O Zimbabwe passou por um período de turbulência política e uma grave crise económica nos últimos anos.
Cerca de quatro milhões de pessoas fugiram do país, aproximadamente um terço da população, e a grande maioria daqueles que ficaram já não têm emprego formal.
Os críticos do presidente Robert Mugabe dizem que a causa dos problemas do país é o seu controverso programa de reforma agrária, que levou ao afastamento forçado dos agricultores brancos das suas terras para as entregar a negros, muitas vezes com o apoio violento dos veteranos do movimento de libertação.
Mas outros pensam que esta política corrige os erros do passado colonial zimbabweano.
O jornalista da BBC, Dan Isaacs viajou pelo Zimbabwe para ver qual o preço que as pessoas pagaram pela reforma e para encontrar os novos proprietários das terras.
O repórter da BBC diz que pode ver terrenos agrícolas em todas as direcções até o olho humano poder ver.
Ele visitou o que costumava ser um terreno de exploração mecanizada intensiva, mas onde agora nada está a ser produzido. Tornou-se num campo relvado. E esta fazenda é propriedade de um veterano de guerra.
"O meu nome é camarada Andy Metlanger. Como veteranos de guerra estamos satisfeitos com o sucesso do programa de reforma agrária.
“Pode não ter tido 100 por cento de sucesso, mas foi bem sucedido porque os terrenos agora pertencem ao povo do Zimbabwe”, disse.
Embora veteranos de guerra como Andy Metlanger tenham sido felizes com a reforma agrária, eles não puderam cultivar as terras como queriam e queixam-se da falta de acesso a investimentos.
Caso de sucesso
O jornalista da BBC quis encontrar uma fazenda onde os novos proprietários conseguiram uma utilização eficaz dos terrenos, apesar dos desafios económicos.
Ele visitou uma fazenda de produção de tabaco, dirigida por Stan Kasaperi e a sua mulher Jane. Stan é bem relacionado com negócios na capital Harare e o seu irmão como ministro no governo.
"Todos os agricultores ficam satisfeitos quando os seus terrenos produzem o máximo, quando utilizamos toda a área dos nossos terrenos”, referiu Stan.
Mas o processo pelo qual ele adquiriu os terrenos foi altamente politizado, será que Stan não sente a responsabilidade que tudo corra pelo melhor?
“Eu tenho que me certificar que o meu país não é alvo da chacota do mundo e como é que eu o faço? Tenho de trabalhar arduamente. Como pode ver eu e a minha mulher Jane estamos muito empenhados nesta fazenda”, concluiu Stan.
"É engraçado porque dizem que Mugabe faz e diz coisas disparatadas, mas os britânicos estão a fazer exactamente o mesmo mas de uma forma silenciosa, ao imporem sanções económicas”, disse Jane.
Mas será que Jane sente pena ou culpa por estar num sítio de onde agricultores brancos foram violentamente expulsos?
"Eu sinto pena deles mas não me sinto culpada, porque vivemos num mundo complicado. Este é o meu país e esta terra pertence-me”, afirmou Jane.
Pobreza
Este é um lado diferente da reforma agrária. Os silos de tabaco já chegaram a estar cheios por esta altura do ano.
Agora são a residência de trabalhadores agrícolas que foram dispensados de uma fazenda nas proximidades.
"Vivo aqui há três anos, porque não temos mais nenhum sítio para onde ir. Vivo com três filhos e a minha mulher", disse um ex-trabalhador.
Estas pessoas vivem em armazéns estão divididos por lençóis, não há água nem luz com a excepção de velas. Este é um armazém, que não foi construído para ser habitado e não há ajuda do governo, nem ajuda de ninguém para encontrarem um sítio para viver, nem trabalho nas propriedades agrícolas.
Agricultores ausentes
O jornalista da BBC termina a sua viagem em Harare para procurar um dos fazendeiros ausentes. Bright Metonga é um antigo ministro e actualmente deputado da Zanu-FP.
"Aquilo que tem de entender é que isto foi uma revolução. Mas agora as coisas acalmaram, a produção vai crescer e as pessoas aperceberam-se que a reforma agrária é irreversível”, referiu Metonga.
Metonga foi questionado porque é que a sua fazenda de citrinos perto de Chegutu, não tem qualquer produção ou cultivo.
"Tem de entender que a produção eficiente precisa de capital. Não há capital, há muito pouco nos bancos."
“Mas já houve melhorias porque os bancos começam a ser mais activos. Eles sabem que a agricultura é a grande aposta do desenvolvimento sustentável do Zimbabwe”, referiu Metonga.
Bright Metonga está certo, a grande área de desenvolvimento do país é a agricultura, um processo que foi interrompido pela reforma agrária.
Alguns no Zimbabwe acreditam que valeu a pena, enquanto outros são mais cépticos. Resta agora que os novos proprietários zimbabweanos aprendam a cultivar os terrenos, para o bem de todo o povo.
BBC – 15.04.2010