A organização internacional Save the Children revelou em Maputo um extenso relatório sobre o tráfico interno e a exploração de crianças, casos que ocorrem em diversas comunidades em Moçambique, sobretudo com recurso ao engano ou fraude e com o envolvimento frequente de familiares ou outras pessoas próximas às vítimas. É o resultado de um trabalho feito por um grupo de 27 pesquisadores, grupo constituído maioritariamente por professores universitários, sob a liderança de especialistas da Save The Children em Moçambique, organização que encomendou o estudo, noticiou a Voz da América.
Acrescenta o correspondente daquela estação norte-americana em Maputo, Francisco Júnior, que o relatório, de 98 páginas, defende que o tráfico interno e a exploração de crianças ocorrem em diversas comunidades em Moçambique, sobretudo com recurso ao engano ou fraude e com o envolvimento frequente de familiares ou outras pessoas próximas às vítimas.
Factores da natureza macro, como a prevalência do HIV/SIDA, e elevadas taxas de pobreza e de desemprego, factores de índole interpessoal, como elevados níveis de violência doméstica, abuso físico, sexual e psicológico das crianças, baixo nível de confiança e fé nos agentes da lei, e factores de natureza pessoal, como baixos níveis de sucesso académico, baixa auto-estima, viver numa instituição ou na rua...Tudo isso consta no relatório como factores de risco e vulnerabilidade que ajudam a tornar fértil o caminho para os traficantes.
Ilundi Cabral é antropóloga de formação. Fez o mestrado em estudos migratórios na Itália. Neste momento, ela é Gestora de Migração e Anti-tráfico, na Save The Children em Moçambique. Foi ela a assistente deste trabalho de pesquisa, refere a VOA.
O trabalho de campo foi realizado em seis províncias do centro e sul de Moçambique, tendo sido entrevistadas mais de quinhentas crianças, com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos de idade, e mais de setenta pessoas adultas que poderiam partilhar informação sobre o tráfico e a exploração de crianças e mulheres jovens.
Com este relatório, a Save The Children diz esperar estar a dar a sua contribuição, no sentido de lançar as pistas para uma melhor compreensão do fenómeno do tráfico interno e a exploração, particularmente de crianças, bem como o aumento da consciencialização das pessoas para um problema que se está a mostrar cada vez mais preocupante, em Moçambique.
O relatório é sobre o tráfico interno e a exploração de mulheres e crianças em Moçambique.
Moçambique já tem uma lei de combate ao tráfico, aprovada em 2008 pelo parlamento. A lei prevê penas que podem ir até 20 anos de prisão para aqueles que cometam crimes de tráfico de seres humanos. (Redacção / VOA)
CANALMOZ – 23.03.2010