SACO AZUL
Por Luis Guevane
Depois de a “RM” ter passado a “novela” relativa ao bairro Muelé, em Inhambane, no dia 14 de Abril deste ano, que dava conta de um trabalho feito por alguns membros da Ametramo, na escola secundária com o nome do mesmo bairro, tive a sorte de ser convidado para uma troca de impressões. Num dos momentos da conversa, o meu interlocutor mostrou-se claramente aborrecido com o problema e disse-me o seguinte:
- O que está a acontecer naquela escola é uma clara demonstração de que os directores das escolas não têm um mínimo de formação na área de administração. É uma falta de ética e de deontologia profissional, é uma falta de respeito à instituição que os tutela bem como à comunidade.
- Mas, ele insere-se numa determinada comunidade. É um fenómeno cultural, não é? – questionei.
- Um indivíduo bem formado não faz aquilo. A escola congrega uma diversidade de realidades culturais que devem ser respeitadas. Aquilo é uma escola pública! Não pode! – afirmou.
- Mas, pode ser um exemplo a seguir por outras escolas, empresas, ministérios, etc., com a mesma realidade, onde a mortalidade, de 2006 até hoje, tem sido assustadora. A Ametramo pode ter um papel de relevo no sentido de reverter a situação. Tente olhar para esse lado positivo – sugeri.
- Será que não é fácil perceber que aquilo não é uma escola privada? Mesmo que fosse. Olha, o director está perante uma comunidade escolar bastante diversificada. Há uns que têm por base o curandeirismo e outros não. Há religiões que não alinham com o curandeirismo. Isto significa que o que prevaleceu foram as crenças do director daquela escola. E as crenças dos outros? É por isso que eu falava do problema de formação. Que o director levasse os curandeiros à sua casa para resolver os problemas da sua família, isso sim, concordo. Agora, repare no seguinte, estão a associar as mortes que foram ocorrendo desde
- Mas, é só por isso? É nossa cultura acreditar no poder dos curandeiros. Estes comunicam-se com os defuntos. Se calhar não foi a ideia do director, mas sim do conselho de escola.
- Ai não foi? Ele, então, é ali um espantalho? Quantos alunos e funcionários têm a escola? O articulista falava em cinco mil alunos. Mais os funcionários devem ser, por ai, cinco mil e qualquer coisa. Qual o estado de saúde de cada um? De
- És tão pessimista meu caro. O importante é remover dali as ossadas do curandeiro e sua esposa, acho; mas, mais do que isso, o importante é reconfortar aquela comunidade desesperada. É preciso acalmá-la espiritualmente – disse eu.
- E isso está orçamentado? Eles é que te informaram que precisam disso? Eles é que te disseram que estão desesperados? Estás, isso sim, como o director, a traumatizar uma boa percentagem daqueles alunos que nada têm a ver com o caso.
E, depois de conversarmos mais umas tantas horas sobre o assunto, cada um seguiu o seu caminho.
SAVANA – 16.04.2010