ACENTOS NOS ASSUNTOS Por :Eleutério Fenita
Ainda a Independência: Entre Erros e Coerência
Têm sido, nos últimos dias, salutarmente auto-críticos e supreendentemente cáusticos até, antigos governantes nossos na avaliação que fazem sobre o “os excessos” dos tempos da Revolução.
Pouco antes e nos anos imediatos que se seguiram à Independência. As coisas más que, reconhecidamente, aconteceram no meio de muita coisa boa. Sim, os “excessos”. Sobre os quais há uma responsabilidade colectiva, é verdade, mas que nem por isso devem ser guisados na espécie de amnésia colectiva, que parece ser a nossa maneira de fazer terapia. Em nome da estabilidade que pode ser instável, quando estas coisas não são encaradas de frente.
Dos “reaccionários” condenados a execuções sumárias - a que nem sequer foram sujeitos, sequer, portugueses feitos prisioneiros durante a guerra pela Independência Nacional – às nacionalizações, os “excessos” começam, finalmente, a ser atacados de frente. De peito aberto. Honestamente. Pelo menos é o que parece. Basta ter seguido declarações recentes de algumas das mais destacadas figuras no país, incluindo as chamadas “reservas morais” do partido no poder, a Frelimo, concedidas, por exemplo, à estação de televisão privada STV e ao diário independente O País.
Não sei até que ponto estaremos perante uma, há já muito necessária e defendida na maior formação política do país, expurgação de pecados, de penitência e contrição. De pacificação de espíritos com ela desavindos. O que sei é que, sem eufemismos baratos e militantismos enlatados em fanatismos baratos, que “alicerces” da Frelimo, já começaram, pesando o seu discurso menos do que nos haviam habituado, a usar uma palavra tão humilde quanto é refrescante: “erros”. Que foram cometidos. Em vários casos de forma irremediável. E que começam, hoje, por ser aceites, por um crescente número de quadros do partido em nome do qual muitos desses erros foram cometidos.
Não me dá um gozo especial, pois preferia que tal não fosse necessário, mas este é um gesto, uma tendência a saudar . Sem a mínima hesitação.
Especialmente num contexto, em que, culturalmente, a admissão de um erro aproxima-se bastante de um pedido de desculpas. A ganhar sai a Frelimo. E Moçambique. A ver vamos, agora, se do “tempo dos excessos” não se alheia o maior partido da oposição. Que nestas coisas de “excessos” não foi exactamente um mero espectador.
As Estrelas do Nosso Negro
Quis, mais do que o destino a capacidade por si demonstrada em campo, que ao
primeiro país africano a tornar-se Independente acabasse por ficar indelevelmente associado ao Mundial de Futebol da África do Sul. O primeiro no nosso continente. Por ironia, possível graças à coincidências que só os mistérios da História podem explicar, tal foi possível depois de levar de vencida os Estados Unidos. Que pela primeira vez é presidida por um afro-americano. Obama. Que por sinal elegeu o Gana, para a sua primeira visita oficial a África.
Mas isto são pormenores. O que mais me saltou à vista, foi a ausência de desfiles
barulhentos pelas ruas, no dia em que o Gana - que é a eles, claro, que me refiro -
fez história. Sei que pelos bares e outros locais, houve manifestações de alegria. De ocasião. Pelo histórico feito dos Estrelas Negras Passou-me despercebido, todavia, o buzinar de carros com que normalmente a “nova burguesia” e pelas ruas de Maputo (e não só) recebe a vitória dos Benficas, Portos e Sportings.. Ainda ouvi o som distante de uma vuvuzela. Que depois se perdeu pela escuridão da noite adentro, Tão escura quanto a escuridão teimosa que perpetua esta aversão mal disfarçada ao que devíamos sentir mais próximo, mais nosso. E que parece explicar essa incrível inversão de prioridades e preferências, no que a coisas com que nos identificamos diz respeito. É só prestarmos atenção à forma como vai ser seguido e assinalado o jogo de Portugal logo á noite. Nada contra. Apenas uma constatação.
Gerações: Por Entre Viragens e Viagens
Instalou-se, nos últimos tempos, um intenso debate sobre o assunto. Analisam-se os conceitos. Escalpelizam-se as afirmações e em miúdos se trocam as explicações. Rebate-se o que se diz. Refinam-se os argumentos. Afinam-se as espadas. Encosta-se o Presidente da República e outros á parede. E questiona-se.
Uns em viagens com propósitos escondidos ou puramente académicos.
Outros, com viragens mais compatíveis com as suas agendas. Enquanto isso, em Espungabera e no Mossuril, em Mejuco e Milange, faz-se o que realmente conta: trabalha-se. Num país com milhões de exemplares dignos de uma enciclopédia sobre a pobreza absoluta, de mortes evitáveis não haverá coisas mais importantes do que procurar saber de que quantas gerações é feito?
...E alegações
Insurgia-se, recentemente, alguém contra o uso do termo “alegado” ou “suposto”,
para descrever pessoas acusadas de um determinado crime. Ou mesmo apanhadas, em flagrante delito. Ou ainda, criminosos confessos. Sem ser jurista, gostaria de humildemente recordar que a retirada do “alegado” ou “suposto” anexo ao nome ou figura de um indivíduo associada a um acto que viole a lei. Ou seja, um indivíduo só passa de “alegado” ou “suposto”, quando assim for decidido pelo Tribunal. É ou devia ser assim em todo o mundo. Senão, o melhor é passarmos aos julgamentos na praça pública. À moda antiga.
WAMPHULA FAX – 29.06.2010