Nhandayeyo de: Rui Guerra
Mas se Rebelo não está satisfeito com o seu partido porquê não o abandona? Julgamos que com ele fora o país ganhava e a democracia seria revitalizada. Pois a sua postura iria, com certeza, despertar a oposição da letargia em que se encontra e a sociedade civil da apatia. As suas tiradas são dignas da oposição
Jorge Rebelo, veterano da luta armada de libertação nacional e membro sénior do partido FRELIMO, veio a público há dias fazer declarações contundentes sobre a sua organização e o papel reservado à juventude no desenvolvimento do país.
Nos últimos tempos, os seus comentários sobre o estágio actual do país e do partido não estão em consonância com o discurso oficial da sua agremiação política. Rebelo tem pautado por posicionamentos que facilmente se poderiam atribuir a alguém da oposição, dada a sua acutilância. Na sua última aparição criticou a postura de alguns dos seus camaradas que apelidou de lambe-botas, o que na sua óptica vai contra a sua postura e da FRELIMO à qual se filiou. Pelo que se pode entender a FRELIMO de hoje difere daquela da geração do 25 de Setembro. Pois, de acordo com ele, aquela FRELIMO caracterizava-se pelo debate de ideias e na promoção com base nas capacidades e qualidades.
Mas se Rebelo não está satisfeito com o seu partido porquê não o abandona? Julgamos que com ele fora o país ganhava e a democracia seria revitalizada. Pois a sua postura iria com certeza despertar a oposição da letargia em que se encontra e a sociedade civil da apatia. As suas tiradas são dignas da oposição. Ao apelar a juventude a ter uma postura crítica, activa e rebelde, Rebelo está a desvinculá-la do partido no poder e a dizer que este não é dono do processo histórico moçambicano, e que o mesmo é criado por indivíduos, e que os jovens são parte integrante do mesmo. Simultaneamente, incita-os a tornarem-se patriotas e a pôr o país em primeiro lugar. No fundo, o seu apelo aos jovens mais não é do que uma chamada de atenção para que estes exerçam a sua cidadania e procurem alternativas para resolver os problemas pelos quais o país está a passar. Portanto, a FRELIMO é parte da solução mas não é a única ainda que pretenda se apresentar como tal.
A nossa oposição e os seus líderes não têm conseguido capturar o apoio e a simpatia da juventude para além do MDM que nas últimas eleições beneficiou de grande apoio destes. O apoio demonstrado ao MDM deveu-se à percepção por parte dos jovens de que este partido era mais sensível e identificava-se com os seus problemas, daí que muitos o tenham apoiado.
Mas, surpreendemente, após o processo eleitoral, o MDM também caiu na letargia e não manteve contacto com a sua base social a qual sente-se desorientada sem um líder de facto que lhe guie e lhe inspire com os mais nobres ideais. Então, a rebeldia de Rebelo é uma rebeldia de desespero. Este deve estar, com certeza, cansado de ver medrar tanta mediocridade.
E para transmitir mudança e esperança ninguém melhor do que os jovens. Pois, enquanto a oposição e a sociedade civil não fazem o seu papel, alguém tem de o fazer.
CORREIO DA MANHÃ – 28.06.2010