CONFIDÊNCIAS MATINAIS
Humberto Mandlate
As entrevistas concedidas aos órgãos de comunicação social por várias figuras do partido no poder por ocasião dos festejos do 35º aniversário da independência nacional trouxeram a lume algumas verdades até então escondidas, ou pelo menos distorcidas.
Quase todos os entrevistados, desde o actual Presidente da República até ao seu antecessor, Joaquim Chissano, cada um à sua maneira contaram episódios da luta que culminou com a conquista da Independência, a 25 de Junho de 1975.
Falaram dos momentos difíceis que Moçambique enfrentou nos anos subsequentes, das não raro contestadas mas “necessárias” medidas que foi necessário tomar.
Apontaram, não sem uma certa dose de eufemismo, os erros que se cometeram, levando o país à beira de um colapso económico.
Convergiram no atraso que a “guerra de desestabilização” provocou, sem no entanto citar as verdadeiras razões que fizeram abortar os sucessivos Planos que foram concebidos poucos anos depois da proclamação da independência, para a erradicação da pobreza em 10 anos! Exemplo mais gritante é o do Plano Prospectivo Indicativo (PPI). Houve quem apresentasse números arrepiantes referentes ao declínio económico que Moçambique foi registando quando se tornou independente.
Importa, todavia, recordar algumas das declarações que Joaquim Chissano proferiu numa entrevista a um canal televisivo privado da praça, sobre o ainda pouco esclarecido fuzilamento, num campo de reeducação, de Urias Simango e outros “rebeldes”.
Disse ter-se tratado de uma imposição da guerra, não a da Renamo, pois segundo ele esta nem sequer existia, mas da que era movida pelos então regimes do apartheid e da Rodésia do Sul.
Segundo Chissano, “Simango e outros” não foram fuzilados apenas por rebeldia no seio da própria Frelimo, mas também porque “tinham contactos com os colonos, com o apartheid e com o regime de Ian Smith”. Afirmou que como nessa altura se intensificava a invasão das tropas inimigas ao território nacional, com os campos de reeducação a serem alvos preferidos para captura de potenciais “dissidentes”, havia o receio de “Simango e outros” serem raptados. Mas apesar de garantir que não estava bem dentro do processo que culminou com o fuzilamento, Joaquim Chissano sublinha que o que aconteceu foi ditado pela efervescência ou ebulição da guerra! «Guerra é guerra», disse.
Quanto aos campos de reeducação, o antecessor de Guebuza referiu que era imperioso enviar os que eram improdutivos para zonas onde pudessem produzir, e que isso «não tinha nada a ver com a necessidade de povoar Niassa», como se chegou a propalar. Nega que os régulos tenham sido deliberadamente banidos, atribuindo a sua hibernação após o 25 de Junho de 1975 ao facto de terem sido preteridos pelo povo, a favor dos grupos dinamizadores.
Ainda de acordo com o sucessor de Samora Machel, «nunca ordenámos o encerramento das igrejas». Para Chissano, as igrejas encerraram as suas portas “naturalmente”, ao verem-se manietadas quando as escolas inseridas nas missões passaram para o controlo do Estado!
MATINAL – 28.06.2010
NOTA:
Caro Chissano (desculpa-me este tratamento de colega de liceu e Mocidade Portuguesa que, pela primeira vez se te dirige em público):
Então “ havia o receio de Simango e outros serem raptados”. Concordo: depois de fuzilados, já não serão “raptados”.
Sérgio Vieira tem-se esquecido desta justificação. Porquê?
Cada vez me convenço mais que a “história” oficial da FRELIMO está mal combinada entre os seus pares. A imaginação prega-nos partidas…
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE