Por Fernando Gonçalves
Depois de todo o fervor e entusiasmo com que foi propalado por dirigentes políticos e especialistas de toda a espécie nos primeiros anos da segunda metade desta década, ninguém seria acusado de detractor se concluísse que o projecto dos bio-combustíveis, e da jatrofa, em particular, tenha fracassado.
Mas muito discretamente, longe da ribalta, sem os característicos dogmas políticos de anos recentes, os quais muitas vezes podem transformar causas nobres em autênticos fracassos, 3,3 milhões de pés da planta de jatrofa vão crescendo a escassos quilómetros do centro da cidade de Chimoio, a capital da província central de Manica.
As mais antigas, postas no chão há quase dois anos, já começaram a florir. A primeira colheita industrial desta cultura deverá ocorrer dentro dos próximos meses, na mesma altura em que uma prensa recentemente instalada irá produzir os primeiros litros de óleo de jatrofa.
Tudo isto é produto de um investimento de 7 milhões de dólares realizado pela SunBiofuels, uma firma britânica dedicada ao negócio dos bio-combustíveis. A empresa ocupa actualmente na província de Manica um total de 2
De acordo com o modelo de negócio da SunBiofuels, o plano é de que com a concessão de mais terras pelo Estado, totalizando entre 10 e 15 mil hectares, será possível dentro dos próximos quatro anos produzir três milhões de litros de óleo de jatrofa por ano. Este óleo pode ser transformado em bio-diesel, pronto para o consumo.
Enquanto isto não ocorre, o que implicará também a construção de uma refinaria, com a nova prensa ainda a instalar este mês será possível extrair óleo para alimentar geradores, e a partir destes fornecer energia às aldeias circunvizinhas.
Electrificação
O plano de electrificação está a ser discutido conjuntamente com a Electricidade de Moçambique e o Fundo Nacional de Energia (FUNAE), tendo em vista o seu possível envolvimento na construção das linhas de transmissão, em cumprimento do seu mandato no programa de electrificação rural.
A expectativa é de que com o projecto de Manica a funcionar na sua máxima capacidade, o bio-diesel produzido com base na jatrofa possa responder a cerca de 10 porcento das necessidades de Moçambique em combustíveis.
Mas, contrariamente à ideia que foi lançada quando pela primeira vez se aventou a possibilidade de recorrer aos bio-combustíveis como uma fonte alternativa e renovável de energia, trata-se de um investimento de longo prazo, que exige muita terra e que envolve operações de investigação para o apuramento de melhores resultados. O ciclo de vida de uma planta de jatrofa varia de
Ao nível da pequena escala, camponeses podem desenvolver esta cultura, mas o seu posicionamento tem que ser nas proximidades de uma operação industrial que possa servir de mercado para a compra de pequenas quantidades. Será enganosa, por isso, a mensagem de massificação do cultivo da jatrofa que foi propalada nos últimos anos. Pequenas quantidades de jatrofa espalhadas por vários pontos do país não constituem uma fonte alternativa de energia viável. Foi esta mensagem que durante anos se perdeu ao longo da comunicação.
A plantação de Manica inclui um total de 60 variedades da planta de jatrofa. “Com isto pretendemos realizar testes para determinar a variedade de plantas com maior produtividade e o tipo de óleo que cada uma delas produz”, diz Sérgio Gouveia, um dos responsáveis da empresa.
Alguns mitos sobre a jatrofa
No auge do debate sobre a jatrofa, os que se opunha à ideia do seu cultivo avançavam uma série de argumentos desabonatórios sobre a planta. Um destes argumentos era de que o cultivo da jatrofa iria ocupar terras que deveriam ser aproveitadas para a produção de alimentos.
A verdade, porém, é que o cultivo da jatrofa em quantidades viáveis exige, de facto, grandes quantidades de terra. Mas sendo uma cultura extremamente resistente a condições climatéricas adversas, ela desenvolve-se muito bem em terras marginais, em solos tão pobres onde não é possível produzir culturas alimentares.
O outro mito era que a jatrofa, sendo venenosa, punha em perigo a vida de animais nas zonas rurais. O facto é que tal não constitui verdade. Dada a toxidade da planta, os animais nem chegam a tocar as suas folhas. Em Manica, as plantas foram colocadas em filas paralelas com uma separação de cerca de três metros cada. O intervalo entre as filas é preenchido de capim. Para cuidar do capim, os gestores do projecto têm como plano a introdução de gado, que se movimentará livremente pelos campos.
SAVANA – 14.05.2010