EDITORIAL
25 de Junho
ESTAMOS em festa. Os mais velhos dizem que as festas de hoje não são as mesmas às do passado. Antigamente, o 25 de Junho era comemorado com mais vigor e entusiasmo.
Pois é. As coisas mudaram. Novos tempos. Samora Machel morreu na década de 80 e com ele acabaram determinados hábitos e costumes dos moçambicanos. Há quem lamenta, mas também há quem defende mudanças radicais no modo de vida dos moçambicanos, porque numa economia de mercado.
Quando em 75 o Estádio Salazar (Machava) acolheu as cerimónias centrais da Independência Nacional, muitas pessoas que faziam do País sua colónia, diziam que os pretos não iriam sobreviver muito tempo. Mas cá estamos nós, volvidos 35 anos após a passagem do testemunho.
Os mesmos críticos do passado estão, agora, de malas aviadas retornando ao País de forma mais civilizada, em muitos casos se fingindo parceiros e/ou irmãos do mesmo sangue quando, na verdade, não passam de uns sanguessugas, oportunistas que não olham a meios para conquistar os seus objectivos. São os novos colonos.
Eles têm conseguido espaço porque facilitados pela pseudo classe média moçambicana que, de repente, passou a fazer-se na nossa sociedade.
Na verdade, a classe média moçambicana tem sido construída de forma muito estranha. É fácil ser-se da classe média. De noite para dia…zás, já se é da classe média. O mesmo indivíduo que ainda ontem à noite esteve aos empurrões num transporte semi-colectivo (chapa-cem), com as sovaqueiras mal-cheirosas, bastou que fosse bem sucedido num esquema de crime financeiro e amealhasse dinheiro acima da média, para se assumir
membro de pleno direito da controversa classe média. Dois veículos automóveis e um guarda-roupa são fundamentais para a mudança…
Existem culpados por esta situação. A Frelimo alberga gente que sobrevive à sua custa. A mesma gente que utiliza as cores do Partido para conseguir protecção nas suas actividades criminais, acabando por comprometer a organização, os seus membros e simpatizantes, sabe-se lá a troco de quê…
Ainda bem que os filhos dos dirigentes da Frelimo e do Governo aprenderam, agora, a ter um comportamento que não envergonhe os pais e, por essa via, o Partido e o Executivo. Os sucessivos erros cometidos num passado recente ajudaram a correcções.
Mas falta emendar outras coisas. Hoje são colagens comprometedoras que determinados empresários “de sucesso” fazem com a Frelimo, ou alguém em seu nome, que acabam por pintar de negro a organização política. Samora não iria admitir certas parcerias que hoje se fazem…
Estamos em festa porque, durante 10 anos, houve quem forçasse Portugal a negociar. Muitos deles perderam a vida nas matas e nos calabouços. Por isso, a justa homenagem.
Nós somos apenas produto dos heróicos moçambicanos, com a obrigação de prosseguir o combate por melhores condições de sobrevivência, em memória desses nossos heróicos – mortos e os que continuam vivos.
Para nós, heróis não são apenas aquelas pessoas que estiveram nas matas e nos calabouços a combater o regime. São também os que invez de irem às matas e de terem sido presos pelo regime do antigamente, foram à escola e produziram nas fábricas conscientes de que estavam também a contribuir para a Independência Nacional.
Tal como no período pós Independência Nacional, heróis somos todos nós, de mangas arregaçadas em prol do crescimento económico de Moçambique.
E a Assembleia da República fez muito bem ao alargar o leque dos candidatos a Herói Nacional.
Logo após a Independência, muitos antigos guerrilheiros da Luta de Libertação Nacional foram atribuídos “galhardetes” que se resumiram em financiamento que acabaram por dar cabo do Banco Popular de Desenvolvimento (BPD). Muitos tiveram o dinheiro, mas poucos aplicaram-no em projectos de desenvolvimento, nomeadamente machambas e/ou em pequenas fabriquetas, como era objectivo do financiamento. Pior. O dinheiro nem sequer foi devolvido à banca.
Hoje não há financiamentos que “valham a pena” sob esse ponto de vista. A lição foi bem estudada e já não se cometem erros de palmatória.
Essas iniciativas foram substituídas por outras mais onerosas que só mais tarde saberemos classificar de erradas, quando se fizerem as contas.
O balanço da prestação.
Em linguagem política, Afonso Dhlakama continua igual a si próprio.
Líder autoritário da Renamo e da oposição, mas raramente dá nas vistas, sabe-se lá porque razão. O emergente Daviz Simango é quem parece reivindicar os tributos que se calhar caberiam muito bem ao Presidente da Renamo.
Armando Guebuza, esse, é daqueles dirigentes políticos que aproveita o seu estatuto de Presidente da República, para regatear alguns valores de um passado recente, ameaçados de extinção, como é o caso da Chama de Unidade. Para os mais velhinhos, Guebuza é um tipo porreiro. Reconhece, valoriza e transmite a ideia de que Mondlane e Samora tinham na manga projectos que entretanto não foram concretizados por terem desaparecido da face da terra, e que urge concretizá-los.
Foi assim com a Ponte da Unidade, em Caia, foi assim com a Ponte sobre o Rio Rovuma, e foi assim também com a reversão da Hidroeléctrica de Cahora Bassa. Por tudo isso, Armando Guebuza tem sido alvo de aplausos nalguns círculos.
Mas também pela negativa Guebuza tem sido comentado. O homem não é de ferro, comete erros. Erros que, por causa da posição que ocupa, acabam sendo relevantes. Mas isso não é para aqui chamado neste momento.
Estamos em festa, e para isso todos estão convidados. É a festa do 25 de Junho.
EXPRESSO – 24.06.2010