GENESMACUA de: Sebastião Cardoso
Eu quero os meus heróis. Gungunhana, era neto de Soshangane, um general zulu que se revoltou contra o Imperador Tchaka.
Derrotado por este, em 1819, foge com o seu exército para Moçambique, subjugando, submetendo e absorvendo numerosos povos especialmente na área costeira desde o Limpopo ate ao Save, fundando, assim, o Império de Gaza. Humilhou, varias vezes, os portugueses, conquistando Lourenço Marques e Inhambane. A questão aqui é: Soshangane pode ser considerado uma figura da nossa Historia com que papel? Invasor zulu ou fundador machangane? Morre em 1858, sucedendo-lhe Muzila.
Vou saltar Muzila e escrever um pouco sobre o neto, Gungunhana, cuja fama ultrapassou fronteiras.
Após a morte de seu pai, em 1884, não sendo ele o legitimo herdeiro, assassina o seu irmão e obriga os outros dois a fugirem para o exílio.
Um fratricida no poder...arrepiante mas, nenhuma novidade na História do mundo.
Iniciam-se, 10 anos de terror, especialmente entre as populações. Até hoje, estranhamente, até os maronga e matswa partilham ressentimentos e, dificilmente, se identificam com os machanganes. Porque com as duas potencias estrangeiras interessadas na região, Gungu ia fazendo acordos, que nunca cumpria. Os portugueses davam-lhe aguardente e os ingleses libras de ouro.
Existem registos de algumas batalhas contra os portugueses, sempre com o heróico povo maronga na linha da frente, mas o balanço é francamente negativo, contrariamente ao seu avô. Chegou a ser nomeado Coronel do exercito português, recebeu a farda e uma bandeira!!! Pouco tempo depois, queimou estes dois símbolos de submissão, invocando que passavam doenças venéreas as suas mulheres.
Hilariante.
Jogando com um pau de dois bicos, ora juntava-se aos portugueses, ora juntava-se aos ingleses e manteve-se no poder até 1895.
E' abandonado pelos ingleses, cansados das suas qualidades camaleonicas e as atitudes de alcoólatra teem como consequência um exército completamente fragmentado, esfomeado e desmotivado.
Chegando esta oportunidade, os portugueses, comandados por Mouzinho de
Albuquerque ( o que levou tareia em Nampula) marcham em sua perseguição e
capturam-no à mão, em Chaimite, local sagrado onde seu avô estava sepultado.
É exibido em Lourenço Marques como troféu às populações, num acto politico de
vitoria.
Dão-lhe o estatuto de prisioneiro politico, enviam-no para Lisboa com as suas 7 mulheres e um cozinheiro. Ali, é, novamente exibido em público com a mesma finalidade política. O Leão de Gaza, está horrorizado. Chora, manda-se para o chão, promete o que já não tem: ouro, marfim, escravos, mulheres e terra em troca da sua liberdade. Nesta altura, encontrava-se debilitado e foi tratado num hospital de Belém com regalias de oficial.
Não sabia que o seu futuro, até nem seria muito mau.
É enviado, em Junho de 1896, para as paradisíacas ilhas dos Açores, sem as 7
mulheres, devido a intolerância pela poligamia, mas com o seu cozinheiro e dois companheiros que sempre se portaram com dignidade. Com ordens bastante terminantes de ser absolutamente respeitado, vive com uma reforma de oficial, em crescente liberdade, alimenta-se a base de carnes e embriaga-se regularmente com vinhos do Porto e da Madeira, visita semanalmente o bordel da cidade, caca coelhos no monte Brasil e como hobby faz cestos de palha que vende a população local. Passados 10 anos, em 1906, morre alcoolizado, alfabetizado e baptizado com o nome de Roberto Frederico Gungunhana.
Se fosse possível, hoje, teria a curiosidade de lhe perguntar:
- Beto, o que gostaste mais? Os 10 anos de Leão de Gaza ou os 10 anos nos Açores?
A saga de Gungunhana ainda envolve um último acto. Num acordo entre Machel e
Ramalho Eanes, uma urna contendo areia do local onde foi sepultado, com o peso de 225 kgs é trasladada para Maputo.
Em Junho de 1985, 79 anos após a sua morte, o Leão de Gaza ou Roberto Frederico Gungunhana, não sei, é recebido em Maputo com honrosas cerimonias de herói nacional e consegue, finalmente, a proeza de entrar na Fortaleza da ex. Lourenço Marques, tendo como companhia a estátua do homem que o apanhou à mão, Mouzinho Albuquerque!!!
Eu quero os meus heróis.
Há sete instituições de ensino superior em Nampula!!! Não há nenhum departamento que pesquise e investigue História?!
Por favor, dêem-me os meus heróis.
WAMPHULA FAX – 25.08.2010
NOTA:
Porque considerar Gungunhana herói moçambicano? Não há uma só palavra dele que ilustre, defina ou defenda o conceito de Moçambique (país ou nação). Estrangeiro, descendente de 2ª geração de conquistadores (como os portugueses), mas, de longe, com muitos mais massacres de populações locais que os imputados aos portugueses. Aliás, se Gungunhana vitorioso, aí acabava o Moçambique que hoje existe e conhecemos.
Veja http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/gungunhana_imperador_de_gaza/#tp
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE