O ex-Presidente da República Mário Soares considerou hoje que a descolonização portuguesa "foi exemplar", tendo em conta "as condições" em que o país estava em 1974, após a revolução de 25 de Abril desse ano.
"Nas condições em que estávamos em 1974 e depois de 13 anos de guerras coloniais da responsabilidade absoluta dos dois ditadores, o Salazar e o Caetano, isso temos que reconhecer que depois disso aquilo que conseguimos e as relações que estabelecemos para depois (...) temos que dizer que a descolonização foi exemplar", disse, no colóquio "Vozes da Revolução: Guerra Colonial e Descolonização".
No colóquio que decorreu no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), Mário Soares lembrou que sempre teve a ideia clara que "era preciso urgentemente fazer a descolonização", que "era indispensável não perder tempo" e que "quanto mais tarde fosse feita pior seria".
"Eu achava que era importante fazer a descolonização por uma razão que - penso - é importante e decisiva: é que sem descolonização não havia democratização, não podia haver. Não convencíamos ninguém internacionalmente, não encontrávamos apoios internacionais", disse.
Apesar disso, o antigo Chefe de Estado admitiu: "a única experiência de África que tinha tido é ter sido deportado uns meses em São Tomé (...) fora isso, passei umas horas no aeroporto de Luanda enquanto me levaram de Luanda para São Tomé. De modo que não tenho nenhuma experiência africana".
Relatando vários episódios da sua relação com António de Spínola, o primeiro Presidente da República após o 25 de Abril de 1974, Soares considerou depois que a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE) "foi muito importante" para as relações de Portugal com as suas ex-colónias.
"Lembro-me quando estava nas negociações, quer com Angola, quer com Moçambique, eles não diziam por uma questão de cortesia, mas pensavam e eu percebia: o que vai ser dos pobres portugueses naquele rectangulozinho", começou por afirmar.
E acrescentou: "Penso que a partir do momento em que entrámos na União Europeia e começámos a ter peso nas decisões europeias e internacionais, a partir daí começou a haver o sentimento da parte dos africanos que precisavam de nós, que éramos úteis para eles e que nos deviam olhar com outros olhos (...) isso permitiu que anos depois de termos entrado na CEE termos criado a CPLP, em que eu aposto como grande motivo".
No colóquio, Mário Soares definiu António de Spínola como "um patriota português".
"Tive algumas pegas com o general Spínola (...) [mas] Ele morreu em excelentes relações comigo e eu com ele porque eu tinha muita estima por ele. Acho que ele teve um comportamento nisto tudo que apesar de tudo foi linear, percebíamos bem o que ele queria (...) ele era um patriota português, não tinha talvez a flexibilidade política para perceber que a pátria se salvava melhor com a paz do que com a guerra", considerou.
Lusa - 2010-04-16