Os problemas foram paulatinamente emperrando o desenvolvimento do distrito com pouco mais de 70 mil habitantes a emergir, tais como, uma transitabilidade razoável, o fornecimento de energia eléctrica da rede nacional da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, telefonia móvel, Ensino Secundário Geral, entre outros que à primeira vista influenciam a maneira de ser e de estar dos habitantes.
A nossa Reportagem visitou recentemente aquele distrito, concretamente a vila sede distrital de Muecate, que até finais do ano passado era das poucas iluminadas 24 horas por dia, pela energia eléctrica da HCB. Actualmente, mais de 700 residentes já requereram e fizeram as respectivas instalações eléctricas nas suas residências construídas com material convencional ou precário mas que estão ansiosos em usar electrodomésticos.
Muitos cidadãos que residem na vila-sede de Muecate desde a altura da assinatura do Acordo Geral de Paz, a 4 de Outubro de 1992, foram unânimes em congratular o esforço que o governo provincial empreendeu para pôr um bem tão essencial para as comunidades: a energia eléctrica, muitas vezes solicitada junto dos visitantes do governo, sempre que escalassem aquele ponto da província de Nampula.
GOVERNO DEVE SER MAIS INTERVENTIVO
Residentes contactados pela nossa Reportagem referem que o governo local devia ter sido mais activo do que foi, sobretudo no que diz respeito à planificação, tendo em conta os recursos existentes.
“Estamos satisfeitos com a energia eléctrica que temos desde finais do ano passado. Isso implica que temos que redobrar esforços para recupera o tempo perdido, sobretudo ao nível das instituições públicas e algumas privadas cujo funcionamento pleno estava condicionado à corrente eléctrica. Por exemplo, já não necessitamos de nos deslocar à Nampula, Meconta, Namialo ou Nacala para fazermos uma simples fotocópia de um documento. Já temos o curso nocturno nas nossas escolas e o hospital é iluminado 24 horas ”, indicou António Lobo, residente em Muecate.
Lobo disse ainda que aquele esforço é ofuscado quando não é acompanhado de acções como por exemplo o uso maximizado dos recursos disponíveis. A título de exemplo, falou do sector da saúde que colocou uma médica que quase nada faz, por falta de material cirúrgico para e aparelhos para o exame do raio-x.
“Então questionamos, porque indicaram uma médica para um lugar que não reúne condições para o exercício cabal da sua missão. Ela apenas diagnostica as enfermidades e diz que os doentes devem procurar outras unidades sanitárias fora do distrito, o que se afigura oneroso para o bolso de muitos cidadãos sem posses”, disse Lobo.
Mateus António, comerciante no mercado informal local, sublinhou o facto de a energia eléctrica fornecida àquele distrito ser ainda de fraca qualidade, mas vale a pena agora do que antes “porque já podemos consumir produtos frescos e conservá-los por algum período”, exemplificou.
Entretanto, um outro entrevistado disse que a entrada em funcionamento da linha de média tensão que fornece energia eléctrica a Muecate devia ser acompanhada pela instalação de vários empreendimentos, como indústrias de processamento de madeira, produtos agrícolas de que o distrito é potencial detentor.
“Assim, poderiam se criar várias oportunidades de emprego para alguns jovens que acabam o ensino secundário e não conseguem prosseguir com os estudos localmente, para além de que os produtos localmente disponíveis e comercializados poderiam ser manufacturados aqui, para evitar a rotura de stock que se tem caracterizado em consequência da venda desenfreada e descontrolada dos víveres”, sublinhou por seu turno Jacinto Mecubúri, alfaiate de profissão.
Na sua explicação, Mecubúri sublinhou a necessidade de o governo trabalhar mais para encontrar meios para pôr em funcionamento o sistema de abastecimento de água à vila sede do distrito que se encontra inoperacional há mais de duas décadas. Embora saiba-se que já houve investimento para o efeito, desconhece as reais causas da falta de água nas torneiras dos consumidores.
“O governo do distrito não tem dado importância deste problema, porque os dirigentes consomem água mineral, para além de que nas suas residências tem cisternas para se abastecerem a vontade sem percorrer longas distâncias”, desabafou Jacinto Mecubúri.
No mesmo diapasão alinhou, Amélia Albano que foi mais longe ao firmar que por causa da escassez da água potável, algumas mulheres tem perdido os seus lares, particularmente no verão. Entre os meses de Agosto a Novembro há muita falta de água e é nessa altura em que se regista desintegração de famílias.
“Tem se registados muitos divórcios por causa de água, pois algumas mulheres saem das suas casas à procura de água nas primeiras horas da manhã. Nalguns casos só regressam por volta das 20 horas ou mais tarde. Quando isso acontece, os maridos não querem outras explicações se não se separarem das companheiras alegando infidelidade. Por isso pedimos que o governo resolva este problema”, pediu Amélia Albano.
