"Aconteceu no sul da Guiné-Bissau, em Catió, e essa menina, de 14 anos, foi forçada a casar-se com um homem de 70 anos. Como ela não se recusou, o pai obrigou as pessoas a prenderem-na", contou à agência LUSA o pastor Caetano, da Igreja Evangélica.
Esta é uma das realidades que crianças guineenses têm de enfrentar quando se assinala hoje mais um Dia da Criança Africana. "A menina foi torturada de tal maneira para aceitar o casamento forçado. Ela foi resistindo porque não queria casar, e com tanta pancadaria não aguentou e morreu", lembrou, constrangido, o pastor, que actualmente recolhe na sua casa, em Bissau, nove meninas que fugiram ao casamento.
Questionado sobre o que aconteceu às pessoas que espancaram a menina, o pastor disse: "Nada aconteceu, infelizmente. Lá estão livres. É lamentável".
"Esta situação é complicada. Nós denunciámos a situação junto das autoridades competentes e nada aconteceu até hoje. As meninas continuam a fugir no último domingo chegaram mais três", salientou o pastor Caetano.
Um choque cultural que está a abalar as sociedades tradicionais guineenses, principalmente a velha tradição de oferecer as filhas ou sobrinhas em casamento, em troca de um dote antecipado ou por serviços prestados.
"Nesta época, as meninas não consentem esse tipo de casamento", explicou o pastor.
Para manterem a tradição, os pais impedem as meninas de estudar, porque só assim aceitam os homens”, explicou o pastor.
Para o pastor e advogado, o "Estado não move uma palha" e "deixa tudo no esquecimento". "Muitos que defendem esta prática cultural vivem aqui em Bissau, são pessoas cultas e não levam os seus filhos para aquelas práticas. Agora, porque é que defendem isso?", questionou o pastor. "Aqui em Bissau, defendem essa ideia porque não são os seus filhos a serem dados em casamento forçado. Se fossem os seus filhos, tenho a certeza que não fariam isso", lamentou.