EDITORIAL
Com a passagem do nono aniversário sobre a morte de António Siba-Siba Macuacua, não podemos deixar de manifestar a nossa profunda desilusão pela maneira como o governo moçambicano tem vindo a demonstrar a sua manifesta falta de interesse em investigar o caso até às últimas consequências, trazendo a julgamento os responsáveis por este crime.
A indiferente actuação do governo parece transmitir a mensagem de que aqueles que demonstram extraordinária coragem e empenho, trabalhando com profissionalismo em defesa dos interesses do Estado moçambicano, merecem ser vítimas de gangsters que vivem do suor do povo.
Os ensaios que foram feitos, numa clara acção para ludibriar a opinião pública nacional e internacional, e dessa forma afugentar a pressão dos parceiros estrangeiros, não passou disso, tendo por isso não sido eficaz para afastar a imagem de um governo que pela sua indiferença e esforço de não fazer nada começa a assumir-se como cúmplice.
Está se a tornar uma prática no nosso país que as autoridades nunca conseguem investigar com sucesso casos de crimes cometidos contra o Estado, incluindo o bárbaro assassinato de cidadãos. e quando cidadãos não encontram justiça no seu próprio Estado, a única alternativa que lhes resta é o recurso ao sistema internacional de justiça. Será para isso que o governo está a tentar empurrar os moçambicanos?
No caso em apreço nunca o governo moçambicano ou as suas instituições de justiça vieram a público esclarecer o estado das investigações, e isso leva a que as pessoas tenham que tirar as suas próprias conclusões, sejam estas verdadeiras ou falsas, justas ou injustas.
Nove anos são tempo suficiente para que o povo saiba das suas autoridades muito mais do que a rotineira posição de que investigações continuam ainda em curso. O que se pede não é que o governo tenha que divulgar informações que venham depois prejudicar as suas investigações. Pretende-se, isso é verdade, que demonstre com actos e palavras, que tudo está a ser feito para que o caso não venha, como tantos outros, a ser vítima de uma morte natural.
O público moçambicano tem o direito a ser informado sobre o que aconteceu naquele fatídico dia de 11 de Agosto de 2001. o governo moçambicano tem o dever de fazer com que isso aconteça. De contrário, estará a eximir-se das suas responsabilidades, e nessas circunstâncias não deverá merecer a confiança do povo. O povo elege governos em parte para que estes o protejam. De que vale um governo se não é capaz de proteger os seus cidadãos, ou se não lhes pode dar garantias de justiça quando os seus direitos são postos em causa?
SAVANA – 13.08.2010