Os dados oficias que têm sido divulgados sobre a problemática são unânimes em apontar que milhares de habitantes estão à beira de ficar privados de comida, havendo já apelos de doação de alimentos, com destaque para cereais, para minimizar o impacto.
Os números indicam que extensas áreas cultivadas e nas quais as comunidades depositavam a esperança de colher alimentos para a sua subsistência e/ou para a comercialização foram duramente “incendiados” pelo intenso calor que se regista, facto agravado pela escassez de chuvas.
Enquanto que nas províncias de Gaza e Manica o destaque é o drama que poderá ocorrer devido à falha na produção de alimentos, informações que nos chegam de Mongicual, em Nampula, apontam que as autoridades administrativas locais estão já com as atenções viradas para a segunda época. É nela que vêem a esperança de dias melhores.
AMEAÇADAS 24 MIL ALMAS EM MABALANE E CHIGUBO
MAIS de quatro mil famílias, representando 24.615 pessoas, necessitam de ajuda alimentar e água nos distritos de Mabalane e Chigubo, a norte da província de Gaza, devido à intensa seca que se faz sentir naqueles pontos do país derivada da fraca queda de chuvas que originou a destruição de culturas, com destaque para milho, mapira, feijão-nhemba e amendoim.
Segundo informações colhidas pelo “Notícias” na II Sessão ordinária do Governo Provincial, a situação de segurança alimentar é crítica naqueles dois distritos nortenhos, podendo-se estimar que cerca de 80%25 das culturas poderão ser dadas como perdidas.
Alia-se também a esta crise alimentar o esgotamento dos celeiros das populações que tinham reservas desde Novembro do ano passado, podendo desta feita observar-se casos de fome a partir do mês de Março.
Face a este cenário, algumas populações têm estado a desenvolver actividades comercias que criem possivelmente uma mitigação da fome, como a troca de animais domésticos com farinha de milho e venda em dinheiro dos mesmos para compra de comida.
O Programa Mundial de Alimentação (PMA), em parceria com a Samaritan, está a dar algum apoio alimentar através da estratégia comida pelo trabalho.
O governador de Gaza, Raimundo Diomba, apelou à Direcção Provincial de Agricultura a orientar os camponeses de modo a privilegiarem as culturas resistentes à seca, casos das mandioqueiras e batata-doce, para além de se fazer mais investigação aplicada por forma a descobrir outras culturas que se adaptam à queda irregular das chuvas e ao calor intenso.
- Virgílio Bambo
QUASE 43 MIL PESSOAS SOB RISCO EM MANICA
CERCA de quarenta e três mil pessoas poderão enfrentar fome aguda a partir de Março próximo na província de Manica em consequência da estiagem que assolou aquela região do centro do país, resultando na perda de 162 mil hectares de culturas diversas da primeira época.
Os dados vêm contidos num comunicado de Imprensa distribuído há dias na capital provincial, Chimoio, através do qual o Governo local manifesta a sua preocupação e apela à solidariedade para com a população carenciada.
Devido à sua gravidade, a problemática foi debatida em sessão do Governo orientada pela respectiva governadora, Ana Comoane. Dados a que o “Notícias” teve acesso indicam que os distritos de Tambara, Macossa, Gondola e cidade de Chimoio são os mais afectados pela estiagem e estima-se que 42.946 pessoas distribuídas pela província estejam em situação de extrema vulnerabilidade à insegurança alimentar, com destaque para Tambara, Machaze, Macossa e Guro.
O Governo de Manica aponta ainda as pragas de gafanhoto elegante e lagarta invasora nos distritos de Sussundenga, Mossurize, Machaze, Tambara e Guro, a ocorrência da mosca da fruta e o conflito Homem/fauna bravia em outros pontos da província, para além da seca cíclica, aridez dos solos e a venda descontrolada de milho como sendo também causas da fome em Manica.
