Em entrevista ao semanário sul-africano “Mail and Guardian”, que se edita em Joanesburgo, Graça Machel condenou a Grã-Bretanha pela sua atitude de “irmão mais velho” na abordagem do problema zimbabweano.
Membro fundadora do grupo dos líderes seniores mundiais, Graça Machel advertiu aos políticos britânicos para considerarem outros países, neste caso o Zimbabwe, e deixarem os africanos envidarem esforços na busca de uma solução duradoira para o problema que afecta aquele país da região.
Graça Machel referiu que na abordagem da crise zimbabweana se registam falhas ou imperfeições devido ao que classificou de “persistente mentalidade imperialista”.
Na entrevista, citada ontem pela Agência de Informação de Moçambique (AIM), a antiga Ministra da Educação de Moçambique precisou que agora seria altura de Grã-Bretanha reexaminar as relações que mantém com as ex-colónias, incluindo o Zimbabwe.
A mulher do líder histórico do Congresso Nacional Africano (ANC) sublinhou que com as independências, a partir dos anos 60, as antigas colónias desejam manter, com a Grã-Bretanha, um relacionamento em pé de igualdade e não aquele em que Londres seja visto como sendo o “irmão mais velho” no processo.
”Quando uma dada Nação se torna independente sempre é seu desejo manter um relacionamento de igual para igual com a sua antiga potência colonial”, sustentou, frisando que é por isso que a Grã-Bretanha continua a encarar com dificuldades o problema do Zimbabwe, por causa deste tipo de relacionamento paternal.
A Grã-Bretanha, juntamente com a União Europeia e os EUA, impôs sanções e restrições de viagens e congelou bens do Presidente zimbabweano, Robert Mugabe, e alguns membros do seu Governo. Ao mesmo tempo, as três partes impediram o FMI e o Banco Mundial de conceder empréstimos ao governo do Zimbabwe.
Londres, de acordo com Graça Machel, desafiou apelos feitos pela África do Sul para o levantamento do embargo selectivo, com vista a salvar o Governo de Unidade Nacional. Nos limiares deste ano, o MNE britânico, David Miliband, declarou que Londres “guiar-se-ia” por aquilo que o Movimento para Mudança Democrática (MDC) dissesse sobre os progressos no Zimbabwe.
Críticos sugeriram que aquele pronunciamento criou condições para a ZANU-PF do presidente Robert Mugabe lançar uma campanha de propaganda, que permitiu que o MDC fosse visto como sendo um “fantoche” da Grã-Bretanha, bem como responsabilizado pelas sanções selectivas contra o governo.