SACO AZUL
Por Luis Guevane
A Chama da Unidade vai percorrendo o seu itinerário pelo país. A tocha vai criando euforia entre os populares. É, no fundo, uma chamada à unidade nacional. Ao seu reforço. Mas, também, é uma oportunidade para, mais uma vez, poder-se reflectir sobre a questão da unidade nacional.
O que é que põe os moçambicanos unidos? O território nacional pode ser uma resposta. A diversidade cultural e linguística pode ser uma outra possibilidade de resposta. A história “comum”, o desejo de fazer de Moçambique um país próspero, o apego à luta pelo desenvolvimento, pelas fontes de liberdade, etc., podem perfilar no leque de possibilidades de respostas.
A pergunta dá margem para um vasto campo de respostas o que permite pegar numa dessas possibilidades e retratá-la. Por enquanto escolhamos “o apego à luta pelo desenvolvimento” como resposta à pergunta “O que é que põe os moçambicanos unidos?”
O apego à luta pelo desenvolvimento une, de facto, os moçambicanos. Não vou aqui descartar a luta pela independência nacional como fazendo parte desta. Prefereria, antes de tudo, colocar alguns aspectos ligados ao desenvolvimento como, por exemplo, o estágio de desenvolvimento da agricultura, da indústria, do comércio, etc., que espelham melhor o que se pretende.
Colocar aqui a questão de luta pelo desenvolvimento como factor de unidade dos moçambicanos pode parecer simples. Mas, para não dificultar ou complexizar a abordagem, optarei por questões possíveis. Por exemplo, o estágio de desenvolvimento da agricultura ainda não permite que Moçambique seja auto-suficiente em termos alimentares. O reflexo deste problema é, por si, esclarecedor de que, de facto, existe alguma unidade entre os moçambicanos?
E se tocássemos numa agricultura intensiva, nas áreas de elevado potencial, onde se podem fazer sentir como efeitos locais, em termos gerais, a degradação do solo com algumas externalidades como a perda de biodiversidade ou enfraquecimento dos lençóis freáticos, entre outros aspectos, o que diríamos? Mesmo a agricultura extensiva, nas áreas menos favorecidas produz os seus efeitos locais como, por exemplo, a erosão dos solos ou o enfraquecimento dos nutrientes. Tanto uma como a outra têm o mérito de produzir alimentos.
Os problemas que continuam a enfrentar, para além dos já referidos, prendem-se com os baixos níveis de produção e produtividade onde a qualidade de sementes tem vindo a condicionar, também, esses níveis. Não só, a extrema dependência relativamente às condições naturais põe a nú o tamanho do problema na agricultura nacional, sobretudo, aquela que abarca a maior percentagem da população moçambicana – a dita agricultura tradicional. Como é que nos temos unido para combater estes problemas? E, a agravar todo este quadro está a pobreza e o seu significado nas famílias rurais. Essas famílias lutam para melhorar os níveis de produção e produtividade mas, debatem-se frontalmente com os problemas já referidos. O que fazem para alterar o quadro a seu favor?
Como é que nos temos unido para aumentar os efectivos pecuários, sobretudo no sul do país com o gado bovino? E o gado caprino? A criação de gado em regime extensivo é uma realidade para a maioria dos criadores. Sendo assim, o que fazer para que este facto se traduza em benefício? Quer dizer, o que fazer para que os animais não tenham crescimento lento, baixo peso, ainda que a seu favor esteja o factor resistência?
O fomento pecuário tem o seu mérito. Mas, certamente que ainda está na escala do possível e não dentro daquilo que seria o mínimo desejável. A aposta é ainda modesta. Os níveis de investimento tanto na agricultura como na pecuária refletem as dificuldades de acesso ao capital necessário para tal, e não só. Continuamos presos á ideia de que a agricultura é uma actividade de risco e, de facto, é. O importante é que haja inteligência suficiente para que, nas condições em que o país se encontra, essa verdade não constitua factor de acomodação e de inércia por parte dos que dirigem os destinos do país. Aqui a questão é: o que fazer para que a agricultura não seja uma actividade de risco? O que a nossa unidade nacional nos tem emprestado para responder a esta questão?(Cont.)
SAVANA – 28.05.2010