Numa entrevista à Agência Lusa, à margem de um colóquio internacional sobre a sua obra realizado recentemente em Antuérpia, Bélgica, um dos grandes nomes da literatura lusófona defende que o peso da língua portuguesa no mundo dependerá daquilo que os países de língua oficial portuguesa fizerem para se afirmarem em áreas que não propriamente as linguísticas, dando como exemplo o despontar do Brasil como potência mundial.
"O futuro da língua portuguesa é muito o futuro daquilo que seja a nossa afirmação – dos países que falam português –, como países que podem ter um outro lugar no mundo, a nível da economia, a nível da política, a nível daquilo que possam ser exemplos de caminhos que são inovadores, que sejam alternativos a uma coisa que está muito fatigada, que é o discurso político que hoje domina o mundo", declarou.
Para o escritor moçambicano, "esta língua tem que ter um futuro naquelas áreas que não são propriamente linguísticas".
"Acho que o futuro da nossa língua não depende só disso que é a grande bandeira do número de falantes, ou do peso demográfico que os brasileiros, portugueses, angolanos, moçambicanos, etc, possam ter", disse, sustentando que o futuro depende muito mais do que está a acontecer por exemplo no Brasil hoje.
"O Brasil hoje está-se afirmando como uma grande potência a nível mundial e isso pode ter um efeito sobre o futuro da nossa língua muito mais do que o discurso passadista de lembrar quanto glorioso foi o passado desta língua", afirmou.
Da mesma forma, Mia Couto considera que a aproximação entre os países da CPLP depende mais de outras políticas do que a linguística, quando questionado sobre os efeitos da entrada em vigor do acordo ortográfico.
"Por que é que existem distâncias, por que é que existem desconhecimentos nesta família? Não é porque nós temos alguma dificuldade em ler os brasileiros, ou os brasileiros lerem-nos a nós (…) Não vejo que, automaticamente, por termos uma grafia comum, os brasileiros possam perceber melhor onde é que é Moçambique, por exemplo", disse.
"Há aqui um profundo desconhecimento que, para mim, é muito mais grave do que qualquer questão ortográfica e que passam por políticas de aproximação, por políticas de troca de informação que não existem", concluiu.
Mia Couto falava à Lusa em vésperas da Conferência Internacional sobre o futuro da língua portuguesa que hoje termina em Brasília, culminando com a VI Reunião Extraordinária do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.