MIL HECTARES PARA SEGUNDA ÉPOCA
OS camponeses de Muecate prepararam uma área de pouco mais de mil hectares para a sementeira de culturas como feijões e hortícolas, referentes à segunda época que iniciou em Abril, segundo nos informou Jacinto José Raul, substituto do director dos Serviços Distritais das Actividades Económicas.
“Tivemos duzentos quilos de feijão promix, dez quilogramas de couve, iguais quantidades de repolho e de tomate. E para fazer o aproveitamento das baixas, temos a disposição três motobombas e tanques com capacidade para depositar três mil litros de água que nos foi oferecido pela Direcção Provincial de Agricultura, para além de insumos agrícolas. A semente já foi recebida pelos produtores que estão organizados em associações e assistidos pelos nossos extensionistas”, disse Jacinto Raul.
Num outro desenvolvimento, o nosso interlocutor disse que tendo em conta que algumas regiões de Muecate tem se confrontado com o crónico problema da podridão radicular da mandioca, uma das principais culturas das populações, o seu sector adquiriu em Outubro e Novembro passados 80 mil hastes daquele tubérculo resistente ao fenómeno, igualmente distribuídas para as zonas propensas à doença.
Garantiu igualmente que a rede de extensionistas existente no distrito, composta por sete técnicos agrários vai monitorar todo o processo de preparação e acompanhamento de todas as acções de sementeira das culturas da segunda época nas 16 associações de produtores envolvidos que ainda contam com parceria de organizações não governamentais, tais como, a Visão Mundial e a Olipa.
“Tenho a enaltecer o envolvimento massivo de camponeses na preparação da segunda época agrícola, motivados certamente nos sistemas de produção em blocos, por isso afirmarmos que a segurança alimentar neste distrito está garantida”.
VIAS DE ACESSO DE ÁGUA
Outrora, era comum que o distrito de Muecate ficasse isolado dos restantes postos administrativos e localidades ou então da capital provincial, em consequência da interrupção da transitabilidade nalgumas estradas ou desabamento de aquedutos que permitiam a ligação entre aquelas regiões.
Actualmente, o cenário é diferente, pois nesta época chuvosa que se previam dificuldades para circular por via rodoviária, nalgumas zonas do distrito, pode-se fazer sem grande sobressaltos.
Por exemplo, a estrada que liga a sede do distrito ao posto administrativo de Imala, numa extensão de 37 quilómetros de estrada de terra batida em que antes se gastava pelo menos quatro a cinco horas, actualmente faz-se em menos de uma hora, segundo deu a conhecer Daguberto Ernesto Alfeu, chefe do pelouro dos Serviços de Planeamento e Infra-estruturas.
Com um total de 728 quilómetros de estrada, sendo 159 classificadas cuja responsabilidade está sob alçada das entidades provinciais, enquanto que o distrito arca com as restantes terciárias e vicinais, numa extensão de 464 quilómetros.
“Como pode depreender o maior volume de estrada está sob a responsabilidade do nosso distrito e torna-se difícil fazer a gestão deste troço com as dificuldades que enfrentamos. Mas a partir de 2008, passamos a receber do Fundo de Estradas, um milhão de meticais para realizarmos trabalhos de manutenção das estradas sob a nossa responsabilidade, o que nos permitiu melhorar naquele ano 92 quilómetros”, disse.
O distrito tem o plano de reabilitar 52 quilómetros de estrada este ano com aquele valor, para aumentar a extensão de estradas transitáveis que actualmente se situa em 300, cujo acesso aos postos administrativos de Micoluene e Imala é pleno, assim como para as localidades de Grácio, para além das que ligam aos distritos de Nacarôa e Meconta.
“Para reabilitarmos estas estradas nós priorizamos a iniciativa “Comida pelo Trabalho” empregando mão-de-obra local. Nunca apostamos em empreiteiros para melhorar estas estradas não classificadas”, apontou.
Em termos de abastecimento de água potável às comunidades o distrito, de acordo com o nosso entrevistado, está longe de satisfazer as necessidades, com uma taxa de cobertura de 44.6 porcento, o que quer dizer que um total de 85 fontes com bombas manuais estão operacionais e fornecem água a 42 mil pessoas, das 98 existentes em toda a extensão territorial de Muecate.
“Decorre desde Fevereiro passado um processo de recuperação das 13 fontes de abastecimento de água que se encontram avariadas pois foram mal geridas por indivíduos que nada têm a ver com a comunidade”, destacou.
Os residentes da vila-sede de Muecate, andam zangados com a operadora de telefonia móvel Moçambique Celular (Mcel), por esta ter instalado uma antena para a recepção do sinal desde o ano passado, mas que até agora, nem água vem, nem água vai. Eles chegam até a afirmar que aquela infra-estrutura não deve ser mobiliário para embelezar a sua vila sede.
- Luís Norberto
NOTA:
Muecate foi a primeira terra onde vivi(1939) e onde o meu nascimento está registado.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE