CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA É PARTIDÁRIA
António Justo
O espírito tanto sopra da esquerda como da direita. Um Estado em que os ventos só sopram dum lado cria cidadãos tortos. Em Portugal, durante o Estado Novo, os ventos sopravam da direita. Durante a primeira república e agora na república do 25 de Abril só têm soprado os ventos de esquerda. Por isto temos uma nação devastada e um povo cata-vento. No deserto até as miragens saciam a sede. Para equilibrarmos a nação precisamos de todos sejam eles da esquerda ou da direita!
Alguns deputados da esquerda portuguesa tiveram, nos últimos dias, a ideia peregrina de tomar uma iniciativa de mudança da Constituição, para consolidar a república, na Constituição portuguesa, como única forma de Estado possível.
Em questões de política, o diletantismo anda à solta, em favor da monomania política, tal como acontece, por vezes, em países de terceiro mundo. O amadorismo é de tal ordem e encontra-se tão à-vontade que quer estabilizar, numa sociedade secular, o tabu sacrossanto do republicanismo, sem se preocupar com o Estado de direito. E tudo isto, como se tratasse dum direito fundamental humano que não pode ser anulado por leis, mesmo que provenham de maiorias fortes! A classe política é a responsável pelos problemas de Portugal.
O fascismo de esquerda tal como o de direita são autoritários e, neles, o cidadão é apenas meio para atingir um fim. Neste caso, fascistas de esquerda queriam o absolutismo da república como última fundamentação política e moral dum Estado. Também já não se acredita na razão humana e, por isso, recorre-se a instrumentos que estabeleçam racionalmente a irracionalidade. Este fascismo ao quadrado não acredita em Deus nem no Homem. Pretendem levianamente o fim da História.
“Sem Rei nem Roque nem Diabo que os toque”
Fazem tudo por tudo por nos tornarem filhos da outra mãe. Querem-nos todos a dançar no seu parque de divertimento, o parque duma república jacobina, jardim infantil do 25 de Abril. A democracia é coisa muito séria que transcende abrilismo e arrivismo. O 25 de Abril foi transformado em abrilismo ao ser usado pelas esquerdas que, outrora, se apoderaram do Estado e ditaram uma Constituição da República que os privilegia.
A democracia não se deixa limitar à República e menos ainda à república partidária. Já não lhes chega o “socialismo pluridemocrático” de Gomes da Costa que, para evitar a direita, eterniza a esquerda revolucionária numa constituição portuguesa partidária, defensora dum socialismo pluripartidário garantia da esquerda e estabilizador do oportunismo partidário.
Deveria era haver uma iniciativa de mudança para democratização da Constituição no sentido de a desideologizar, de modo a não privilegiar a esquerda em relação aos conservadores! Quando chove deve chover para todos: o cidadão é que deve tornar-se rei, não o camarada! O argumento contra o fascismo não legitima possibilitar outro. Faltam-nos, além duma cultura da transparência, pessoas isentas interessadas, capazes de criar uma cultura política com perspectivas para lá do feudo. Não chega o dolo, a lábia, a inveja e o interesse pessoal para se estabilizar uma cultura civil.
A comemoração da República dá possibilidade aos jacobinos do sistema de mistificarem um capítulo nada exemplar da nossa História que necessitaria de ser purificado.
A boémia da auto-realização não conhece a responsabilidade histórica dos outros. Chega-lhes o relativismo cultural e o cafezinho da praxe. O dogma da razão interesseira quer acabar com o potencial da interpretação metafísica que descansa em cada cidadão. Por isso, querem fazer da Constituição a sua “metafísica”, sob o Sol da catequese marxista-leninista para quem Deus morreu e o cidadão também! Querem-nos todos de graça no seu paraíso, o paraíso proletário com os seus deuzitos a brilhar nos andores da ideologia unilateral.
Há que rasgar os telhados das ideologias que cobrem as nossas instituições abri-los para uma cultura nova em que seja possível alegrar-se com todas as cores do arco-íris. Para isso teríamos que questionar os nossos sistemas políticos, económicos e sociais mais predilectos e libertar-nos de opiniões preconcebidas, na procura duma nova filosofia e duma nova ética, já não orientadas para o material mas para o Homem todo e global. O dinheiro, que é um valor abstracto, mata a criatividade e o materialismo mata o espírito. O homem digno não se deixa reduzir a massa, nem vive só de pão.
O Homem é divino, e só Deus pode ser maior que ele! Não precisamos de instituições que o aprisionem e o definam à sua medida, mas que com ele “se vão da lei da morte libertando”. A nossa cultura é egrégia e universal. Hoje tem muitos inimigos que se envergonham do seu berço e se tornaram inimigos do Homem, aqueles para quem o homem e a mulher não passam de instrumento ao serviço dum fim!
© António da Cunha Duarte Justo