Editorial
Quem responde por este caos? Ninguém?
O vice-presidente da Federação Moçambicana de Transportes Rodoviários (FEMATRO) acaba de anunciar que a situação, dos transportes colectivos, no ‘Grande Maputo’, em Maputo e Matola, é “dramática”. Há muito que todos os que se interessam pelo tema sabem disso, mas só agora, finalmente, apareceu alguém com a frontalidade necessária para chamar os bois pelos seus nomes próprios e impedir que a verdade continue a ser escamoteada.
Segundo Luís Munguambe, são necessários 1.500 autocarros novos para que a oferta corresponda à procura destes serviços por uma população cada vez mais numerosa, mas não há dinheiro para que os operadores privados que prestam estes serviços os adquiram, logo solução é uma miragem.
A tarifa que é aprovada pelo governo está em vigor há mais de sete anos e “não está a render”.
Os custos de manutenção das viaturas de transporte colectivo e semi-colectivo em circulação, subiram.
De 4.000 viaturas que já houve em circulação, há hoje apenas 2.000 a operar. Cerca de metade de oferta de transporte para uma população que cresce vertiginosamente.
Os preços dos combustíveis ficaram muitos meses sem subir violando-se uma Lei específica, claramente porque o interesse do partido no poder era esse, em período eleitoral: enganar o eleitorado. Depois subiram, mas mesmo assim quando em Moçambique ainda se paga cerca de 31 meticais por litro de gasóleo, na África do Sul já está, há muito tempo, a mais de 40 meticais o litro, o que mostra bem ‘com quantos pregos andam a preparar-nos o caixão’ quando se escamoteiam as regras mais elementares de uma economia.
Em consequência da autêntica irresponsabilidade de quem nos tem vindo a governar, o colapso está aí à vista de todos para quem se atreva a contestar o que o vice-presidente da FEMATRO teve a coragem e a decência de deixar de andar a esconder aos utentes dos transportes colectivos.
O que atrás se afirma não se trata de conclusões nossas. É o quadro real no ponto de vista dos transportadores rodoviários. É a situação do lado dos operadores.
Do lado dos utentes sucede que já há milhares de pessoas que para cumprirem com as suas obrigações profissionais gastam hoje 4 horas entre as suas residências e os locais de trabalho e outro tanto para regressarem às suas casas. Contando com mais 8 a 9 horas, que devem estar nos empregos, quando descansam? Quando têm tempo para educar os filhos?
A degradação da qualidade de vida de muitas centenas de milhar de cidadãos já é uma realidade incontornável.
As empresas também já estão a ressentir-se da crise. São imensas as horas de inactividade causadas pela crise dos transportes que estão a ser pagas pelas empresas. Se os vencimentos não forem pagos em consequência dos prejuízos que os deficientes transportes estão a causar às outras empresas, a situação ainda se torna pior do que já está.
Os transportes colectivos não vão ter como se manterem se o governo não permitir uma revisão de preços, que se impõe para que não se continue a enganar os utentes, sabendo-se de antemão que não haverá melhorias nos transportes por este caminho, em que se sente hoje, perfeitamente, que nem se quer há uma política de transportes. E isso também fez questão de dizer, o vice da FEMATRO, em entrevista exclusiva ao Canalmoz e ao Canal de Moçambique.
Está claro que só aumentando os preços dos transportes poderá haver mais oferta de transporte. Mas também devem subir os salários. E se isso sucede terá de haver mais desemprego. O cinto das empresas já não pode apertar mais.
Não tarda, pelo que agora se sabe, que por causa da crise dos transportes outras crises venham em catadupa.
O preço dos combustíveis também vai ter de ser revisto. Se não forem ajustados, não vamos ter o problema dos transportes colectivos resolvido. Mas o preço dos combustíveis já não é o único problema para que os transportes funcionem a um preço mais condizente com os custos operacionais, que incluam algum interesse para que os operadores rodoviários não desistam da sua actividade.
Aos sucessivos governos que deixaram as coisas chegar a este ponto, os cidadãos têm que começar a pedir responsabilidades.
O que andaram a fazer os sucessivos ministros dos transportes, é uma pergunta que também deve ser feita a todos que antecederam o actual titular da tutela, sobre quem está a recair a ‘batata a ferver’.
De que vale ainda acreditar-se em governantes que andam no seu dia a dia mais preocupados com os seus negócios privados e a desenvolvê-los à custa das prorrogativas que os cargos públicos que exercem lhes proporcionam, se no fim de contas nos deparamos com este descalabro total?
Quando todos os problemas, a que a má governação nos conduziu, se acumularem, a ponto de nem a paciência dos cidadãos servir para se evitar o pior, o que será da capital do país e seus arredores?
Ninguém responde por toda esta trapaça governativa que nos trouxe a este ponto?
Governo que governa mesmo não deixa as coisas chegar a este caos. Está aqui a evidência das consequências de termos no governo quem anda a governar-se em vez de governar o País.
Está claro que Moçambique começa a ter de saber separar, claramente, quem governa de quem é governado. A figura do governante e do governado, do governante e do empresário, não pode ser a mesma. Este ambiente em que só se fala dos governantes metidos em negociatas dá para todos entendermos que não se pode manter. Dá nisto. Quem não tem tempo para governar deixa o País chegar a este caos.
Quem põe o guizo ao ‘pato’?
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 28.07.2010