É do senso comum e da sabedoria popular que um qualquer indivíduo não se deve levar demasiado a sério e conseguir, até, rir-se de si próprio. Isto pretende significar que ninguém se deve julgar acima do que é, ou aquilo que não é, não se tornar obcecado por qualquer ideia ou pretensão e ser suficientemente saudável para, descontraidamente, se amenizar com eventuais disparates que pensou ou realizou.
Isto não quer dizer que não leve nada a sério, que abdique nos princípios ou se curve a indignidades. O mesmo se pode aplicar aos países com a diferença, significativa, de que aos órgãos do Estado, não se puderem admitir, institucionalmente, algumas atitudes desculpáveis em indivíduos.
Parece que o estado Português tem estes conceitos algo baralhados o que induz, parte da sociedade, a acompanhá-los nos erros e nas atitudes.
Alguns exemplos ilustram o ponto.
Não sei que país haverá no mundo, em que responsáveis do Estado, vêm publicamente afirmar que as forças Armadas vão enviar “espiões”para um determinado teatro de operações.
Se há, não é exemplo a seguir; pois nós fizemo-lo há escassos dias e veio escarrapachado nos jornais.
Após larga controvérsia, que durou anos, o primeiro de dois novos submarinos, que se vão tornar “NRP’s”, isto é Navios da República Portuguesa, aumentados ao serviço da Armada, foi lançado à água na Alemanha. Nenhum membro do governo esteve presente e o evento passou despercebido na comunicação social. Aquilo que devia constituir uma festa e ser orgulho nacional, quase parece vergonha por um parente indesejado. Só a Marinha se porta à altura, não podendo fazer mais. Qualquer troca de seringas entre presos drogados ganha mais relevância social do que este notável aumento da capacidade militar de nação. Ou nos enganamos muito, ou a recepção dentro de poucas semanas do “Tridente” em Lisboa, vai continuar nesta maré…
Outro dia passeámos na rua principal de Beja. Esta rua, com algum favor, estende-se por uns 500 metros. No percurso contámos cerca de uma dezena de lojas chinesas. É assim no país inteiro, mas no interior nota-se mais. Nada nos move contra a comunidade chinesa mas sabe-se dos problemas económicos e financeiros por que todos passamos. Deste modo torna-se incompreensível que o Estado Português dê incentivos de vária índole para o licenciamento destes negócios. Tanto mais que os chineses integram-se pouco na sociedade portuguesa (é célebre o comentário que corre, de que nunca ninguém assistiu a um funeral de um dito cujo …); o “negócio” é apoiado pelo estado chinês e obedece a uma estratégia – extensos armazéns de produtos chineses encontram-se sediados em Badajoz, por ex., e não consta que nos concedam quaisquer reciprocidade. A extensão da “malha” é de tal forma tentacular que, entre outras coisas, pode facilmente disfarçar o maior sistema de informações que alguma vez se montou. Enfim, divagações de um tolo…
Angola. Depois de, filantropicamente, termos perdoado a dívida de todos os territórios a que levianamente concedemos a independência misturados com sentimentos de culpa “colonialistas”, sem qualquer razão de ser, e de, inclusivé, termos alienado, estupidamente, todos os nossos interesses em Cabora Bassa; insistirmos numa cooperação militar e civil que se resume em nós darmos e eles receberem (e nunca agradecem) e mais umas quantas pérolas que o fim do “ex-império” teceu, e eis que nos lançamos no mercado angolano.
Mergulhámos bem, pois é do interesse das partes, melhor dizendo, dos povos. E lá fomos de boa vontade, sempre com a amizade lusa a modelar a coisa. Esquecemo-nos, contudo, que negócios em Angola passam todos, ou quase todos, pelos eleitos do partido no Poder, com os constrangimentos que tal, por si só, acarretam - ao contrário do que se passa com o investimento angolano em Portugal.... E quando, justamente, as empresas portuguesas querem ver-se ressarcidas do investimento ou do negócio efectuado vêem as suas expectativas frustradas pois, a parte angolana … não paga!
Ao fim de uns anos arranjou-se um expediente para resolver os calotes: bancos portugueses emprestam dinheiro para as autoridades/empresas angolanas, nos pagarem o que devem…
E nós em vez de lhes acenarmos com uns mísseis (ainda chegamos para isso!), enviamos-lhes o PR, que entre sorrisos e abraços confirmou que Deus estava com os anjos.
A maior navegação de todos os tempos, assim tida a nível mundial, foi feita por um português. Estamos a falar da primeira viagem de circum-navegação do globo e de Fernão de Magalhães. Não só ele, como os 22 portugueses que o acompanharam eram dos que mais conhecimentos possuíam, a bordo. Pois para além deste notável navegador ser quase olimpicamente ignorado pela historiografia nacional, a única estátua dele existente na terra que lhe deu o berço, foi oferecida pela República do Chile…
Pior sorte tem Vasco da Gama, executor do feito, tido como maior, da História Pátria: ao que sabemos está reduzido a um busto em Sines, depois de uma tentativa frustrada de lhe erigir qualquer coisa na Vidigueira. No local aparentemente eleito para o efeito, acabou por ficar uma garrafa de vinho, sinal irrefutável de que andamos… etilizados.
E como a actual União Indiana nem pode ouvir falar em tal Gama, lá se vai a esperança que um governo da estranja tome sobre si o que há muito nos cabia a nós fazer.
Seria, esta, talvez, uma iniciativa cívica e patriótica, que colhia bem em qualquer português digno desse nome. Mas parece que não estamos para aí virados como prova a ideia posta em marcha por um grupo de quatro oficiais do quadro permanente com a idade provecta que os habilita à promoção a “avô”, e que pretendem entregar no Parlamento uma petição a fim de se reabilitar o nome de João A. Ferreira de Almeida, soldado do Corpo Expedicionário Português.
Quem era então este aparente injustiçado?
Nada mais nada menos do que o único militar condenado em tribunal militar, por crime de traição à Pátria, em 1917, na Flandres, durante a I Grande Guerra!
Qual a justificação para tal excelsa ideia, que já colocou em choro compulsivo algumas pedras da calçada? – e estamos a citar o Correio da Manhã de 21/7/10, que deu a notícia – pois a “comemorarmos o centenário da República e perante os valores de hoje, faz todo o sentido que lhe seja concedido o perdão”.
Não deixa de ser irónico: o militar morre às mãos da tal República que se quer insençar, regime que tem as mãos manchadas de sangue e que se fundou num crime de regicídio e na acção de verdadeiros terroristas políticos. E que não tem à luz da História e dos homens, uma única justificação que a desculpe.
De facto – et voilá – nós, como país, não nos podemos levar a sério e afinal a razão é simples: deixámos de ser sérios.
E isso não dá vontade nenhuma de nos rirmos.
27.07.2010
João José Brandão Ferreira
TCor/Pilav(Ref)