Segundo a AIM, para evitar o pior, Zuma está a visitar algumas regiões do país, para “medir a temperatura política nas estruturas de base do ANC e procurar reforçar as simpatias nas populações locais”. No âmbito destas deslocações, Zuma já esteve no Cabo Oriental, devendo, nos próximos dias, visitar o Cabo Ocidental e as províncias de Limpopo, Mpumalanga e KwaZulu-Natal.
A fonte cita os conselheiros de Zuma a explicarem que as deslocações têm em vista o “Imvuselelo” (mobilização das massas), mas por outro lado, membros do Comité Executivo do ANC, são citados pelo jornal “Mail and Guardian”, a dizer que a visita presidencial “tem a ver com informações postas a circular na África do Sul, dando conta de uma eventual revolta contra a sua liderança no próximo encontro partidário.
A Confederação dos Sindicatos Sul-Africanos (COSATU), forte aliado do ANC, anunciou estar na posse de informações que garantem o afastamento de Zuma da liderança do ANC, na reunião de Setembro em Durban. A COSATU é também citada a negar divulgar os nomes dos dirigentes que pretendem se revoltar contra Zuma.
Face aos rumores em curso, o secretário-geral desta organização sindical, Zwelinzima Vavi, terá já exortado aos delegados a uma reunião do Sindicato dos Trabalhadores das Minas, para só falarem da pobreza e da corrupção no país e não de questões políticas.
Na mesma ocasião, O secretário-geral do Partido Comunista da África do Sul (SACP), Blade Nzimande, afirmou ter em seu poder informações segundo as quais, alguns militantes do ANC querem que Gwede Mantashe, secretário-geral do partido, seja também afastado do cargo, na reunião de Durban. Nzimande admitiu que os ataques contra Mantashe são também dirigidos a Zuma.
Segundo ele, este clima é movido por círculos da COSATU, com objectivos de tomar a liderança do partido. A COSATU desempenhou um papel crucial na eleição de Zuma no congresso do ANC, em Polokwane, em Dezembro de 2007, que afastou do poder, Thabo Mbeki.

BRAÇO DE FERRO ENTRE GOVERNO E SINDICATOS
A COSATU desafiou na noite da última terça-feira o Governo do Presidente Jacob Zuma a aceitar a exigência dos trabalhadores sobre o incremento salarial, advertindo que enquanto não houver uma saída airosa do problema, a África do Sul vai enfrentar a sua total paralisação económica a partir da próxima semana.
O desafio ocorreu pouco depois de o secretário-geral da COSATU, Zwelinzima Vavi, ter exortado os trabalhadores para intensificarem a paralisação laboral, que ontem entrou no seu sétimo dia consecutivo.
Vavi declarou que todas as organizações sindicais filiadas a COSATU devem, a partir de hoje, notificar as suas entidades que a greve continuará até que o Governo satisfaça as suas exigências.
“Se até quinta-feira (hoje) a disputa não for resolvida amigavelmente, a África do Sul estará sujeita a uma paralisação económica total”, segundo aquele dirigente sindical.
Vavi também falou dos comentários feitos pelo Governo sobre um aumento salarial na ordem de 8.5 porcento, contra os 8.6 exigidos pelos trabalhadores.
“Os 8.5 porcento que o Governo anda a propalar não foram acordados com os sindicatos. Ao que sabemos, o Governo tem estado a negociar com a Imprensa, ao invés dos trabalhadores”, sublinhou a fonte.
Entretanto, os antigos soldados e combatentes anti-apartheid na África do Sul estão a receber pedidos para que ajudem os hospitais estatais a mitigar os efeitos da greve da função pública iniciada há uma semana.
Com muitos hospitais a operar com menos da metade do pessoal, a Associação Nacional dos Veteranos Militares pediu a membros com formação médica que oferecessem os seus serviços como voluntários.
ACUSAÇÕES À PRETÓRIA
O Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Educação, Saúde e dos Aliados (NEHAWU) expressou a sua total repulsa por aquilo que classificou de “mentiras” feitas pelo Governo, ao dizer ao público ter aumentado os salários em 8.5 porcento.
De acordo com o NEHAWU, estas declarações mostram o desprezo que o Executivo de Pretória tem para com os seus cidadãos e vinca que a liderança política deste país está em crise.
“Notamos com desagrado que apesar de reiterar o seu cometimento quanto ao combate à pobreza, o Governo possui dinheiro suficiente para pagar publicidade, cuja tónica é mentir ao público”, referiu o NEHAWU.
Para além do incremento salarial, os sindicatos exigem um subsídio mensal de habitação de mil rands, mas o Governo diz que só pode oferecer sete porcento e um subsídio de 700 rands mensais.
Themba Maseko, porta-voz do Governo sul-africano, é citado pelo jornal sul-africano “Business Day”, editado em Joanesburgo, a afirmar que para além dos 7 porcento, existe ainda 1.5 porcento que os trabalhadores automaticamente irão receber logo que aceitarem a oferta, de 8.5 porcento, o que para os trabalhadores é uma mentira.
Maseko indicou que a diferença entre o que os trabalhadores exigem e a oferta do Governo é “muito” mínima.
NEHAWU anunciou, a dado momento, que vai mobilizar outras organizações sindicais sul-africanas a embarcarem, a partir de hoje, numa greve geral, como forma de se solidarizarem com o protesto, que está a causar avultados prejuízos à economia do país.
“A partir de quinta-feira (hoje) a nossa intenção é estender o protesto para outras instituições, tanto que até aqui a greve tem mobilizado trabalhadores do sector da Educação e Saúde”, concluiu o NEHAWU.
CRISE NO INKATHA INSTIGADA PELO ANC
ENTRETANTO, o líder da Frente da Liberdade Inkatha (IFP), o príncipe zulu, Mangosuthu Buthelezi, acusou o ANC de responsabilidades pela crise que afecta o seu partido, que desde as últimas eleições gerais, se reduziu praticamente a um elefante branco dentro do mosaíco político sul-africano. Falando no fim-de-semana em Ulundi, no KwaZulu-Natal, numa reunião do Conselho Nacional do IFP, Buthelezi disse não existirem dúvidas de o ANC estar a fomentar e instigar problemas nas fileiras da sua formação política.
O antigo ministro do Interior afirmou que o Inkatha tem conhecimento da existência de elementos no seu seio que estão ao serviço do ANC e que, segundo Buthelezi, estão a desestabilizar o Inkatha. Acrescentou que a continua interferência do ANC nas questões internas do Inkatha compromete a conclusão de um acordo permanente de paz entre ambas partes, advertindo que uma vez que os problemas no seio do Inkatha assumem contornos alarmantes, então haverá violência no país. O Inkatha adiou por várias vezes a sua conferência electiva, devido a lutas internas pela liderança do partido.
O ANC distanciou-se já das alegações do Inkatha e considerou-as de infundadas.