CRÓNICA Por: Leonel Marcelino
Assisti, recentemente, a uma lição de um ilustre economista, Prof. Hernâni Lopes, que, uma vez mais, reforçou a minha ideia de que o mundo anda a brincar com coisas demasiado sérias arriscando o futuro da nossa civilização. Numa grande parte dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, como costuma dizer-se, a escala de valores é diariamente apagada e substituída por uma outra que as elites inventaram para seu gáudio e enriquecimento sem escrúpulos. Há quinze anos que era sabido que, mais ano, menos ano, a crise de 2007 iria estoirar. Mas, sobretudo os políticos, os gestores e os economistas, em geral, que, pelo seu comportamento, valores e atitudes, a desencadearam, vieram clamar que o mundo mudara inesperadamente e os apanhara de surpresa. Mentira! Desde o momento em que as finanças se desligaram da economia real e se volatilizaram num mundo de produtos virtuais, geradores de fortunas mirabolantes à custa de credibilidade imerecida, que era certo e sabido que a bolha iria rebentar. Mas, o mais preocupante, é que continua a mentir-se e a preparar, sem escrúpulos, a próxima bolha.
O único remédio sério para relançarmos a nossa civilização, e não apenas a economia, está na mudança do quadro de valores, atitudes e comportamentos. Os pais e os educadores têm de dizer às novas gerações que não se faz carreira apoiando-se no facilitismo, na vulgaridade, na moleza, na golpada, no videirismo, na mandriice, na aldrabice.
Uma civilização fundada sobre estes pilares, é uma civilização condenada à ruína. No entanto, uma grande maioria das nossas elites fez carreira, que até parece de sucesso, à custa de todas estas aldrabices. O resultado está à vista. A Europa está falida e os seus seguidores não fugirão à mesma sina. Lembra então o Professor Hernâni Lopes, com toda a sabedoria, clarividência e reconhecida credibilidade, que os pais e os educadores devem ensinar aos filhos das nações quais os modelos que deverão orientá-los para que façam uma carreira de sucesso sustentado e salvem o futuro do mundo.
Não haverá políticos sérios, nem gestores, nem economistas que relancem a nossa civilização, se não se começar já a apostar na mudança que ele resumiu de um modo simples e óbvio. Onde se pratica o facilitismo, passe a praticar-se a exigência; troque-se a vulgaridade pela excelência, a moleza pela dureza, a golpada pela seriedade, o videirismo pela honra, a ignorância pelo conhecimento, a mandriice pelo trabalho, a aldrabice pela honestidade. Esta será a via útil para o futuro, como ele afirma do alto da sua sabedoria. E não há outra. A próxima geração e as seguintes estão hipotecadas, submersas em dívidas que as empobrecem. Só se começarmos já a educar para a mudança honesta dos actuais valores, atitudes e comportamentos, será possível que os nossos netos venham a ter um futuro mais risonho. Nós, por cá, esgotada a monarquia, o salazarismo e o abrilismo, continuamos a apertar o cinto, como quando era jovem e uma sardinha tinha de dar para três.
WAMPHULA FAX – 30.06.2010