Dimas Marrôa diz que houve tentativa de influenciar a sentença e que a sua vida corre perigo
Em reacção a tais declarações, o advogado de defesa de Diodino Cambaza, Vasconcelos Porto, disse não acreditar que tenha havido alguma interferência política no caso. “Isso é a opinião dele, eu não sei. Sobre se a vida dele corre risco, eu acho que é despropositado. É perfeitamente despropositado. Não sei a que propósito o juiz faz essas declarações. Por amor de Deus, o que é que significa um réu estar na cadeia a ameaçar alguém que está fora? O meu constituinte foi condenado a 22 anos de cadeia. Poderá ameaçá-lo por vingança?” – questionou.
O juiz que julgou o “caso Aeroportos de Moçambique”, Dimas Marrôa, surpreendeu tudo e todos no fim na leitura da sentença, ao mandar recados a pessoas que supõe que estejam a engendrar a sua morte, por ele ser o juiz que julgou o “caso AdM” ou um outro caso. Os recados de Marrôa não foram apenas sobre as ameaças de morte. O juiz disse ainda que houve tentativa de influenciar a sentença por ele lida no sábado.
Apesar de assim ter falado ao ler a sentença do “Caso dos Aeroportos”, à saída da sala de sessões, quando interpelado por um batalhão de jornalistas, o juiz Marrôa não revelou a proveniência das ameaças de morte de que diz ser vítima, nem revelou igualmente quem tentou influenciar a sentença.
“Tentativas de influenciar esta sentença não faltaram. Houve tentativas de influenciar esta sentença. Eu tenho denunciado tais tentativas. Existem pessoas, que não conheço quem são, que andaram a escrever, com pseudónimos, em jornais, sobre mim, por causa deste caso. Queria deixar bem claro que eu não tenho problemas, deixem de cobardia e identifiquem-se. E mais, tive conhecimento que andam rumores que a minha vida corre risco, mas também não tenho problemas quanto a isso, porque a morte é o destino de todos. Para todos nós que estamos aqui, o nosso destino é a morte. Tenho avisado isso aos próximos, que eu não estou preocupado. Tenho dito que a diferença é que eu terei uma morte violenta. Não estou preocupado. Não sei quem é que está a preparar a minha morte. Mas saibam que não estou preocupado. Podem agir à vontade. Sei que onde me acho seguro me podem matar, mas não estou preocupado. Saibam que antes de ser magistrado já estive na vida militar.” – foram estas as palavras que o juiz Dimas Marrôa pronunciou no fim da leitura da sentença do “caso Aeroportos de Moçambique”. Palavras que deixaram muitas interrogações sobre a quem efectivamente o juiz mandava os recados.
No fim da sessão, o Canalmoz contactou cada advogado envolvido no caso e outros juristas que assistiam ao julgamento, para ouvir a opinião deles sobre as palavras do juiz Dimas Marrôa.
Filipe Sitoe
Para Filipe Sitoe, advogado de defesa de Deolinda Matos, as palavras do juiz Dimas Marrôa fazem todo o sentido, porque são normais para um juiz: “É um discurso muito normal, porque chama atenção para a situação que provavelmente esteja a viver. O juiz demonstrou coragem”.
Custódio Duma
Custódio Duma, um conhecido jurista que acompanhou o julgamento, disse que: “É completamente normal a sua reacção, mostrou o seu bom instinto de defesa pessoal”. Mas Duma não concorda com os princípios usados para condenar alguns réus, como é o caso do ex-ministro dos Transportes e Comunicações, porque, segundo ele, algumas sentenças não respeitaram o princípio penal. “A pessoa deve ser julgada por factos sobre os quais teve possibilidade de se defender. Neste caso, em particular, de acordo com a minha experiência, há discussão da própria causa “, disse.
Máximo Dias
Já o advogado Máximo Dias, defensor de Antenor Pereira, preferiu não comentar as palavras do juiz: “Não sei nada sobre se a vida do juiz corre perigo ou não. Não posso responder nada. Porque eu não sei nada”.
Abdul Gani
Sobre as declarações do juiz, segundo as quais a sua vida corre perigo, Abdul Gani, o advogado mais inconformado com a sentença disse o seguinte: “Eu não quero chegar a esta conclusão. Vocês jornalistas ouviram a sentença, chegarão à vossa conclusão, pelo conteúdo das palavras do juiz. Não vou chegar a esta conclusão. Vocês podem chegar às conclusões que quiserem. Sobre as palavras do juiz não quero comentar, não quero pronunciar-me, nunca ouvi falar duma coisa destas, eu não quero pronunciar-me sobre isto. O juiz tem as suas informações, sinceramente eu nunca ouvi isto. É a primeira vez que oiço isso”.
Vasconcelos Porto
Já o advogado Vasconcelos Porto, outro inconformado com a sentença, ao comentar as palavras do juiz Dimas Marrôa, declarou: “Isso é a opinião dele, eu não sei. Sobre se a vida dele corre risco, eu acho que é despropositado. É perfeitamente despropositado. Não sei a que propósito o juiz faz essas declarações. Por amor de Deus, o que é que significa um réu estar na cadeia a ameaçar alguém que está fora? O meu constituinte foi condenado a 22 anos de cadeia. Poderá ameaçá-lo por vingança?”.
Damião Cumbana
O advogado de António Bulande, foi quem dissipou possíveis equívocos ao preferir falar da sua relação de amizade com o juiz: “Eu não me meto nisso, não sei de nada. Se quiser saber, sou um grande amigo do juiz Dimas Marrôa”. (Matias Guente)
CANALMOZ – 01.03.2010