A descoberta de petróleo, recurso alvo de intensas pesquisas em Moçambique, pode tornar-se “numa maldição” para o país, se as elites monopolizarem as vantagens provenientes da venda do crude, alertou, nesta Terça-feira, o jornalista da Guiné-Equatorial, Donato Bidyogo.
Várias multinacionais estão actualmente envolvidas na pesquisa de petróleo no centro e norte de Moçambique, onde a existência de grandes quantidades de hidrocarbonetos é encarada como indício da existência do crude.
Com base na experiência do seu próprio país, a Guiné-Equatorial, o terceiro maior produtor de petróleo na África Subsaariana, depois da Nigéria e de Angola, Donato Bidyogo afirmou que “o petróleo pode trazer desgraça, tornar-se numa maldição e não no maná que muitas vezes se pensa que é”.
“Por má fé, as elites dominantes empreendem uma má gestão, uma má administração dos recursos petrolíferos e outros hidrocarbonetos, para serem os únicos a apropriar-se dos benefícios, tornando-os numa maldição”, sublinhou o jornalista, exilado em Espanha, quando falava numa palestra sobre “Petróleo e Subdesenvolvimento na Guiné-Equatorial”, promovida pelo Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) de Moçambique.
Apesar de vir de um histórico de tirania e repressão desde os anos da independência nos anos de
“A democracia que o regime estava a ensaiar antes da descoberta do petróleo transformou-se logo numa paródia, quando o país se viu com petróleo. As liberdades que se começavam a respeitar foram logo suprimidas”, enfatizou.
Para Donato Bidyogo, a tortura e a intimidação podem ser usadas para reprimir qualquer tentativa de alguns sectores da sociedade de exigir transparência nas receitas de petróleo e assim deixar o campo aberto para o enriquecimento das oligarquias no poder ao tempo da descoberta do crude.
“Na Guiné-Equatorial é normal inventarem-se golpes de Estado e alegados crimes contra a segurança do Estado como pretexto para colocar fora de acção opositores incómodos”, acrescentou.
Ainda segundo o jornalista, apesar de o petróleo ter permitido à Guiné-Equatorial ter um rendimento anual per capita de 50 mil dólares, acima de muitos países ricos, a produção do crude não evitou, entretanto, que o país tivesse mais de 50 por cento da sua população a viver com menos de um dólar por dia.
O meio ambiente degradou-se, a inflação disparou e a maioria da população perdeu a auto-suficiência na agricultura artesanal, passando a depender de produtos agrícolas importados dos países vizinhos, e os problemas ecológicos agudizaram-se, observou Donato Bidyogo.
SAVANA – 30.04.2010