Alto-comissário no Malawi manda recados para o Governo
– afirma Pedro Davane, representante diplomático de Moçambique no Malawi
O alto-comissário de Moçambique no Malawi, Pedro Davane, disse, em entrevista ao Canalmoz, que as bolsas de fome, que se registam no país, resultam da falta de investimento na agricultura, por parte do Executivo moçambicano. O mais alto representante diplomático de Moçambique naquele país vizinho faz a comparação da produção agrícola em Moçambique e no país onde está acreditado, e conclui que “no Malawi não se morre a fome porque o Governo local investe na agricultura mecanizada”. Davane falou ao Canalmoz no distrito de Tsangano, província de Tete, durante uma visita de trabalho que efectuou recentemente.
“O Malawi herdou uma longa experiência na produção agrícola. Eles dão prioridade à agricultura mecanizada, embora praticada com certas dificuldades, por se tratar de um país pobre. O presidente Kamuzu Banda (NR: fundador do Estado Malawiano) instruiu o seu povo de modo a fazer da agricultura a fonte de sobrevivência, o que trouxe grandes avanços para a produção agrícola naquele país”, disse o alto-comissário, explicando o que diferencia a agricultura malawiana da moçambicana.
O diplomata é categórico em afirmar que, para alterar a realidade actual da nossa agricultura, Moçambique tem que intensificar as acções que visam acelerar a produção de comida no país. Sem evasivas, Davane diz que “não basta cantar ‘Revolução Verde’, sem criar condições para os produtores”.
Exportar o pouco que se produz
Para além da fraca produção agrícola que se verifica no país, o representante de Moçambique no Malawi identifica outro problema que concorre para a manutenção das bolsas de fome no país. É que, segundo ele, os agricultores moçambicanos que desenvolvem a sua actividade nas fronteiras exportam os seus produtos, quando existem regiões do país que necessitam desses mesmos produtos.
Na verdade, falta um plano integrado de produção agrícola no país. Por exemplo, não existem estradas para escoar os produtos das zonas de produção para as restantes regiões do país. Os agricultores dos distritos fronteiriços de Tete, por exemplo, estando mais próximos do Malawi, preferem vender os seus produtos no mercado externo, em vez de deixá-los a apodrecer nas suas zonas de produção. O alto-comissário apelida este cenário de “caricato”.
“O mais caricato é que nas zonas fronteiriças, a nossa produção beneficia os países vizinhos, numa clara demonstração da incapacidade que o nosso país tem de conter a onda de exportação desordenada”, refere o Davane.
Citando como exemplo o distrito de Tsangano, o diplomata moçambicano disse que “estamos perante um distrito que aumentou a produção na presente campanha agrícola, e acredito que as condições agro-climáticas favorecem uma produção sem interrupção durante os 12 meses, mas caso não haja intervenção (do Governo) no processo da comercialização, toda a produção poderá ir parar nos silos doutros países”, acrescentando que isto vai agravar o problema de fome que se regista em todo o país.
Voltando a falar da falta de investimento na agricultura, Davane disse que, com as potencialidades que o distrito apresenta, se houvesse investimento a sério, “o distrito de Tsangano estaria em condições de alimentar a província de Tete, assim como o país todo”. (Jorge Mirione)
Malawianos retiram marcos da fronteira com Moçambique
O alto-comissário de Moçambique no Malawi, Pedro Davane, denuncia a invasão do território nacional por parte de cidadãos malawianos, que gradualmente estão a penetrar no nosso país, chegando mesmo a “retirar os marcos que limitam a fronteira entre os dois países”. De acordo com o representante diplomático de Moçambique no Malawi, a acção dos malawianos “é propositada e perigosa”, podendo resultar em “incidentes diplomáticos entre os dois países, como foi o caso de Ngauma”.
Davane fez estas declarações em entrevista ao Canalmoz, durante uma visita que efectuou recentemente ao distrito de Tsangano, na província de Tete.
Segundo o alto-comissário (embaixador), a invasão do território nacional é realizada pelos agricultores daquele país vizinho, que se encaixa no noroeste de Moçambique, entre as províncias de Tete e de Niassa. “Os habitantes do distrito de Ntcheu, no Malawi, que faz fronteira com Tsangano, em Moçambique, aos poucos estão a fixar-se em Moçambique”, disse o diplomata.
“O que acontece é que os malawianos fingem que não conhecem as fronteiras, e em algumas zonas estão a retirar os marcos, invadindo a nossa terra”, acrescentou, manifestando a sua preocupação com o facto por ele relatado.
O diplomata previu as consequências que podem advir desta situação por ele reportada: “São casos que, quando não controlados, resultam em incidentes como o de Ngauma, em Niassa, onde os malawianos incendiaram a base de guardas-fronteira” da Polícia da República de Moçambique.
Salvaguardar as relações
Apesar das inquietações que apresenta, o representante do Estado moçambicano no Malawi, refere que as relações entre os dois países são boas, devendo, por isso, serem salvaguardadas.
A título de exemplo, Davane mencionou os sectores da saúde, da educação, da agricultura e da segurança como sendo onde há grande cooperação entre os dois Estado membros da SADC.
Disse que quando se verifica rotura de medicamentos nas unidades sanitárias do país, “recorremos ao Malawi, para adquirir sem grandes custos”, explicando que o mesmo acontece da parte do Malawi.
O embaixador disse que, na Educação, “temos crianças malawianas a estudar nas nossas escolas, e recentemente vários cidadãos daquele país manifestaram o interesse em colocar os seus filhos na Universidade Unizambeze, porque no Malawi não há Faculdade de Agronomia”. (Jorge Mirione)
CANALMOZ – 25.02.2010