Escrito por Milton Machel
“Ao longo das margens do Rio Limpopo viam-se extensas manadas de bois que pastavam…” blá, blá, blá. Patrícios da minha geração (sem rótulos), lembram-se da estória “O Tomás é pastor”? Se bem se recordam, o Tomás faltava muito às aulas, porque tinha de cuidar do gado da família, mas lá os colegas arranjaram formas de o ajudar a apascentar o gado e mesmo assim voltar à escola e revelar-se um dos melhores alunos.
Hoje, só hoje, patrícios, me dou conta da inteligência do Tomás pastor, não confundir com o Pastor Tomás – São Tomás de Aquino. Sim, o Tomás dominava a matemática com a ponta da sua vara que domava o gado; sim, o Tomás conhecia as ciências naturais de conviver com a natureza viva, terra, gado, água; pois, o Tomás manipulava a geometria de saber definir o espaço e o tempo precisos de migração e fixação do gado; precisamente, o Tomás conhecia as estações do ano e os estados do tempo de viver todos os dias com o tempo e o vento (O “Tempo e o Vento”, lembram-se do Capitão Rodrigo Cambarrá, que dizia que Cambarrá é cabra-macho, não morre na cama?).
Espero, sinceramente, que o bom aluno Tomás hoje seja alguém na vida, quem sabe até um grande latifundiário e “Rei do Gado” como alguns moçambicanos o são cá e no “Meu Brasil Brasileiro”, a despeito de em Moçambique MozAgrius, PROAGRI’s e revoluções verdes serem aquela anedota dos americanos: “lame duck” (pato que não voa). Espero que, tanto o Tomás como nós, “filhos da Nação”, tenhamos aprendido e apreendido na carteira que é sempre melhor ser o pastor, o boiadeiro, do que sermos os próprios bois - embora sempre um dia possamos nos rebelar orwellianamente e provoquemos uma “revolução dos bichos” que resulte no “triunfo dos porcos”.
Mas, isto de ser boi e fazer parte de uma manada, ter um pastor que nos guie, faz-me lembrar aquilo de ser “boy” de “office”, - seja de Turismo ou de outra função pública que seja - preocupado em ser tão diligentemente servil aos chefes para não perder o “job”, como se marimbando em ser um exemplar servidor do público – desse público que paga os impostos ou pelo menos é usado para a estatística que convence os doadores a trazerem a “mola” que alimenta o seu salário.
Sim, porque, “office boys”, fixem bem isto: mesmo que esse emprego ou trabalho que tendes vos tenha sido oferecido na política distributiva de “jobs for the boys” bem comportados lá no partido, lá na associação ou residência universitária onde instalastes uma célula, quem paga esse vosso salário não é o chefe, ele só assina em nome dos pagadores de imposto e dos bons doadores. Por isso, “office boys”, deixem de fazer expedientes para o chefe, deixem de andar a chantagear famílias de djs quando o vosso objectivo é atingir o “cortador de lenha”, deixem de se fazer de bons burocratas dificultando o acesso à informação ou ao chefe. “Office boys”, libertem-se do servilismo ao chefe, parem de fazer concorrência aos engraxadores de sapatos, vocês trabalham para o público, vocês servem o Estado.
E mesmo o Chefe de Estado só está lá para nos representar, a nós cidadãos e habitantes… porque não podemos ser todos o Chefe, mas patrões, esses, somos todos nós, “boys”. Sim, “boys”, porque de tanto prestarem esse serviço de tão baixo jaez, dados a burocratas cumpridores, “boys”, vocês estão a converter-se em autênticos burrocratas, estão a virar bois de manada…cujo pastor ou boiadeiro (quando chegar a hora) vos vai conduzir directo ao matadouro! Hoje, patrícios, arrependo-me de não ter ido à terra do meu avó em Chilembene apascentar o gado vasto que ele tinha.
Hoje, patrícios, envergonho-me do orgulhoso menino da Sommerschield-Carreira de Tiro, aluno d’A Luta Continua, rapaz do cimento. Hoje, patrícios, já percebo porque é que o Tomás faltava tanto às aulas. Não se esqueçam de lembrar, “boys”, o Tomás é(ra) pastor!
@VERDADE – 30.07.2010