Na nota de Imprensa, o Governo refere que na presente campanha agrícola de 2009/10 foram planificados cerca de 750 mil hectares de culturas diversas, com destaque para cereais, leguminosas, tubérculos, hortícolas e fruteiras. A área supera a da campanha anterior, dado que na altura haviam sido perspectivados quase 690 hectares e esperava-se colher cerca de 1.9 tonelada, contra as 1.6 do período anterior.
Os dados apontam que 22 porcento da área planificada ficou perdida e um dos grandes entraves ao acesso dos alimentos por parte das famílias mais vulneráveis é o alto preço praticado na compra principalmente do milho em todos os mercados da província.
O Governo de Manica admite que dentro de um ou dois meses os efeitos poderão começar a fazer-se sentir, uma vez que alguns agregados familiares de Tambara e Guro já começaram a diminuir o número de refeições de três para uma apenas.
Por outro lado, a estiagem provocou a escassez de água para o consumo, dada a secura de muitas fontes.
Nesse sentido, já se verifica o consumo de água imprópria tirada de charcos.
- Victor Machirica
MOGINCUAL APOSTA NA SEGUNDA ÉPOCA
AS autoridades administrativas do distrito costeiro de Mogincual, na província de Nampula, desencadearam já uma campanha de mobilização das populações no sentido de darem prioridade às culturas da segunda época, porque parte considerável da primeira considera-se perdidas, devido à escassez de chuvas que se fez sentir em algumas áreas, por sinal potenciais produtoras do distrito.
O administrador daquele distrito, Salvador Talapa, disse à nossa Reportagem que as actividades de mobilização em curso visam também incentivar os camponeses a praticarem culturas consideradas tolerantes à seca, como é o caso da mandioca não amarga, que em épocas de crise alimentar as populações a ela têm.
Ainda bem que, à semelhança do que está a acontecer noutros distritos da província de Nampula, em Mogincual esteja em curso um grande projecto de substituição da mandioca amarga, por o seu consumo constituir um sério risco para a saúde das pessoas, pois provoca uma doença denominada neuropatia tropical.
“É um grande trabalho que estamos a fazer neste momento junto das populações. Queremos que as zonas baixas que temos sejam muito bem aproveitadas para o cultivo de batata-doce e hortícolas. Incentivamos igualmente o cultivo de gergelim e outras culturas de rendimento”, disse.
A fonte acrescentou que para a concretização do que se pretende com esta mobilização, o Governo Distrital já manteve vários encontros não só com os produtores do sector familiar como também com grandes agricultores privados e os líderes comunitários os quais mostraram-se favoráveis à realização desta campanha.
Salvador Tapala referiu que apesar de parte considerável das culturas da primeira época ter sido perdida devido à queda irregular das chuvas naquele distrito, por enquanto não parece haver perigo de que possa haver fome, tanto mais é que está esperançado na obtenção de bons resultados nas culturas da segunda época.
De acordo com dados fornecidos pelo administrador distrital, Mogincual projecta atingir na presente campanha agrícola pouco mais de 191 mil toneladas de produtos diversos. Mesmo com a situação da queda irregular das chuvas, facto que afectou as culturas da primeira época, a fonte reforçou que á défice poderá ser suprido com as do segundo ciclo.
O distrito de Mogincual e outros situados na zona costeira da província de Nampula são vulneráveis a intempéries. Em 2008 aquele distrito foi fortemente afectado pela fome, isso devido à passagem do ciclone “Jókwè”, que deixou um rasto de destruição em vastas áreas de diversas culturas, além de importantes infra-estruturas.
Foram destruições que exigiram das autoridades governamentais o redobrar de esforços no sentido de garantir a produção de mais comida, principalmente nas zonas mais fustigadas pelas calamidades natural, como é o caso do posto administrativo de Namige. Tal esforço fez com que no ano passado o distrito não se ressentisse da falta de alimentos.