento, devo aqui ressaltar que para além de enfrentar fisicamente o colonialismo, que tinha marginalizado as “populações indígenas” do processo de construção da historicidade, juntavam-se as contradições internas. Contradições que surgiram de pequenos homens, homens que tinham ainda sequelas do colonialismo, cicatrizes que não as queriam deixar, explorar e continuar a encher os seus buços insaciáveis, barrigas de orangotangos...Posto isto, sem seguir as regras cronológicas da nossa história passarei imediatamente, de forma resumida, para a época do multipartidarismo, década de 1990.
Como estamos recordados, o partido Frelimo a partir de 1977 decidiu seguir a filosofia governativa denominada de marxismo-leninismo, uma linha governativa que não dava tréguas nem aos imperialistas e muitos menos aos que tinham comportamentos de imperialistas e exploradores. Assim, o nosso país por causa da própria situação objectiva histórica entramos para a fase de uma guerra civil, dos 16 anos ou desestabilização (não sei qual é o nome mais viável para esta guerra), mas sei que esta não era nada mais que o desejo de levantar no povo a vontade de ira contra os projectos do partido Frelimo. Todos eram lacaios dos sugadores dos países pobres, indefesos, eram moçambicanos que não tinham tomado ainda consciência dos objectivos claros da Frelimo. Libertar o homem das amarras da exploração, seguindo uma política que justifique tal fim.
Muitos não consciencializados com esta dinâmica refutaram de forma veemente e mataram o povo de Moçambique, o sonho de um povo que queria a paz. Uma guerra bruta como demonstrou Mia Couto no seu “Terra Sonâmbula” e Severino Nguenha no seu “Por uma dimensão moçambicana da consciência histórica”. A Frelimo não desistiu de construir o sonho de um Moçambique próspero, desenvolvido e bem sucedido. Não é possível falar desta guerra entre moçambicanos (?) porque para quem, por exemplo, já leu Bill Highs talvez saiba do que estou a falar. Não é objectivo deste artigo abordar este assunto, mas apenas reviver a nossa consciência para uma viagem na realidade material, usando a perspectiva materialista da história para percebermos que o partido Frelimo depois de percebido que a época era outra e como era a sua própria dinâmica. A Frelimo não é um partido aniquiloso, por isso nós tivemos na década 1990 uma série de partidos que surgiram somente para satisfazer desejos estomacais, (politique du ventre), isto por causa do dinheiro que se dava aos partidos recém-formados para que pudessem concorrer nas eleições que se avizinhavam, as de 1994. Eram partidos famintos porque o seu objectivo não ia para além dos seus próprios interesses, interesses que se conjugavam com a sua própria origem, uma origem sem fundamento.
Estes partidos, mesmo assim, foram recebidos como contribuintes para o aperfeiçoamento da nossa democracia, apesar de a existência de vários partidos não significar democracia.
Era um desafio que o partido Frelimo aceitou com firmeza porque tratava-se de uma visão do futuro, que era o presente que assim obrigava. Foram realizadas as eleições, continuou a crescer o número de partidos com tendência estomacais e mais nada. Para a Frelimo tratava-se de moçambicanos, moçambicanos que estavam perdidos. E continuam perdidos porque ainda continuam a não perceber que não são nenhuma oposição, apenas obstrucionistas, demagógicos e sem muita relevância e consistência.
Para ilustrar estas asserções podemos ver pela acção que estes partidos exercem depois das eleições, ou seja, desaparecem depois de receberem o dinheiro que o Estado disponibiliza. Hibernam e reaparecem nas vésperas das eleições como ladrões famintos que ficam à espera de uma oportunidade para agirem. O partido apenas olha-os como filhos da casa e o são. Afinal, o partido Frelimo é de todos, mesmos aqueles que não percebem o real papel da Frelimo para nós moçambicanos, nós homens e mulheres.
Mais de 50 partidos existem no país, mas que importância têm? Tem alguma coisa que fazem com que o povo os reconheça como algo que transforma a sua vida? Não! Apenas o que tenho vindo a ver é alguma acção que se pretende mais interventiva mesmo estando fora do poder do Partido Independentemente de Moçambique (PIMO), que se mostrou disponível em contribuir com os vários instrumentos que vão responder aos apelos constantes do partido do povo, a Frelimo, de que todos os partidos devem participar para o progresso do país e dos moçambicanos no geral. A Frelimo nasceu para o povo.
Eu estive há dias a ler os planos que o PIMO entregou ao Governo e vi que é um dos partidos que mesmo não sendo grande tem ideias que ultrapassam muitos outros partidos, que se pretendem que sejam alguma coisa no país. Também li que o PIMO pretende trazer investidores para investirem no país. É uma acção louvável. Porém, é preciso recordarmos que o PIMO é filho da Frelimo, desde o próprio líder, Sibindy, é produto da Frelimo e por isso vejo que merece uma atenção que a Frelimo já está a dar. Recebeu-o como foi defendido no dia da tomada de posse do Presidente da República, Armando Guebuza, em que se falou da governação inclusiva. Recebeu-o e estou feliz por isso, porque isto prova que a Frelimo por mais que cometa erros, tem sempre tentado corrigir para o bem do povo.
Contudo, o que me deixa entristecido e estarrecido é ver uma série de partidos que logo depois que foi recebido o PIMO e seu líder Yá-Qub Sibindy correrem para lá sem nenhum plano concreto. Era apenas um mimetismo doentio e morfo, que cheira a desconcentração e fome, são partidos efeitos dos primeiros anos do multipartidarismo. Não apresentaram nada que realmente seja material e materializável, era apenas uma emoção petrificada e precoce que era tão vazia quanto os seus estômagos. O PIMO apresentou documentos que já os tinha escrito há mais de 7 meses. E esses partidos que correm para o Primeiro-Ministro, que é que tem senão emoção fracassada pela falta de ideias. Imaginem então que esses partidos vençam, que perigo corremos?
A acção do PIMO convenceu-me de que tudo que nasce da Frelimo tem suas diferenças e especificidades. A Frelimo é uma escola onde se aprendem as grandes ideias e ideais.
Sendo assim, estes partidos desnorteados que o partido Frelimo com o seu espírito democrático abre as portas são um perigo. A Frelimo deve precaver-se, porque dando uma abertura não controlada pode vir a ser extremamente caro para a própria Frelimo num futuro próximo. É preciso receber quem merece e tem alguma coisa concreta para apresentar e não porque um partidinho moribundo decidiu e quer sair nos jornais e televisões. Esses partidos se continuarem a serem dados todos esses mimos podem habituar-se, alguns poderão começar a exigir coisas que não merecem e nem o podiam pedir se fossem conscientes da sua dimensão como partidos. Eu peço como um pacato cidadão, humilde e não muito esclarecido, que o partido Frelimo comece a ser mais rigoroso no que diz respeito a recepção de partidos. Recebamos partidos que justifiquem essa honra. Fora disso a Frelimo não é obrigada a ter de receber partidos que não apresentam e representam nenhuma vantagem para os moçambicanos.
O partido no poder deve começar a ser mais rigoroso na sua abertura, porque abertura não significa aceitar tudo e todos os mesquinhos que aparecem. Democracia não significa deixar tudo e correr sem regras, mas dar oportunidades aos que realmente querem, para participar com objectivos claros e orientados.
Que a Frelimo continue dando oportunidade aos moçambicanos de ser o que sempre sonharam ser, isto é, moçambicanos donos da sua história, a história de Moçambique. A minha existência como ser humano só me é possível se eu ganhar consciência da importância de ser o sujeito da minha história, como um indivíduo integrado numa sociedade da qual faço parte.
- RÉGIO CONRADO