O livro é baseado na tese de doutoramento apresentada pelo autor na Universidade Nova de Lisboa, em 2009, e teve como objectivo estudar "a figura singular de Eduardo Mondlane, entre os líderes africanos nacionalistas da década de 1960”.
Eduardo Mondlane, fundador e presidente da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), foi morto por um engenho explosivo colocado numa carta-pacote, na residência de amigos, a 3 de Fevereiro de 1969, na Tanzania.
“A explicação de que foi a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) é demasiado simplista. Pode ter havido um agente desta instituição que tenha sido um instrumento”, refere Duarte de Jesus, diplomata reformado e doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa.
Segundo o autor, uma organização de extrema direita, fundamentalmente composta por franceses (da OAS - Organization de l´Armée Secrète), estava baseada em Portugal disfarçada numa agência de notícias, a Aginter Press, “que era um centro de terrorismo internacional”.
“Estas pessoas eram financiadas pela PIDE e por certos serviços de inteligência de países ocidentais”, sublinha Duarte de Jesus, acrescentando que estes infiltraram-se na FRELIMO.
Segundo o autor, "esta organização, no fundo controlada pela PIDE, fomentou a divisão dentro da FRELIMO".
"É uma morte que é complexa, estou a trabalhar neste momento sobre este assunto e espero chegar a conclusões um pouco mais concretas, mas não tenho dúvidas que há vários indícios que mostram que ele teria sido morto, eventualmente, por um grupo da FRELIMO manipulado por potências estrangeiras", indicou ainda, salientando que poderá publicar uma nova obra sobre o assunto.
O investigador argumentou que Eduardo Mondlane teve características únicas em comparação com outros líderes das ex-colónias portuguesas, já que realizou a sua formação académica nos Estados Unidos (foi professor catedrático na Universidade de Syracuse), não era comunista e tentava manter-se independente das potências da época envolvidas na “Guerra Fria”, aproximando-se mais das democracias escandinavas.
Para o autor, "Mondlane talvez tenha sido o único a ter uma estratégia diferente, do ponto de vista de política externa e interna, para Moçambique" dos demais líderes da região.
O livro é publicado pela Editora Almedina e lançado na Fundação Mário Soares, com apresentação do Professor Adriano Moreira.
O prefácio foi escrito pela viúva de Eduardo Mondlane, Janet Rae Mondlane, que destaca que “África e o mundo perderam um político com uma perspectiva pouco usual, um diplomata e académico que entendia as forças de pressão e guiava os movimentos sociais”.
- Lusa