Agastados com o pronunciamento de Meque Braz, vogal da Comissão Provincial de Eleições na Zambézia que os considerou de “traidores” e que seria alvo de medidas punitivas severas, por se terem apresentado ao acto de investidura como deputados da Assembleia da República, contrariando as ordens de Afonso Dhlakama, o grupo de deputados, liderado por Anselmo Victor, aconselha para que não se procurem “bodes expiatórios” para a derrota da Renamo nas eleições e que, no lugar disso, se reflicta, se discuta e se encontrem os verdadeiros responsáveis dos desaires eleitorais.
De acordo com Anselmo Victor, é norma, e de forma repetida, se procurarem bodes expiatórios depois de desaires do partido nos actos eleitorais. Segundo Anselmo Victor, em 1994 a Renamo e o seu candidato presidencial anunciaram, nas vésperas, a sua retirada do processo eleitoral, para mais tarde virem a concorrer, o que aumentou o número de abstenções, com reflexos negativos para o partido. Em 1999, segundo ainda Anselmo Victor, o bode expiatório da derrota eleitoral foi o antigo membro da Renamo, Raul Domingos, que acabou sendo expulso do partido. Já em 2004 se identificou outro bode expiatório, Francisco Machambisse, acusado de ter vendido os resultados eleitorais que favoreciam a Renamo.
Neste momento e no rescaldo das eleições de 2009 nos parece que o bode expiatório serão provavelmente os deputados que tomaram posse no dia 12 de Janeiro. O que não se sabe ao certo é se serão apenas estes ou todos os deputados da Assembleia da República e membros das assembleias provinciais que tomaram posse, disse Anselmo Victor.
Anselmo Victor disse que na sequência dos resultados eleitorais de Outubro de 2009 a Comissão Pol]itica Nacional da Renamo reuniu-se em III sessão ordinária na cidade de Nampula tendo como agenda única a análise do decurso do processo eleitoral. Nessa sequência foi emitido um comunicado condenando a alegada fraude eleitoral havida no escrutínio. Segundo ele, a Renamo assumindo a sua responsabilidade de manter a paz e a estabilidade e o estabelecimento do Estado de Direito e de Justiça Social anunciou que iria liderar manifestações populares pacíficas em todo o território nacional. A partir dessa altura os membros e simpatizantes da Renamo aguardavam pelo início das manifestações, o que até então não aconteceu.
“A CNE anunciou os resultados eleitorais e o partido não reagiu. O Conselho Constitucional validou os resultados e igualmente, o partido não reagiu e nem deu perspectivas aos seus membros sobre tais manifestações. Contra todas as expectativas viu-se o presidente do partido e vários porta-vozes transmitindo aos órgãos de comunicação a vertente de que os deputados da AR e membros das assembleias provinciais estavam proibidos de tomar posse nos respectivos órgãos”, denunciou, acrescentando que o entender do seu grupo é de que as posições do partido são tomadas ou em sede da Comissão Politica Nacional ou em sede do Conselho Nacional, como órgãos deliberativo no intervalo entre dois congressos.
“A decisão dos membros das assembleias provinciais e dos deputados da AR de não tomarem posse não foi de nenhum destes órgãos. Não obstante, muitos membros eleitos pelas listas da Renamo vieram a tomar posse. Por arte m]agica, todos os deputados e membros das assembleias provinciais tomaram posse ante o olhar impávido de quem de direito no partido”, denunciou.
Interrogado sobre se esta ambiguidade não seria sinal de falta de comando na Renamo, Anselmo Victor reafirmou fidelidade ao partido e seu líder, acrescentando que no seio da “perdiz” reina a harmonia, “até porque ele próprio e vários outros integrantes do grupo dos dezasseis ocupam várias posições nas diferentes comissões de trabalho da Assembleia da República”.