Depois de intensas chuvas ocorridas em Abril último, muitos campos ficaram inundados colocando em perigo o arroz que estava na fase de colheita. Face aos problemas apresentados, durante o encontro, a Hidráulica de Chókwè entidade gestora do regadio avançou uma proposta que passa pela manutenção este ano das áreas cultivadas no ano passado, ou seja, nove mil hectares dos quais sete mil devem ser reservadas ao arroz e a restante extensão destinada ao milho, feijões e hortícolas.
Foi consenso geral, que para a materialização daquele objectivo, um grande movimento deveria ser feito por forma a que os agricultores possam efectivamente realizar o seu trabalho, sendo para tal inadiável, a criação de condições óptimas que possibilitem uma rega e drenagem sem sobressaltos.
Informações avançadas na ocasião indicam que o mau estado do regadio já levou ao envio a Chókwè de uma equipa multidisciplinar designada pelo Presidente da República, Armando Guebuza, logo após o início do seu primeiro mandato.
Só que de lá para cá as coisas não melhoraram, e os agricultores continuam a desenvolver as suas actividades no regadio debaixo de muitas dificuldades.
“Chókwè é uma infra-estrutura bastante complexa que irá, sem dúvidas exigir um trabalho aturado,” disse na ocasião o agricultor Daniel Dimas.
A necessidade de se criar um banco, essencialmente virado ao apoio da actividade agrícola, e a actual a propalada insensibilidade dos bancos comerciais no tratamento de assuntos relacionados com esta classe, foi outro assunto que mereceu da parte do agricultor Zimila, um reparo que na ocasião foi objecto de grande ovação, por parte dos colegas de profissão presentes no encontro de planificação da época agrícola 2010/2011.
“Não se deve dar tratamento igual a um financiamento destinado a negócios de rotação rápida de capitais, como bens de consumo e outros, àquilo que é o trabalho de um agricultor que faz arroz por exemplo, num ciclo de cerca de nove meses, porque só volvido esse período é que temos o arroz cá para fora, pronto para ser comercializado” alertou Zimila.
Aquele orador, falou ainda, da ocupação desordenada do regadio, que em grande medida tem vindo a contribuir para os graves problemas de degradação que hoje afligem aquela infra-estrutura.
Outros agricultores abordaram a necessidade de se equipar a HICEP de máquinas suficientes para as operações de lavouras, limpeza de canais e auto-combinadas para a ceifa.
Foi reportada também a dificuldade de aquisição local de acessórios para o equipamento usado particularmente para a ceifa de arroz, uma vez que vezes sem conta em caso de avarias, as importações são feitas do exterior, uma situação que tem contribuído para grandes perdas nos arrozais.
Os industriais de processamento de arroz, nomeadamente as empresas MIA e Inácio de Sousa, defenderam a necessidade de tudo ser feito por forma a que o arroz em campo seja efectivamente colhido, por forma a se impedir que a actividade, continue a ser atractiva perante a banca.
Arnaldo Ribeiro, director da MIA, sugeriu na ocasião que fosse definido um plano realista para a próxima temporada, tendo em conta sobretudo a reabilitação do regadio.
A necessidade de o executivo moçambicano definir uma taxa de compensação para a protecção dos produtores nacionais que praticam esta cultura, deverá ser encontrada no arroz importado.
“A agir-se desta maneira, o preço de arroz no mercado poderá estar mais equilibrado. É tarefa do governo definir uma taxa de compensação. As ideias devem vir de todos, mas esta responsabilidade cabe fundamentalmente ao governo, porque está claro que o preço no mercado, tem estado a ser ditado pelo arroz importado,” disse José Dias, um dos gestores das indústrias Inácio de Sousa.
REGADIO EM VIAS DE SER REABILITAÇÃO
O regadio de Chókwè com uma área de pouco mais de 30 mil hectares, continua a a denotar uma paulatina degradação devido à precariedade de condições de drenagem, uma situação que tem estado a concorrer para a crescente salinização de solos.
Segundo Salomão Matsule, presidente do conselho de administração da Hidráulica de Chókwè, disse que deve ser dado um mérito à coragem dos agricultores que, não obstante, estarem cientes das condições pouco confortáveis em que se encontra aquele sistema de regadio, continuam a desenvolver as suas actividades usufruindo das condições ora possíveis.
Entretanto, uma luz no fundo do túnel surge, e tudo indica que ainda este ano as obras de restauração de sete mil hectares naquelas infra-estruturas de rega, poderão ser uma realidade, graças a um financiamento garantido pelo Banco Islâmico de Desenvolvimento (BID) na ordem dos 12 milhões de dólares americanos.
Segundo a nossa fonte, dadas as condições em que o regadio se encontra, e antes que ocorram acções de reabilitação naquela estrutura, a entidade que gere o regadio de Chókwè, entende que deve-se manter a área ocupada no ano passado.
“Obviamente que a nossa preocupação irá centrarmo-nos na melhoria de todos os aspectos organizativos que possam concorrer para a realização de uma campanha sem sobressaltos. Pretendíamos ainda que os agricultores cumprissem de forma escrupulosa o calendário agrícola, uma premissa aliás que pode ditar o sucesso nas operações agrícolas,” disse Matsule.
- Virgílio Bambo