Certo dia, na 1ª semana de Outubro de 1980. Meu pai fazia coordenação de segurança das casas do Governo Provincial de Sofala, e foi escalado para organizar a segurança dum dirigente nacional, na casa anexa ao Farol de Macúti-Beira,( que ainda lá está). Afinal era o camarada-chefe Jorge Rebelo, que o meu pai conhecia desde Dar Salam.Eram 10 horas da manhã. Ele hospedou-se na casa, que era do Governo Provincial. A praia estava quase vazia, era dia de semana, sómente estava um casal portugueses com dois bebés -idades com menos de 2 anos- na praia a 20 metros do farol de Macúti. A primeira coisa antes de dizer bom dia, o "camarada-chefe Rebelo" foi perguntar o que estava a fazer o casal na praia- disse para os expulsar imediatamente( o casal com os dois bebés, e dizer que são ordens directas do camarada Jorge Rebelo Rebelo-podem ser agentes do inimigo).
O Camarada-chefe Rebelo pôs-se na varanda do 1º andar, e fez o gesto com o braço, para mandar embora o casal. O casal tinha o carro estacionado, num círculo, junto a casa do Farol, mas os seguranças tinham ordens para ninguém passar a dez metros da casa. O casal jovem deu uma grande volta, foram revistados e depois retiraram-se com os bebés. Sou filho do Oficial da Reserva com patente C... Quando lhe contei a poesia do JR, ele mostrou-me o braço que tem várias marcas de pontos, motivado por acidente de carro, nesse Outubro de 1980, e contou-me os factos desse mês em que foi parar ao Hospital de Macuti. O azar da maldade que fez contra os bebés ficou com ele. Meu pai diz que o casal cruzou com ele algumas vezes, e quis sempre pedir desculpa, mas eram outros tempos. E hoje peço desculpa em nome do meu pai, aos bebés do casal português, que devem ter a minha idade, através de Moçambique para Todos, porque ele foi obrigado a fazer o que fez-expulsar o casal e os bebés da praia-ordens do membro da Direcção do Partido. JS Botão Salegua - Nampula
J.C.B.Salégua
NOTA:
Pela coragem e humildade o merecido destaque do MOÇAMBIQUE PARA TODOS. Comparando ditadores e ditaduras, transcrevo do livro MEMÓRIAS de Mircia Eliade,o seu primeiro encontro com Salazar:
“Na tarde de 6 de Julho, telefonou-me António Ferro para me anunciar que no dia seguinte ia ser recebido por Salazar às cinco da tarde. Como não encontrei um táxi, cheguei lá quase a correr. O porteiro do Palácio de São Bento perguntou-me para onde ia. “O Senhor Presidente” respondi. Ele mostrou-me a escada do fundo e disse: “Segundo andar à direita”. Assim se entra no gabinete do ditador português… Durante aqueles cinco minutos de espera engoli sem fôlego um copo de água: a minha garganta ficara tão seca que receei não conseguir falar”.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Veja http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/07/a-dualidade-do-ser.html#tp