Estão igualmente agendadas diversas manifestações de carácter sócio-cultural um pouco por todo o país, sobretudo na terra que viu o herói a nascer.
Eduardo Chivambo Mondlane nasceu a 20 de Junho de 1920, na aldeia de Nwadjahane, distrito de Mandlakazi, província de Gaza. Seu pai, Nwadjahane Mussengane Mondlane, fazia parte da chefia na estrutura tradicional local. Tendo perdido o pai aos dois anos, Eduardo Chivambo Mondlane viveu os seus primeiros anos de infância sob os cuidados de sua mãe, Makungu Muzumasse Mbembele, e de outras duas viúvas do seu pai.
Acredita-se que foi a educação dada por estas mulheres que desenvolveu em Eduardo Mondlane um espírito de revolta contra o colonialismo e serviu de fonte de inspiração para que se interessasse pela cultura ocidental. Na sua autobiografia, Mondlane considera a sua mãe como sendo “mulher de grande carácter e inteligência”.
“O meu interesse real pelo tipo de educação ocidental foi estimulado pela minha mãe, que insistia em que eu fosse para a escola para compreender a feitiçaria do homem branco, para assim poder lutar contra ele. A minha mãe disse-me isto tantas vezes que, apesar de ter morrido quando eu tinha apenas 13 anos, posso ainda ouvir a sua voz repercutindo nos meus ouvidos”, diz Eduardo Mondlane na sua autobiografia.
Os primeiros anos de Eduardo Mondlane foram marcadamente de uma vida rural. Ele, juntamente com outras crianças da sua idade, foi pastor de gado bovino, caprino e ovino. A sua primeira fase de alfabetização inicia-se em casa de um membro da Missão Suíça (que a partir de 1948 passou a chamar-se Igreja Presbiteriana) e foi na língua tsonga.
Depois de concluir a 3ª classe elementar, Eduardo Mondlane enfrentou todo o tipo de dificuldades que um africano encontrava para ingressar no ensino geral, isto porque o governo colonial havia criado um sistema de ensino separado, sendo o oficial para brancos e assimilados e o rudimentar para os africanos.
Face a estas barreiras, Eduardo Mondlane teve que ir frequentar um curso de agricultura, durante dois anos, em Khambine, uma missão metodista sedeada em Inhambane.
Não havendo possibilidades de ingressar no ensino secundário e contando sempre com a ajuda da Missão Suiça, seguiu para à África do Sul em 1944, para continuar os seus estudos. Depois de concluir o ensino secundário, em 1946, entrou para a Escola do Trabalho Social Jan H. Hofmeyer, em Joanesburgo, em 1947. No ano seguinte ingressou na Universidade de Witwatersrand, Faculdade de Ciências Sociais.
Enquanto esteve na África do Sul como estudante participou nas associações juvenis locais, mesmo consciente dos riscos que poderia correr.
“Por isso, quando os colegas da Wits lhe pediram para participar nos protestos contra o crescente sistema do “apartheid” ele respondeu que não queria se envolver. Como insistiram, ele acabou dando o seu apoio e por fim foi eleito representante do corpo estudantil numa importante reunião dos estudantes universitários sul-africanos. Por causa disso, foi expulso da África do Sul como “nativo estrangeiro”, segundo escreveu Janet Mondlane, viúva de Eduardo Mondlane no livro “Lutar por Moçambique”.
Depois de ter regressado a Moçambique participou activamente na formação do Núcleo de Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM), o que lhe custou prisão pela PIDE, durante três dias.
Em 1950, Eduardo Mondlane segue para Portugal a fim de continuar os seus estudos, através duma bolsa que lhe havia sido oferecida por uma organização humanitária com sede em Nova Iorque. A sua estada nas terras lusas não durou muito tempo porque estava sempre sob vigilância da PIDE. Em 1951 segue para os Estados Unidos da América. Em 1956 já havia concluído o seu Doutoramento em Antropologia e Sociologia. Em 1957 é convidado a trabalhar na Organização das Nações Unidas (ONU) como investigador. Esteve afecto à Divisão de Territórios sob mandato do organismo supranacional, nomeadamente a Tanzânia, Namíbia e Camarões.
Como funcionário das Nações Unidas conheceu muitas figuras nacionalistas africanas com quem teve muita solidariedade, dentre as quais se destaca o ex-Presidente da Tanzânia, Julius Nyerere. Anos depois de ingressar na ONU foi também convidado a leccionar na Universidade norte-americana de Syracuse.

OS PRIMEIROS PASSOS PARA A FORMAÇÃO DA FRELIMO
Um dos momentos mais marcantes na vida de Eduardo Mondlane foi a decisão que tomou de abandonar todas as facilidades que tinha nos Estados Unidos como alto funcionário das Nações Unidas e depois como professor universitário para se engajar na luta de libertação nacional.
Eduardo Mondlane foi preponderante para a união dos três movimentos de libertação, nomeadamente a UDENAMO, a UNAMI e a MANU, em Dar-es-Salaam, na Tanzânia. Uma delegação composta por membros da UDENAMO, movimento onde militava Marcelino dos Santos, foi enviada aos Estados Unidos para contactar um moçambicano (Eduardo Mondlane) funcionário das Nações Unidas.
Quando decidiu voltar e ajudar a unificação daqueles três movimentos, Eduardo Mondlane encarou muitas dificuldades. O tribalismo era mais forte que o desejo da liberdade. Mas a perspicácia de Eduardo Mondlane fez com que os três movimentos se unissem para formar a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). A FRELIMO foi fundada em 25 de Junho de 1962 na Tanzânia e Eduardo Mondlane foi eleito seu presidente.
A Frente de Libertação de Moçambique sob a liderança de Eduardo Mondlane definiu como inimigo o colonialismo português e não o povo português. A luta armada foi encarada como a única alternativa face à recusa das autoridades coloniais em conceder de forma pacífica a independência aos donos da terra. A 25 de Setembro de 1964 inicia a luta de libertação nacional rumo à derrocada da dominação colonial.
Eduardo Chivambo Mondlane morreu assassinado a 3 de Fevereiro de 1969, na Tanzânia. Em 1976, a data foi consagrada Dia dos Heróis Moçambicanos pelo falecido Presidente Samora Machel.
POPULARIZAR ESPÓLIO DE EDUARDO MONDLANE
O legado de Eduardo Chivambo Mondlane, que compreende, nomeadamente, relatos sobre os seus tempos de infância, juventude, percurso académico e sobretudo a sua visão sobre o colonialismo português e a necessidade de se libertar o homem e a terra para a construção duma sociedade fundamentada nos valores da justiça social deve ser popularizado e partilhado entre todas as instituições, quer sejam elas de carácter familiar ou estatais e cívicas.
Esta ideia foi defendida o ano passado no decurso das segundas jornadas científicas e tecnológicas de Moçambique por intelectuais ligados a diversas áreas do saber. A Universidade Eduardo Mondlane, a principal e a maior do país, através do seu departamento de história, deverá assumir maior protagonismo neste processo, ao mesmo tempo que deve se encarregar do estabelecimento de parcerias com as universidades onde o arquitecto da unidade nacional leccionou nos Estados Unidos da América.
O Museu Aberto de Nwadjahane e a Fundação Eduardo Mondlane são exemplos eloquentes de instituições que conservam o legado do arquitecto da unidade nacional.