Escrito por João Vaz de Almada
Desequilibrada é, no mínimo, como se pode classificar a exposição de fotografia intitulada “Moçambique: 35 anos de Independência Nacional Ontem e Hoje”. Patente na Associação Moçambicana de Fotografia, em Maputo, a mostra, organizada pelo Gabinete de Informação, Gabinfo, foi inaugurada na passada segunda-feira – hoje, sexta-feira, é o último dia – com toda a pompa e circunstância pelo primeiro-ministro Aires Aly à qual não faltou o corte da fita vermelha.
Tal como se anuncia, a exposição pretende dar a conhecer, através de 40 imagens, a História do Moçambique independente, desde aquela noite chuvosa de inverno em que a bandeira nacional subiu ao mastro pela primeira vez até aos dias de hoje. E o que é que se vê? O que é que se sente no final, após percorrer as duas paredes prenhes de fotos? Sente-se, mais uma vez, que a História é feita pelos vencedores – neste caso pelos que estão hoje no governo.
Dos 35 anos, a presidência de Guebuza – o actual chefe do Estado – ocupou cerca de cinco anos desse tempo mas na exposição tem mais de metade das fotos. A Samora Machel, o carismático primeiro Presidente do país e hoje idolatrado por muitos, foram reservadas quatro fotos. Do tempo do deixa-andar, podem ser vistas umas seis ou sete – Joaquim Chissano esteve no poder 18 anos. Do consulado actual, entre presidências abertas, empreendedorismo do mundo rural – na óptica do combate à pobreza absoluta – revolução verde e ponte Armando Guebuza, fica-se com uma barrigada.
O cúmulo é atingido quando, no meio dos anos ´80 – é suposto haver uma sequência cronológica – surge uma fotografia de uma parada militar dos tempos de hoje, entrando, assim, a mostra num desconcertado anacronismo, para mais sabendo que as paradas militares típicas daquela época, particularmente as do Dia das Forças Armadas, eram bem mais fotogénicas, contando com mísseis, tanques, carros de combate e toda aquele parafernália militar típica dos regimes que se inspiravam no socialismo real do tipo soviético.
Por falar em soviético, os 15 anos de marxismo-leninismo da República Popular passam completamente invisíveis, como durante o estalinismo se apagavam das imagens oficiais o rosto dos camaradas que caíam em desgraça. Nem uma fotografia do III Congresso, onde se proclamou o marxismo-leninismo como doutrina oficial do Estado e a Frelimo como partido de vanguarda; nem uma fotografia das visitas dos camaradas do leste; nem uma fotografia dos grupos dinamizadores, esses arautos da revolução; nem uma fotografia das guias de marcha, das rusgas nocturnas, das aldeias comunais ou da Operação Produção – a revista Tempo publicou tantas por aqueles anos.
Deste modo, a História, essa, saiu, uma vez mais, amputada. Mas talvez a melhor explicação para isso tivesse saído da boca de um dos históricos do partido Frelimo quando disse: “são outros tempos”. Permitam-me que acrescente: e outras vontades.
@VERDADE – 30.07.2010
NOTA:
E assim se vai escrevendo a HISTÓRIA de Moçambique…Até quando, Senhores Historiadores?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE